Vem chegando a Copa do Mundo da Rússia, nossa seleção já está convocada, as ruas começam a se colorir de verde e amarelo e a imprensa noticia eufórica cada passo. Mas como esquecer da nossa última eliminação? “Lembrar para não repetir”, dizem os historiadores, não exatamente sobre o futebol. Mas as marcas da nossa tragédia esportiva foram sentidas de várias maneiras por tão distinta população de norte a sul do país.
É esse resgate de histórias cotidianas que o livro Sete a Um, que será lançado neste sábado (26), às 18 horas, na Cousa Bar Café, promove numa obra de prazerosa leitura para os amantes da literatura, especialmente aqueles que também são fanáticos por futebol. No caso da coletânea, organizada por Lidiane Nunes e Tom Correia, e editada em parceria pelas editoras Cousa e Dália Negra, o 7×1 se inverte: são sete contos de autores brasileiros e uma escrita por um alemão, além de um ensaio extra sobre homens, mulheres e futebol.
No livro, o gol de honra literário alemão, ao contrário do gol brasileiro naquela partida, vem no início e não no final. Na crônica de abertura, Hans-Ulrich Treichel que, por elegância ou piedade, é o único escritor que não aborda o 7×1, desviando a conversa para a paixão de infância pelo esporte na pequena cidade da Alemanha em que nasceu, dos sonhos de ir ao estádio e conhecer seus ídolos, da coleção de álbuns de figurinha em busca frenética de preenchimento. Paixão adormecida, mas que, por alguma razão mais afetiva que intelectual, continua dividindo espaço nas estantes com os livros de Foulcaut, Freud e Adorno.
A partir daí, abre-se a porteira para os golaços literários brasileiros, sete seguidos, que é possível ler um atrás do outro como naquela sequência de gols do início do primeiro tempo no Mineirão. O “Thomas Müller” da história, que abre o placar do time goleador, é a representante feminina do Brasil, Claudia Tajes, que dá vida a um narrador homem, empresário de uma jovem promessa do Grêmio, que se nega a ir para o exterior por questões conjugais que envolvem um triângulo amoroso. Enquanto isso, o Brasil segue seu destino na Copa do Mundo em que joga em casa.
Outros personagens interessantes vão aparecer ao longo das histórias, trazendo diferentes perspectivas possíveis em torno daquele dia em que o Brasil ficou boquiaberto em frente à TV antes de um arsenal pesado de piadas tomar conta das redes sociais.
Um garçom que torce pela eliminação da seleção brasileira para poder voltar a trabalhar em paz sem a balbúrdia dos dias de jogos é o personagem central do conto de Marcus Borgón. Carlos Barbosa mostra um torcedor fanático, porém realista, que ao prever o desastre iminente da seleção, acaba sendo mal visto pelas pessoas do entorno.
O quarto tento literário brasileiro, talvez o maior golaço do livro, vêm de Mayrant Gallo, narrando um cenário futurista pós-hecatombe, com 90% da população humana dizimada do planeta. Tendo antes da destruição anunciada cada país selecionado as memórias que queria preservar para o futuro, teria o 7×1 sobrevivido como eterna lembrança de nossa vergonha para as gerações seguintes?
O escritor Lima Trindade traz a história de um jovem que viaja a Belo Horizonte para encontrar com amigos de infância e participar de uma manifestação contra a Copa, enfrentando repressão policial durante a fatídica partida de nosso vexame. Uma lembrança do que aconteceu do lado de fora dos estádios, abafado pela mídia e definitivamente jogado para o escanteio da memória nacional diante do trágico fim da seleção dentro de campo. Em seguida, o livro passa a bola para Luís Pimentel, que conta sobre um brasileiro que se apaixona por uma alemã na Lapa, reduto da boemia carioca, durante o campeonato mundial. A história de amor ia muito bem até que… chega o tal 8 de julho de 2014.
Para fechar o placar, o sétimo conto do Brasil, de Elieser Cesar, narra a história de um filho que precisa contar os lances e o resultado das partidas da seleção na Copa do Mundo ao pai, doente em estado terminal. O apito final do Sete a Um vem com o ensaio da alemã Dagun Hintze, que traz reflexões sobre a participação das mulheres no futebol, seja torcida ou em campo no futebol feminino.
Depois de lançado em Salvador, o livro agora terá sua apresentação em Vitória com presenças do escritor Lima Trindade e do tradutor Erlon José Pachoal. A combinação literatura e futebol de Sete a Um pode reativar memórias, mas também amenizar a tragédia nas mentes de outros. Um bom aquecimento para as próximas semanas, que antecedem o início da Copa do Mundo 2018.
AGENDA CULTURAL
Lançamento do livro Sete a Um
Quando: Sábado, 26 de maio, de 18 às 21h
Onde: Cousa Bar Café, Avenida Sete de Setembro, 415, Centro de Vitória.