O Assentamento Florestan Fernandes, localizado em Guaçuí, viveu um clima de celebração de conquistas das lutas camponesas no último final de semana. Durante a comemoração do aniversário de 21 anos da Regional Sul do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Espírito Santo, foi inaugurada simbolicamente uma agroindústria que vai produzir polpa de frutas.
Inicialmente, serão produzidos cinco sabores de polpa: abacaxi, acerola, manga maracujá e goiaba. Serão empregadas num primeiro momento oito pessoas, que trabalharão dois ou três dias por semana, mantendo também o labor no campo. Num primeiro momento, a expectativa é de processar entre 100 e 150 quilos de fruta por dia trabalhado e ir ampliando gradativamente conforme a produção e demanda.
A iniciativa parte do grupo de mulheres As Camponesas, que já realiza a produção de doces, geléias e licores. Pretende contribuir para o fortalecimento da organização e participação feminina e também para superar a dependência da produção de leite e café na região. “A implantação desta agroindústira representa a esperança de organizar a produção de frutas nos assentamentos do sul. São culturas diversas, que precisam de menos água e são menos agressivas com o meio ambiente”, explica Nelci Sanches, integrante do MST e do grupo de mulheres. “Além disso, o suco é mais saudável, principalmente com produção agroecológica. Nos preocupamos em oferecer produtos de qualidade e que façam bem à saúde”, disse ela.
Um primeiro passo para destinar a produção pode ser para as merendas escolares, cujos trâmites estão sendo feitos. A proposta é envolver não só os assentados da região mas também os pequenos agricultores em geral. Nelci conta que o anúncio da agroindústria já teve efeito entre os assentados. “Um camarada que achava que a vaca era o melhor negócio, tinha construído uma queijeira, agora já está plantando maracujá para a agroindústrica. Para o pequeno produtor é difícil competir com os mega produtores de café e gado, temos que buscar outras estratégias”.
O projeto foi apoiado pelo Fundo Social de Apoio à Agricultura Familiar (Funsaf), construído a partir de uma articulação do MST com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Seguindo o que foi feito em outros estados, um acordo com o governo do Espírito Santo, permitiu que ao recurso federal fosse somado mesmo valor de investimento estadual. Porém, Daniel Mancio, dirigente do setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST, critica a lentidão do processo e a redução do investimento pelo governo estadual. “Desde 2016 conseguimos fazer apenas um edital. Dos sete projetos contemplados, apenas três são realmente estruturantes conforme a proposta inicial. Este é o primeiro a ser inaugurado, os outros dois ainda estão agarrados na burocracia. Mas comemoramos essa primeira agroindústria como uma conquista do movimento”.
No evento de inauguração e aniversário aconteceram diversas atividades como almoço comunitário, feira de produtos da reforma agrária, análise de conjuntura, debate, homenagens, shows de forró, recreação infantil e sorteios de prêmios. “Esse encontro traz esperança. Queremos mostrar para o assentado que a gente tem capacidade de correr atrás e conquistar melhorias para o campo, para que o camponês possa ficar na terra e não precise migrar para a cidade”, conclui Nelci.