Fotos: Marileia Tenório
Nem a chuva registrada em Vitória nessa quinta-feira atrapalhou o ato público de 8 de março na capital. Mulheres do campo e da cidade e apoiadores saíram da Pracinha de Jucutuquara marchando até o Palácio Anchieta, com uma carta-manifesto em mãos a ser entregue ao governador Paulo Hartung.
“Pode chover, pode molhar, a mulherada 'tá' na rua pra lutar”, era a palavra de ordem entre o incômodo e o refresco trazidos pelas gotas de chuva que acompanharam o percurso na Avenida Vitória e no Centro da cidade, feito ao som da batucada feminista.
“Estamos somando a um movimento que não é só local, é internacional, para denunciar as condições de vida das mulheres que são precárias. Nós ganhamos menos que os homens, temos condições de trabalho mais precarizadas, os índices de violência no Espírito Santo são altíssimos, principalmente contra as mulheres negras. Estamos aqui para denunciar isso”, afirmou Emilly Marques Tenorio, do Fórum de Mulheres do Espírito Santo. Ela lembrou também da luta contra as reformas Trabalhista e da Previdência, promovidas pelo governo Temer, e a favor dos direitos sexuais e reprodutivos ameaçados por projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional.
Debaixo do guarda-chuva, Ariane Meireles, integrante do grupo Griôs da Dança – Mulheres Negras Enfrentando o Racismo, lembrou a condição das mulheres negras brasileiras, que considera como resquício do colonialismo, do racismo e da escravização. “Qualquer pesquisa mais séria e aprofundada coloca com muita nitidez que ocupamos as piores condições de trabalho, temos os piores tratamentos médicos, não somos valorizadas na educação, e por aí vai…”.
Ariane, que também faz parte do coletivo Santa Sapataria de Mulheres Lésbicas e Bissexuais, destacou que a data e o ato são importantes para a população de mulheres lésbicas e bissexuais. “Enquanto estivemos escondidas em nossas casas com medo de falar, não haverá políticas públicas para nós. Estar na rua hoje significa visibilidade e queremos estar nas ruas todos os dias”.
Mulheres estrangeiras residentes no Espírito Santo também estiveram presentes, reforçando ainda mais o sentido internacional da luta e da data. “Sou argentina e nesse momento as companheiras argentinas também estão ocupando as ruas em todo país. A luta é latino-americana, é internacional, e estamos nas ruas”, contou Antonella Barone, que participa aqui do Fórum de Mulheres e em seu país contribui com a Red Mariposas Naranjas. Ela e outras manifestantes traziam no pescoço o lenço verde da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito da Argentina, de que também participa. “Exigimos o direito à educação sexual para poder decidir, aos anticoncepcionais para não abortar e ao aborto para não morrer”.
Além das questões mencionadas, a carta-manifesto ainda lembrou das PEC 215 que ameaça indígenas e quilombolas, a violência do agronegócio contra as camponesas, o modelo de segurança que investe no aparelho repressivo, citando também os mais de 200 assassinatos não esclarecidos durante a greve da Polícia Militar no ano passado.
Por fim, com chuva ou sol, fica o eco de outra das palavras de ordem: “Companheira me ajude, eu não posso andar só. Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”.