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Comunidade protesta contra mais um fechamento de escola do campo

O mês de maio começou em franca luta na comunidade de Caravaggio/Santa Rita, zona rural de Pinheiros (extremo norte do Estado), pela manutenção de sua escola do campo. Na manhã desta quarta-feira (2), professores foram trabalhar voluntariamente, enquanto uma comissão de 30 pessoas ocupou a prefeitura, exigindo serem recebidos pelo prefeito Arnóbio Pinheiro da Silva (PRB). 

Ambas as decisões foram tomadas em assembleia realizada nessa segunda-feira (30), reunindo mais de 200 pessoas e diversas entidades e lideranças comunitárias, camponesas e políticas, quando a comunidade decidiu manter o funcionamento da Escola Municipal Unidocente de Ensino Fundamental (EMUEF) Córrego Santa Rita e solicitou a brava colaboração dos professores. Dois dos três professores, e mais a servente. “Aceitamos esse desafio”, conta a professora Arlene Viana Rocha do Nascimento.

Fechada na última semana de abril, a EMUEF teve seus oito alunos, além da professora e da servente efetivas, transferidos para a escola da comunidade Água Limpa, obrigando os alunos a percorrerem entre 14 e 25 km entre sua casa e a nova escola.

A professora de Água Limpa, por sua vez, foi transferida para a sede do município, ficando a escola com duas serventes e 20 alunos, em duas salas multisseriadas, contemplando do 1º ao 5º ano. “Já trabalhei com uma turma multiseriada, com essa quantidade de alunos, e o rendimento é péssimo!!”, relata Arlene.

“Está na hora de nos unirmos, ocupar nossos espaços e dizer bem alto: fechar escolas é crime!”, brada Alcelane Barbosa, líder comunitária e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e mãe de futuro aluno da EMUEF Córrego Santa Rita, em meio aos companheiros que ocupam a prefeitura.

Prefeitura tem que garantir

“Nós decidimos que a escola vai continuar funcionando e o poder público vai ter que garantir isso”, afirma Alcelane, em nome dos presentes. A luta, ressalta, não é apenas por Santa Rita, mas pela Educação do Campo de Pinheiros e do Espírito Santo. “Houve uma avalanche de fechamentos escolas”, protesta.

Segundo ela, a ocupação desta quarta tem o objetivo de “pegar um documento com o prefeito, decretando o funcionamento das escolas de Santa Rita e Água Limpa”, informa. O chefe do Executivo já enviou representantes, mas a comunidade exige uma audiência com o próprio prefeito.

A argumentação de Arnóbio Pinheiro, de que não vai acabar com a Educação do Campo e os alunos apenas foram reunidos em uma única escola, é rebatida pela comunidade. “Não é verdade! Querem fechar uma escola com estrutura ótima, com duas funcionárias concursadas. Querem tirar parte do coração da comunidade! Educação não é gasto, é investimento!”, afirma Alcelane.

Santa Rita é uma comunidade de pequenos agricultores, com duas igrejas, um campo de futebol, um cemitério e algumas residências próximas a esse centro social. São 70 famílias, totalizando 207 pessoas, sendo oito crianças na EMUEF e doze que vão entrar em idade escolar em 2020. As organizações sociais são a Associação de Moradores, um sindicato e o MPA.

A comunidade tem 58 anos, mesma idade de sua escola, que está em novo endereço desde 1986, quando um proprietário rural doou parte de seu terreno para a construção da escola e as demais estruturas públicas atuais.

“Eu e meus colegas desenvolvemos um trabalho voltado para a realidade da comunidade, como recuperação de nascentes, comemorações de festa junina, Dia das Mães, Festa da Padroeira. A comunidade abraçou conosco e não quer deixar fechar a escola. Estamos juntos na luta”, afirma a professora Arlene.

Êxodo rural

Após a assembleia do dia 30, o deputado federal Givaldo Vieira (PCdoB) fez um pronunciamento na Câmara dos Deputados, denunciando o caso. “No Espírito Santo já foram mais de 40 escolas rurais fechadas. Ao se fechar essas escolas, estão afastando as crianças do contato de suas famílias, vão ser colocadas em transportes para lugares mais distantes, a comunidade vai ser desmobilizar, e será retirada, principalmente, a possiblidade de um ensino voltado para a realidade do aluno, que é a do campo, da sua comunidade”, disse.

Nas redes sociais, o coletivo de Educação do Campo de Pinheiros protestou contra o argumento do município de fechar escolas por motivo de economia de orçamento. “Assim fica fácil chegar no final do ano e afirmar que teve superávit, claro, sem oferecer serviços”, ironizou o coletivo, em sua fanpage.

“A desculpa é que estão mantendo as crianças no campo, só estão mudando elas de escola… até quando? Até quando esta outra escola [Água Limpa] permanecerá aberta? Não foi à toa que a Escola São Domingos foi fechada. O primeiro passo para expulsar o homem do campo segue uma ordem, sendo o primeiro item: fechar a escola”, explicou.

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