A intenção é caminhar até o Palácio Anchieta, quando pretendem entregar uma pauta de reivindicações ao chefe do Estado capixaba. Com um histórico de rejeição ao diálogo com os movimentos sociais, Paulo Hartung deixa uma incógnita sobre como se dará o encerramento deste Ato.
O grito de luta que a ser entoado durante o Ato é “Basta! Parem de nos matar”. No percurso, os manifestantes levarão cartazes, faixas, cruzes e bandeiras. Haverá homenagens a Ruan e Damião, com apresentação de capoeira, bateria de escola de samba e passistas.
Familiares, amigos, moradores e representantes das organizações sociais se pronunciarão no carro de som.
“Não podemos admitir que o sangue da juventude negra continue escorrendo por escadarias, becos, ruas e praças e nada seja feito para cessar o projeto genocida em curso”, afirmam as entidades, em chamamentos para o Ato nas redes sociais.
As ações foram decididas durante uma plenária realizada nessa segunda-feira (26), na Casa do Cidadão, em Itararé, com a participação de diversas organizações, lideranças de movimentos sociais e de comunidades, com objetivo de discutir o enfrentamento ao Extermínio da Juventude Negra e estratégias para cobrar a apuração das execuções de Ruan e Damião Reis, ocorridas no Morro da Piedade na madrugada do último domingo (25).
As declarações da Polícia Civil até agora sobre as investigações “não são convincentes”, avalia Lula Rocha, coordenador da entidade Círculo Palmarino/ES e ex-presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH), referindo-se às hipóteses levantadas envolvendo vingança e acerto de contas do tráfico.
“Mais uma vez o pano de fundo é o racismo”, diz, enunciando questões históricas e atuais, ausência de direitos e falta de equidade na presença do Estado, quando comparados os serviços e investimentos públicos feitos nos territórios da população negra e pobre e nas zonas nobres e de população majoritariamente branca.
“Escolas, atendimentos de saúde, políticas de cultura e lazer … nem iluminação ou coleta de lixo adequadas!”, protesta Lula. Um abismo muito grande entre os dois mundos, acentua Lula, que repercute na Justiça, que também faz tratamentos bem distintos. “Eles mensuram nossas vidas, dão valores diferentes”, lamenta.
Direitos humanos
Como defensor dos direitos humanos, Lula destaca ainda o rastro de vazios deixado pela Secretaria Estadual de Direitos Humanos durante a gestão Paulo Hartung. Ocupada por Julio Pompeu, a Secretaria não possui políticas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, não havendo “sequer orçamento”, informa.
Situação semelhante com a defesa dos direitos das mulheres, da população LGBT e da Juventude, entre outros setores da sociedade, gerando um contexto que fragiliza gravemente a segurança dos defensores de direitos humanos no Estado. “A Secretaria presta um desserviço para a defesa dos direitos humanos. O que ela faz, não gera impacto positivo nenhum na vida do povo”, afirma o coordenador do Círculo Palmerino/ES.
Os investimentos, reclama o ex-presidente do CEDH, são direcionados para o programa Ocupação Social, que “é mais uma estratégia de marketing do que medida que traz resultados concretos”, desaprova Lula.
“O Estado só chega de forma efetiva nessas regiões, com seu aparato repressivo”, denuncia. “É óbvio que precisa de uma ação para enfrentar tráfico de drogas, mas precisa de políticas públicas e ações efetivas pra garantir os direitos básicos da população”, reclama. “Investimento igualitário! Que os investimentos em Camburi, por exemplo, fossem os mesmos que nos morros de Vitória”, argumenta.
Disposição para a luta
No ato desta quarta-feira (28), as entidades convidam os interessados a participar “vestidas/os de preto e trazendo sua indignação, voz, cartaz, vela, faixa, apito, bandeira, batuque e muita disposição para luta”.
Também foi criado um espaço permanente de luta contra o extermínio da juventude negra no Espírito Santo. A próxima reunião está marcada para o dia quatro de abril.