Foto: Leonardo Sá
Nem o som de polcas e valsas e a performance do grupo de dança de Santa Maria de Jetibá, cidade situada a 64 quilômetros de Vitória, conseguiu animar a inauguração do novo aeroporto de Vitória nesta quinta-feira (29), marcada pela presença do presidente Michel Temer, ministros, senadores e deputados e ausência do governador Paulo Hartung.
Sem Hartung, a festa virou palanque da senadora Rose de Freitas (MDB), que disputou com Hartung quem seria a cereja do bolo da entrega da obra. A senadora levou a melhor. Inicialmente, o governador viria do voo inaugural, no avião da Presidência da República. Além disso, seu nome estava na agenda, mas como ele não apareceu, a senadora assumiu, de fato, o posto de anfritriã da festa.
Política experiente e com trânsito livre nos gabinetes de Brasília, Rose se antecipou a Hartung e veio no voo precursor da Presidência da República, na véspera da inauguração. Fez foto, vídeos e invadiu as redes sociais, levando vantagem sobre dezenas de políticos que se autodenominaram pais do aeroporto.
Ao lado do prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), que parecia deslocado, e do presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, desembargador Sérgio Gama, Rose fez discurso de candidata, exaltou os trabalhadores e lançou o conhecido mantra político: “A obra é de todos, unidos, sem diferença, trabalhando pelo Espírito Santo”.
As danças e os discursos não impediram repetidos e discretos cochilos do ministro da Fazenda, Henrique Meireles, que já vão se tornando sua marca registrada, no que era acompanhado pelo ministro Torquato Jardim, da Justiça, mais explícitos, contrastando com a sisudez do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
O ministro dos Transportes, Márcio Quintela, selou a vitória de Rose de Freitas ao afirmar: “Quero parabenizara a senadora Rose de Freitas, que esteve em meu gabinete pelo menos umas 10 vezes cobrando as obras do aeroporto”.
Já o presidente esticava e encolhia as pernas, parecendo meio entediado com as valsas e polcas e os discursos, só mudando o semblante quando o vice-governador César Colnago (PSDB), representando Hartung, lhe cochichava alguma coisa que o fazia esboçar um raso sorriso.
Em seu discurso, Temer falou como de fossem suas as obras dos governos Lula e Dilma, como a transposição do rio São Francisco, e exaltou a recuperação da economia, como vem sendo divulgada na imprensa nacional.
Ao final, a placa de inauguração foi trazida, em cima de um tripé de madeira, coberta por um pano branco, retirado por Temer e pelo vice, seguindo-se aplausos que contrastavam com os protestos do lado de fora de populares insatisfeitos com o governo de Temer e também de Hartung, impedidos de entrar no evento por uma forte força policial, formada pela cavalaria e a tropa de choque da Polícia Militar.
Dados técnicos
Ao todo foram 33 meses de obras, com um fluxo de trabalho que alcançou 1,8 mil operários e R$ 559,4 milhões investidos pela Infraero. Com um terminal quase cinco vezes maior e capacidade para 8,4 milhões de passageiros por ano, os viajantes e companhias aéreas terão suas atividades atendidas pelos próximos 15 anos, de acordo com a estimativa de demanda local.
Para atender a essa projeção, a Infraero construiu um terminal de passageiros com 29,5 mil m², 71 pontos comerciais, 12 banheiros públicos, oito elevadores, sendo dois panorâmicos, três escadas rolantes, 31 balcões de check-in e cinco esteiras de restituição de bagagem.
Na área de operações de aeronaves, a Infraero passa a oferecer agora um novo sistema de pistas e pátios, com uma nova pista de pouso e decolagem 2.058m x 45m, ligada ao novo pátio de aeronaves de 67,1 mil m² por dez pistas de taxiamento, capazes de atender aeronaves de código 4D, como o Boeing 767-200. Esse sistema contará com um balizamento noturno com lâmpadas de LED, que são mais duráveis e exigem menos gastos com manutenção.
Os ruídos nas operações pela nova pista de pouso e decolagem deverão ser reduzidos por causa da orientação da estrutura, que de acordo com o vento predominante (NNE) permitirá que as aproximações para pouso ocorram sobre a baía de Camburi, que também não conta com obstáculos na rota.
Além disso, a nova pista terá 300 metros de comprimento a mais do que a atual, com apenas 40º de diferença em seu rumo magnético, o que permitirá operações intercaladas, aumentando a fluidez e das operações aéreas.
Agora, além de contar com duas pistas, as operações de pouso e decolagem em condições de mau tempo contarão com as rotas de navegação de área (RNAV), feitas a partir de satélites e sistemas digitais de bordo.
Além do ILS na pista antiga, a pista nova terá o RNAV, que permitirá às aeronaves homologadas e pilotos habilitados percorrer caminhos mais diretos, sem precisar passar por pontos de auxílio à navegação. Essa tecnologia faz parte do pacote de recursos da Navegação Baseada em Performance (PBN, do inglês Performance Based Navigation), implementado pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo.