Depois de segurar os investimentos por três anos para reforçar a teoria do caos, o governador Paulo Hartung entrou no sambódromo este ano distribuindo agrados, na tentativa de chegar ao final do desfile como o protagonista da festa do samba capixaba. O que ele não contava, porém, era com a recepção do público à escola concorrente, puxada pelo seu antecessor, Renato Casagrande (PSB). Hartung, com a máquina na mão, coloca gás nos demais integrantes da escola palaciana para frear o avanço do socialista na passarela. Já Casagrande, no passinho pequeno, vai delimitando seu território no Estado. Quem levará, no final, o título de Rei do Samba?
Samba-enredo
Ao contrário dos anos anteriores, Hartung finalmente mudou a nota do samba. E mudou muito. A letra saiu do discurso melancólico de crise e contas arrasadas, para um cenário maravilhoso de oportunidades. A ideia era ganhar ponto com os jurados, mas a conotação eleitoral falou mais alto, e o novo samba-enredo ainda não emplacou.
Abre-alas
Neste ano, a G.R.E.S Espírito Santo resolveu contemplar, em seu carro alegórico principal, um tema que sempre aparece no desfile, as Escolas Vivas. É que o projeto de vitrine do governo ganhou uma dimensão ainda maior nos últimos meses e está em expansão no Estado. Faz muito estrago pelo interior, mantendo-se vivo assim, carregado de maquiagem.
Ala dos Baianos
Depois de articular à vontade para levar a presidência do PSDB capixaba, deixando o partido na linha do governador, e de assumir o comando do Estado por 11 vezes, César Colnago cresceu de tamanho e passou a visitar os municípios com pose de candidato à sucessão. Mas perdeu a passada do desfile e corre o risco de rodar, rodar, rodar, sem conseguir executar o tão desejado projeto. O pé na avenida para Colnago cair, tudo indica, virá do próprio Hartung.
Fantasia
Tema que não poderia ficar de fora do desfile, é a polêmica e criticada reforma da Previdência, em debate no Congresso Nacional. Assim como nos debates da reforma Trabalhista, parlamentares capixabas são acompanhados de perto pelos movimentos sociais. Dois já têm fantasia de “traidores” garantida, os deputados federais Lelo Coimbra (PMDB) e Marcus Vicente (PP), que defendem a proposta. Mais alguém disposto a completar essa ala?
Comissão de Frente
Embora não falte secretário pedindo benção a Hartung para chegar ao final do desfile como destaque, os escalados para a Comissão de Frente ainda são poucos. Número um, disparado, o secretário de Agricultura, Octaciano Neto. Chegando junto, Vandinho Leite (PSDB) e Roberto Carneiro (PDT). Todos com boladas de recursos para consolidar imagem pelo Estado e afinados no discurso de “oportunidades e canteiros de obras” de Hartung.
Velha Guarda
Experiente político do Estado, o ex-governador Max Mauro sacudiu a avenida ao incentivar a candidatura do filho, prefeito de Vila Velha Max Filho (PSDB), ao Palácio Anchieta. Em campo para articulações eleitorais, Max pai conversa com integrantes do bloco de oposição a Hartung. Pode vir nova fórmula por aí.
Harmonia
Alguns integrantes da escola iniciaram os ensaios muito bem, mas a situação desandou, o que tirou pontos desse quesito. Ficaram desalinhadas as alas da senadora Rose de Freitas (PMDB) e do ex-governador Renato Casagrande (PSB). Pareciam engatar uma aliança e tanto, mas esbarraram nos mesmos interesses. Sobrou buraco na avenida.
Bateria
O barulho feito pelas comunidades do interior do Estado prejudicadas pela política educacional do governo Hartung, com denúncias e protestos, dão um show à parte da avenida. Organizada e com engajamento, a mobilização é mais do que necessária e serve de exemplo.
Conjunto
Situado também no lado oposto do governo, o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), segue como aliado de primeira hora do ex-governador Casagrande. No seu conhecido desfile particular, o Sambão do Povo, dividiu os holofotes com ele e até a entrega da chave ao Rei Momo. Para um gestor como Luciano, que adora flash e palco, o gesto diz muito.
Mestre sala e porta bandeira
Com bandeiras totalmente diferentes, os homens dos casais-destaque da ala entendem de carnaval e conduzem suas mulheres há anos. Theodorico Ferraço e Norma Ayub, ambos do DEM, marcaram posição e estão oficialmente rompidos com o governador, mas em intensas articulações políticas. Já Magno Malta e Lauriete, do PR, percorrem a passarela sozinhos, confiando no gosto do público por suas bandeiras polêmicas e conservadoras.
Evolução
Mais uma vez, garante pontos para a escola o desempenho de alguns representantes do legislativo. Sergio Majeski (PSDB), na Assembleia, com sua oposição consolidada, e agora em movimentação para alçar voos mais altos, e Roberto Martins (PTB), na Câmara de Vitória, com posições contundentes que são um verdadeiro calo no sapato da gestão de Luciano Rezende.