Em meados de janeiro desse ano, recebi uma mensagem pelas redes sociais a respeito de uma área verde em Santa Teresa, repleta de exuberante vida silvestre, que está sendo ameaçada pela eminência de condomínios imobiliários. Em seguida fui visitar um paraíso no Nordeste brasileiro.. chegando lá, me deparei com o mesmo tipo de problema: condomínios ameaçando a rica biodiversidade local.
Esse é um exemplo da famosa tríplice brasileira: ineficiência de leis, irresponsabilidade gestora e ignorância popular.
A primeira falha neste tipo de empreendimento se relaciona ao descumprimento das leis de proteção florestal, como o artigo 12 da Lei Federal nº 12.428/2006. Essa é uma das leis ambientais mais ignoradas do país, e estabelece que “novos empreendimentos que impliquem o corte ou a supressão de vegetação do Bioma Mata Atlântica deverão ser imantados preferencialmente em áreas já substancialmente alteradas ou degradadas”.
A segunda falha se relaciona à gestão municipal. É surpreendente que em Santa Teresa, cidade internacionalmente conhecida pela sua biodiversidade, o meio ambiente esteja tão vulnerável à vontade político-partidária. Por exemplo, o policiamento ambiental foi implementado no município por apenas alguns mandatos. Faltam medidas concretas que transcendam candidaturas, como criação de Áreas de Proteção Ambiental (APA). A APA constitui uma delimitação regional de propriedades públicas ou privadas com alta relevância biológica, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Já a terceira falha que leva ao processo de degradação ambiental está relacionada à ignorância de alguns cidadãos. Eu, como teresense, conheço as histórias dos imigrantes, e como precisaram desbravar a mata para colonizar…mas em pleno século XXI, destruir o ambiente natural que tanto valorizamos é uma estupidez incontestável. Não é para menos que o psicólogo Howard Gardner descreve a “inteligência naturalista” como uma das oito inteligências do ser humano. Para Gardner, o ser humano inteligente não desenvolve apenas as capacidades linguísticas, matemáticas ou musicais, mas também a habilidade de estar em sintonia com a natureza, explorar seu ambiente, e aprender mais sobre outras espécies.
Plástico no mar, bituca de cigarro na rua, fogo na mata, esgoto nos rios, caça de animais silvestres, chaminés poluidoras, desmatamento, resorts em falésias…tudo uma só burrice, burrice naturalista!