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Sociedade civil realiza neste domingo a 28ª Descida Ecológica do Rio Jucu

Com o tema “A ponte caiu, chega de esperar!”, a Associação Barrense de Canoagem (ABC) realiza neste domingo (25), a 28ª Descida Ecológica do Rio Jucu, em celebração a essa fonte de vida que é a água – em alusão ao Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março – e em atenção para o descaso do poder público com o rio que abastece mais de um milhão de pessoas na Grande Vitória.

A concentração será a partir das 7h na Praça da Barra do Jucu, de onde os participantes seguirão de ônibus e suas embarcações em caminhões, até Jucuruaba, em Viana, onde se inicia a navegação até a foz, retornando ao balneário da Barra do Jucu, em Vila Velha.

Nessa 28ª edição da Descida, completa-se ainda 30 anos de mobilização da sociedade em defesa do Rio Jucu. O evento foi interrompido durante dois anos seguidos, 2016 e 2017, devido à poluição e à grave seca, que impossibilitou qualquer tipo de navegação. A ABC organizou, no entanto, um funeral simbólico do Rio Jucu e um abraço, ironizando a campanha eleitoral do governador Paulo Hartung.

A ABC e as descidas ecológicas foram fundamentais para a criação do antigo Consórcio dos Rios Santa Maria e Jucu e atual Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Jucu, instância – teoricamente – soberana para a tomada de decisões relativas ao Rio e às comunidades que dele vivem, no caso, as populações de cinco municípios: Domingos Martins, Marechal Floriano, Viana, Cariacica e Vila Velha.

Passados dez anos da criação do Comitê, no entanto, a representatividade da sociedade civil nas decisões é fictícia, denuncia o presidente da ABC, Eduardo Pignaton, o Dunga, criticando, especialmente, as dificuldades criadas pelo governador Paulo Hartung para a participação das entidades não governamentais.

O Comitê é tripartite, sendo um terço das cadeiras dedicadas ao Poder Público, um terço aos usuários e um terço à sociedade civil. A sociedade civil, no entanto, ressalta Dunga, é o único setor que não tem autonomia para eleger seus representantes.

As entidades precisam se cadastrar no Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e realizarem uma assembleia coordenada pelos técnicos do órgão para eleger seus representantes.

O resultado, explica o ambientalista, é que apenas as entidades vinculadas às grandes empresas conseguem se encaixar nos requisitos do Iema e ocupar as cadeiras do Comitê. “Imagina se as associação de pescadores, os time de futebol, as ONGs pequenas, do interior … se elas vão levantar toda a papelada para se cadastrar, vir até o Iema pra fazer uma assembleia! É o único setor que se exige isso. As empresas escolhem sozinhas seus representantes, o poder público também”, protesta o presidente da ABC. “Dez anos de um Comitê que não serve pra nada!”, brada.

A ponte continua caída

Sobre o tema deste ano, Dunga lembra que a ponte da Madalena caiu há cerca de cem dias e ainda não foi recuperada. A reivindicação da comunidade é que haja a implementação do Parque Natural Municipal de Jacarenema, criado em 2003, pelo então – e atual – prefeito Max Filho. Já possui gerente, conselho gestor, Plano de Manejo e verba de compensação ambiental da ArcelorMittal Tubarão e Vale – atualmente em torno de R$ 10 milhões – para regularização fundiária, mas não foi implementado de fato. “Tem que fazer a regularização fundiária, desapropriar”, acentua o ambientalista.

Rio está assoreado

Dunga alerta ainda para a intenção do governador Paulo Hartung em aumentar em 80 centímetros a altura do dique de Caçaroca, que passa entre o trevo da Darly Santos e o bairro Caçaroca, em Cariacica, num total de 3,5 km. “É uma medida que coloca em risco o lado de cá de Vila Velha”, alerta, referindo-se à porção sudeste do município, onde está a foz do Rio Jucu.

Quando o dique foi construído, em 1959, conta, só havia moradores em Vila Velha do outro lado do Rio. Hoje, tem 70 mil pessoas morando em Terra Vermelha e região. “Na enchente de 2013, Terra Vermelha ficou com mais de um metro de água”, conta.

“Por que vão aumentar o dique?”, questiona Dunga, já respondendo: o rio está assoreado, “se houver um aumento da vazão, a água pode passar por cima do dique, por isso vão aumentar”, responde.

A calha – distância entre a margem e o fundo do rio – do Jucu, explica, que já foi de 12 metros, hoje não tem nem meio metro. “Não tem mais calha, só tem areia!”. Na maré seca, conta, a Barra do Jucu assusta, tamanha quantidade de areia.

A água do rio não consegue mais lavar a areia do fundo, explica o ambientalista, mesmo com o aumento das chuvas.  “Já tá muito misturada com gordura e sabão, porque a maioria dos esgotos não são tratados em nenhum dos municípios. E esses saponáceos, misturados com areia, viram um aglomerado, quase uma pedra”, descreve.

Resultado: boca da barra constantemente fechada, estagnando uma água muito contaminada. O que precisa ser feito, sugere, é abrir a boca da barra definitivamente, com um píer. “O rio está sem força”, lamenta.

Grande represa no Rio Jucu é um anacronismo

O grave estado de assoreamento do rio e a fictícia participação popular em seu Comitê explicam como o governo estadual tem conseguido levar adiante o projeto de uma grande barragem no Jucu, no município de Domingos Martins.

Grandes barragens como a pretendida por Paulo Hartung, semelhante à do Rio Santa Maria, na região do Rio Bonito, são anacrônicas. “É o que tem-se falado no Fórum Mundial da Água, hoje em Brasília”, reporta. Grandes barragens matam os rios!”, indigna-se.

Um morro florestado absorve 60% da água da chuva, informa Dunga, enquanto um morro desmatado, com pasto, só 6%. “O programa emergencial do Espírito Santo deveria ser o de construir caixas secas”, reivindica. 

Buracos feitos entre os barrancos e as estradas vicinais, as caixas secas podem armazenar a água da chuva, evitando que elas escoram dos morros desflorestando, aumentado a erosão do solo, provocando voçorocas nas estradas e inundações nas imediações, além de intensificar o assoreamento dos córregos e rios, fazendo perder toda a água que deveria ser reservada no lençol freático sob os solos com cobertura florestal.

Além de uma medida emergencial, as caixas secas também viabilizariam o trabalho, de médio e longo prazo, de reflorestamento das Áreas de Preservação Permanente (APPs), incluindo a mata ciliar. “Só se refloresta com água. Tem que fazer caixas secas na região serrana. E centenas de milhares de microbarragens, ao longo do rio”, indica, mencionando os “tabuleiros” da China.

“A água em grandes represas fica podre”, reclama, citando a represa do Rio Bonito, onde o tom verde-escuro característico denuncia a presença expressiva de bactéria poluentes, que mesmo após morrerem, com a aplicação de produtos pela Companhia Espirito Santense de Saneamento (Cesan), alerta o ambientalista, continuam a contaminar a água, com seus restos mortais.

“E quando tem muito particulado, as Estações de Tratamento de Água não dão conta de limpar”, diz. “Por isso que de vez em quando a Cesan precisa liberar o lodo do Rio Bonito, que cai todo na Baía de Vitória”, conta. 

Caso a represa do Rio Jucu realmente seja construída, Dunga prevê que a parte baixa do rio vai secar. “E vai ficar praticamente só esgoto!”. É preciso elaborar um plano de reserva hídrica para a Bacia do Rio Jucu, acentua. E isso se fará de forma eficiente com caixas secas, muitas microbarragens e nenhuma grande barragem.

Para mais informações sobre a 28ª Descida Ecológica do Jucu, visite a fanpage do evento

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