Foto: Leonardo Sá
A ideia de construir uma biblioteca comunitária rondava a cabeça de um grupo de moradores de Maria Ortiz, em Vitória, desde 2010. “Não tínhamos espaço. Ou achávamos que não tínhamos espaço”, conta a professora Ester Vaz, uma das entusiastas do projeto. No ano passado, a varanda de sua casa, onde sempre se reuniam as crianças para atividades de lazer, acabou virando a sede desse projeto, nomeado Mangueoteca.
“A gente tem uma ligação forte com o mangue. Em nossa infância íamos para lá brincar, tomar banho. Mas hoje vemos as crianças se distanciando do mangue, não gostando, tendo nojo. Até não chamando mais de mangue e sim de orla, depois das obras da prefeitura”, explica Ester, que mora a vida inteira no bairro, na pequena varanda em reformas, a poucas quadras do manguezal.
Inaugurada com um acervo de cerca de 500 livros, a Mangueoteca já perdeu as contas da quantidade de livros disponíveis, devido às novas doações que vão sendo deixadas. Para iniciar o projeto, as próprias crianças do bairro correram atrás, passando de porta em porta para pedir livros para a biblioteca.
“Há três crianças que participam ativamente, elas vêm nas reuniões e decidimos todos juntos as atividades que vão ser realizadas”. O grupo procura promover mensalmente um evento cultural em frente à Mangueoteca, com atividades como cineclube, oficinas, brincadeiras e outras. O espaço abre para consulta e empréstimos todos os domingos, de 10h às 19h. “Durante a semana, a rua é local de passagem para chegar à escola, creche, posto de saúde, então por vezes alguém chama e pega ou devolve um livro”. Tudo anotado no caderninho, mas com o espírito comunitário e sem mais burocracia.
O acervo infantil é forte, mas também há muitas obras de literatura brasileira, best-sellers, histórias adolescentes, livros de diversas religiões e em breve uma seção de livros didáticos para apoiar estudantes do cursinho popular que funciona no bairro.
Nesta semana, o espaço termina as obras para ganhar uma nova cara e expandir seu tamanho. Isso está sendo feito em mutirão, com apoio de moradores e um grupo de estudantes de arquitetura vinculados aos projeto de extensão da Universidade Federal do Estado (Ufes), a Célula EMAU. “Usamos materiais reciclados e que não teriam muito custo para adquirir, como caixotes de feira, palets, pneus”, explica Erivelton Careta Ferreira, estudante de Arquitetura.
O local foi pintado, ganhou novas prateleiras, decoração especial e passará a ocupar, além da varanda, parte do ambiente da cozinha da casa. No novo espaço, promete Ester, haverá um graffiti sugestivo: um caranguejo com traços psicodélicos.
Para quem quiser visitar ou levar doações, a Mangueoteca abre aos domingos e está localizada na Rua Professora Ilma Anechini Zumack, próximo ao posto de saúde de Maria Ortiz. Mais informações na página do espaço.