A banda de rock ÓCIO se prepara para a última apresentação de sua existência em solo capixaba. Na sexta-feira (30), a banda toca no Liverpub, no Triângulo das Bermudas, Praia do Canto, em Vitória, marcando a despedida dos palcos.
As origens da banda remontam a 1999, embora o grupo considere como um marco 2006, quando encontrou sua fórmula atual com Daniel Furlan (voz e guitarra), Patrick Preato (bateria) e Rodrigo Larica (baixo), e lançou o primeiro álbum, “Mood Swings”. Em 2010, durante uma longa temporada na Europa, gravaram o segundo disco, Guilty Beat. No início deste ano ainda apresentaram um novo single com três canções.
Conversamos com dois dos integrantes para saber mais sobre esse fim e outras coisinhas mais, respondidas sempre com o característico humor de seus integrantes. Daniel afirma que com os membros do grupo morando em diferentes lugares não há mais tempo nem motivação para tocar as coisas como acham que deveria ser. “Nosso processo de composição, ensaio e gravação é muito doloroso e demorado. Não sobreviveu ao relacionamento à distância”, brinca.
Patrick ironiza apontando um lado bom do anúncio de “matar a banda”: “Apareceu um monte de fã pedindo pra não acabar, mesmo tendo cagado pra gente durante tantos anos. Ficamos felizes!”
As influências no som do ÓCIO são inúmeras, originárias da formação musical de cada integrante. “O Larica tocava numa big band de jazz e foi estragado por nós. O Patrick tocava numas bandas de metal aí e foi salvo por nós”, ironiza Daniel. O rock'n'roll é a marca da banda, que canta em inglês. Por que nesta língua? “Porque a gente quer. Acho que essa é a única explicação”, diz Daniel, que já deve ter ouvindo a mesma pergunta centenas de vezes. Patrick dá uma outra explicação: “Eu acho que é falta de competência mesmo. Sem contar que rock em português é bem ruim, em 83,5% dos casos”, afirma a partir de sua análise empírica e precisão matemática.
De preguiça ou falta de coragem ninguém pode acusar o ÓCIO. Entre 2007 e 2011, a banda se mudou para Londres, com o desafio de fazer sucesso num dos principais centros de rock do mundo. “Nos primeiros anos, enquanto a banda estava crescendo em termos de público e qualidade dos lugares pra tocar, foi ótimo. Depois deu uma estagnada e acabamos voltando. Mas motivos pessoais também influenciaram”, lembra Daniel. Patrick, que ficou menos tempo em terras inglesas, lembra haver se divertido bastante e recorda que tocaram em lugares ótimos, mas também em outros péssimos. “O interessante é que até nos péssimos lugares tinha som bom, técnico da casa e público interessado em ouvir música nova”, diz alfinetando os estabelecimentos e o público de nossas latitudes.
Preparando para a despedida do solo capixaba, Daniel diz que a expectativa é de muito choro e vontade de se arrepender de tudo – não ficou claro na fala se referia-se a arrependimento da banda ter existido ou de ter terminado. O repertório terá um pouco de cada disco e ainda uma canção nova, que se bem parecia representar um fôlego para a continuidade da banda, significou na verdade um último suspiro. Em abril, o ÓCIO ainda toca em São Paulo e Londrina, no Paraná antes de “pendurar as chuteiras”.
Com o fim da banda, Patrick não ficará orfão, pois toca no Espírito de Porco, uma banda “alcólatra-geriátrica” cover dos Titãs, como ele próprio define. “O resto tem que tomar cuidado pra não cair nesse erro de novo”, alerta Daniel, que parece não querer ter banda tão cedo. Ele deve seguir sua carreira como uma das maiores feras do humor underground brasileiro por meio TV Quase, interpretando personagens emblemáticos como o comentarista esportivo Craque Daniel, do “Falha de Cobertura” e o crítico cinematográfico e motorista de van Renan, do “Choque de Cultura”.
E o que vai deixar saudades dos tempos do ÓCIO? Daniel lembra do prazer da convivência, de ensaiar juntos, fazer shows, compor novas músicas, gravar nos estúdios. Só não sentirá falta de “tudo que é de banda mas não tem nada a ver com a banda”, como atualizar Facebook, Twitter, tirar fotos, e essas coisas que os próprios artistas têm que assumir nos grupos independentes. “Ah, essa sensação de achar que alguma coisa maravilhosa vai acontecer e nunca acontecer nada. E tudo bem. Isso fará falta”, exclama Patrick.
Já que estamos praticamente fazendo mais um obtuário de banda capixaba, faço uma última pergunta fúnebre: se tivesse direito a um epitáfio, o que gostariam de ver escrito no túmulo do ÓCIO? “'Busque conhecimento', um ensinamento que ET Bilu trouxe à Terra mas não foi ouvido”, diz Daniel, lembrando do misterioso extra-terrestre apresentado em reportagem de TV. Já Patrick, propõe algo ainda mais improvável, lembrando frase do próprio Furlan em tempos remotos, o que geraria uma lápide um tanto bizarra:
Aqui jaz banda ÓCIO
1999-2018
“Escove os dentes após as refeições”
Enfim, na noite dessa sexta-feira, quem gosta de rock'n'roll não vai morrer de ÓCIO. Depois, que descanse em paz.
SERVIÇO
Show de despedida da banda Ócio (ES) + show do Fodastic Brenfers (MG)
Quando: 30/03 (sexta-feira)
Onde: Liverpub – Rua Joaquim Lírio, 820, Praia do Canto
Valor: R$ 20 até 23h | R$ 25 após 23h