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Ato em Conceição da Barra encerra Jornada de Luta das Mulheres do MST no Estado

Encerrando a programação capixaba da Jornada Internacional de Luta das Mulheres, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Espírito Santo (MST/ES) realizou nesta terça-feira (20) um ato na BR-101, na altura do Acampamento Fidel Castro, no distrito de Braço do Rio, município de Conceição da Barra, norte do Estado.

O ato teve início às 5h30, com o trancamento da rodovia por meio de queima de pneus. Cerca de 800 mulheres ocuparam os dois lados da pista, empunhando bandeiras e cartazes e com palavras de ordem referentes à violência contra a mulher nas suas diversas faces, em especial, os impactos nefastos do agronegócio sobre a vida e a dignidade das mulheres.

Ao longo da manhã, houve momentos de reabertura da BR, quando as manifestantes se reuniram dentro do Acampamento para atividades de formação política e de estudos. “Para nós foi um ato pacífico. Simplemente trancamos a BR, para trazer esse debate pra sociedade”, conta a assistente social Eliandra Rosa Fernandes, dirigente do MST/ES na região.

Este foi o terceiro ato das mulheres do MST/ES em alusão à Jornada Internacional de Luta. O primeiro aconteceu no Rio de Janeiro, juntamente com as mulheres da região Sudeste, numa ação contra a Rede Globo, denunciando o golpe. A segunda atividade foi realizada no dia oito, em Colatina, juntamente com a Via Campesina. A Jornada internacional aconteceu este ano no Brasil, do dia seis ao dia 20 de março.

O objetivo é denunciar o golpe contra a democracia no país, a retirada dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, a violência contra as mulheres e os entraves à Reforma Agrária Popular – estas, algumas das faces da violência contra a mulher no Brasil, enfatiza Eliandra. “Não é o ‘dia nacional em homenagem’, mas sim ‘a jornada internacional de luta dos direitos das mulheres’”, reafirma.

Eliandra explica que Conceição da Barra e o acampamento Fidel Castro são muito emblemáticos para a luta das mulheres contra o agronegócio no Espírito Santo. O Acampamento foi uma iniciativa de ex-trabalhadores da Disa, empresa alcooleira que decretou falência e abandonou seus empregados, sem direitos trabalhistas.

Moradores de um município com elevados índices relacionados à pobreza, onde “quem não trabalha nos canaviais ou na prefeitura, é boia-fria ou desempregado”, resume a assistente social, os ex-empregados decidiram ocupar uma área de propriedade da Disa, exigindo a Reforma Agrária.

A ocupação aconteceu em outubro de 2016. Após várias suspensões de reintegração de posse, a expulsão violenta das cerca de 200 famílias aconteceu em julho de 2017, com a destruição das lavouras e barracos. Em fevereiro de 2018, os trabalhadores retomaram o Acampamento, onde aguardam pelo assentamento por parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

As regiões norte e noroeste do Estado se caracterizam pelo latifúndio ocupado por eucaliptais e canaviais de propriedade de grandes empresas multinacionais e de famílias das antigas oligarquias locais, que sustentam um sistema político-econômico e cultural baseado na violência e cooptação, que criminaliza e exclui populações tradicionais, como quilombolas e camponeses, além dos trabalhadores sem-terra.

Há muitas histórias de feminicídio na região, conta Eliandra. E também de sofrimento das mulheres, quando seus maridos e filhos são mortos, “morrendo pela bala do latifúndio”, diz. “Várias mulheres também foram mortas. Desde 1985, quando o MST começou no Espírito Santo, muitas mulheres tiveram que sair do Estado por conta da perseguição dos latifundiários e dos seus pistoleiros”, relata.

A região também foi escolhida para fechar a programação capixaba, enfatiza, para desmascarar essa tentativa de afirmação de que o Espírito Santo não tem latifúndio. “Isso não é verdade. São cerca de duas mil famílias acampadas hoje no Espírito Santo”.  

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