Num trabalho de quase um ano e meio, o artista Fredone Fone, com apoio de L Brau, conseguiu fazer um levantamento de 151 canções de rap feitas no Espírito Santo entre os anos 1987 e 2010. O resultado é o livro Rap: a força da fala, que será lançado neste domingo (1), a partir das 17h, na Casa da Barão, Centro de Vitória, em um evento que terá uma programação especial com múltiplas linguagens e temáticas relacionadas com o hip hop.
Fredone considera que há uma carência de registros físicos, acessíveis, que contemplem a história do rap capixaba, além da dificuldade de acessar o que já existe. “Grande parte do que existe é feito pela academia. Então esse livro é um dos poucos elaborados por quem está de fato dentro do movimento. Tudo bem que pessoas de fora estudem sobre, mas entendo que também temos que escrever a nossa própria história”, conta ele, que é rapper do grupo Conteúdo Paralelo, graffiteiro, skatista e participa do movimento hip hop desde os anos 90.
Não foi fácil juntar tantas letras. Em alguns casos, Fredone conta que os autores não lembravam e haviam perdido registros de algumas letras, outros não queriam colocar suas letras por acharem que já não condizem com o que pensam hoje, anos depois. “O resultado do livro permite ler uma letra dos anos 80 e saber o que um jovem dessa época pensava, o que mudou com o tempo, quais temáticas eram abordadas, perceber a ampliação do rap para outros locais além das periferias”. O organizador da obra ressalta que manteve as letras originais, incluindo as gírias, palavrões e desvios da norma gramatical.
Fredone acredita que a obra pode ser usada em escolas e espaços educativos, com o filtro dos professores e diretores, tanto que cada participante do livro ganhará um livro para si e outro para entregar a uma biblioteca em seu bairro, já que a maioria dos artistas vêm da periferia. “É importante as crianças saberem que nesses bairros há alguém que utiliza a rima para reivindicar direitos, falar do cotidiano e questões que se não fosse o rap, talvez não estaríamos alcaçando mais pessoas. Nós que escrevemos rap também somos poetas, escritores que aprenderam a escrever na rua e a se interessar pela música e poesia por meio do rap”.
Durante o tempo de pesquisa para as letras que compõem o livro, Fredone também realizou entrevista que pretende transformar em um documentário de mesmo nome, sem pressa nem previsão de lançamento.
A inquietação que ainda ressoa na cabeça de Fredone e o motivou a esta e outras iniciativas do artista vêm da pergunta feita na primeira reunião do movimento em que ele compareceu na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) nos anos 90: “O que você faz pelo hip hop?”
A programação de lançamento pretende resgatar as origens do rap capixaba e exaltar a cultura hip hop com todos seus elementos. Haverá o bate-papo “Trocando ideia sobre fazer rap no Espírito Santo” e um momento de relembrar clássicos por quem construiu e constroi a história do ritmo no Estado, como Renegrado, Suspeitos na Mira, Aliado Jota, Fabiano (Calibre), Negro Boris (Observadores).
Durante o Microfone Aberto, os participantes do livro poderão contar um pouco de suas experiências e impressões. Ao longo da noite acontece também o Sarau A Força da Fala, roda de breaking, som com os DJs Emerson Hop Bass e LD Fli e exposição de fotografias e recortes de jornais que mostrem a história do movimento no Espírito Santo.
SERVIÇO
Confraternização de lançamento do livro “Rap: a força da fala”
Quando: Domingo (1/4), 17h
Onde: Casa da Barão – Rua Barão de Monjardim, 317, Centro de Vitória
Entrada gratuita