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‘O Espírito Santo é um estado com Alzheimer’

Foto: Leonardo Sá

Professor, escritor, pesquisador e integrante da Academia Espírito-Santense de Letras, Francisco Aurélio Ribeiro é um amante da literatura e do Espírito Santo. Já publicou mais de 50 livros, sendo 21 deles de literatura infanto-juvenil . O mais recente, Pelas mãos dos avós, traz uma narrativa de memória sobre seu avô italiano e sua avó cafusa.

Além de escrever, outra grande paixão é formar leitores No mês de março, Francisco ministrou pela primeira vez um curso teórico e prático sobre Lendas Capixabas, no Sesc Glória, em Vitória. Como resultado da produção dos alunos, provocou-os na intenção de publicá-las. “Ninguém escreve para não ser lido”, disse.

Conversamos com ele sobre as lendas e a memória do povo capixaba.

-O que são as lendas? Quais as suas características e sua importância para os povos e sociedades?

– Lendas são narrativas fantasiosas transmitidas, oralmente, pelas gerações, através dos tempos. São variações de mitos existentes no inconsciente dos povos e servem para mostrar a cultura de um povo, suas crenças e sua identidade.

-Sobre o Espírito Santo, como as lendas se fazem presentes em nosso cotidiano? Quais as mais conhecidas?

– No Espírito Santo, existem muitas lendas, pois os povos que nos constituíram, europeus, ameríndios e africanos, eram possuidores de vasta imaginação e de pouca instrução científica. As lendas sobre o Convento da Penha são as mais antigas, mas há muitas lendas de origem indígena e africana, criadas em torno de fatos, acidentes geográficos, locais e pessoas.

-Qual a relação entre lenda e literatura? Ao ser escrita, deixa de ser lenda? Qual a importância de registrá-las por escrito?

– A lenda torna-se literatura, ao ser escrita, sem deixar de ser lenda, modificada pelo estilo, linguagem e ideologia de cada um. Uma mesma lenda, como “Maria Sapeba”, registrada por Afonso Cláudio, Maria Stella de Novaes, Renato Pacheco e Ana Maria Machado, toma as características de seu autor.

-Que escritores destacaria na transposição das lendas para a literatura no Estado?

– O padre Antunes Siqueira, Afonso Claudio, Maria Stella de Novaes, Adelpho Poli Monjardim, Elpídio Pimentel, Hermógenes Fonseca, Guilherme Santos Neves e Renato Pacheco foram os pioneiros.

-Como analisa a relação que o Espírito Santo tem com sua memória?

– Sempre afirmo, ironicamente, que o Espírito Santo é um estado 'alzhaimaco' (risos), pois a nossa memória é uma vaga lembrança. Nossa preocupação com arquivos, nosso passado, documentos e registro é inferior à importância que temos por termos sido um dos mais antigos núcleos da colonização portuguesa no Brasil. Sabemos pouco e mal de nossa história, de nosso passado e de nossa literatura.

-Você foi professor universitário por décadas. Como vê a relação da academia com a memória e identidade capixaba?

– Com a criação dos cursos de pós-graduação, a partir dos anos 1990, começaram as pesquisas sobre nossa memória e nosso passado histórico, o que reforça nosso conhecimento sobre nós mesmos e nossa identidade. No entanto, nossos programas de pós-graduação, como o de Letras, do qual foi um dos criadores, fazem muito pouco para conhecer nossa história literária. Apenas 10% das teses e dissertações do nosso Programa de Pós-graduação em Letras da Ufes focalizam obras e autores do nosso Estado. O resto é o mais do mesmo.

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