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O ‘Bonde’ de Janio Silva e a poesia marginal capixaba

O buzão cheio balança. Da Serra a Vitória e, depois, o caminho contrário de volta. Casa, faculdade, trabalho. Muitas coisas passam pela cabeça do jovem Janio Silva: o preço caro da passagem, o amor, o racismo cotidiano, as questões sociais e afetivas. A máquina apenas vai e volta, cumpre seu itinerário sem sentimentos. Mas é o cenário em que se constroem pensamentos que viram versos, rimas, reflexões, até virar livro. É desse movimento cotidiano que surge boa parte dos poemas que compõem o livro Bonde, lançado pelo escritor.

A obra está dividida em dois capítulos: “pequenos versos escritos em longas horas de viagem” e “grandes versos espremidos pelo horário de pico”. O primeiro tem versos mais curtos e o segundo traz poemas de maior extensão. Dentro de cada um subdivisões temáticas que trazem poesia romântica, social, erótica e racial. Ao contrário de obras anteriores, Jânio optou por trazer os versos secos, sem acompanhamento de desenhos ou colagens, como em outros trabalhos lançados de forma alternativa, buscando testar a resposta do público a esse tipo de publicação.

Por vezes, o ônibus também serve de espaço para divulgação da poesias. A exemplo do grupo Poesia de Busão, algumas vezes Janio também já aproveitou a viagem para recitar poemas ao público em trânsito. O autor estuda também a possibilidade de realizar lançamentos, apresentações e distribuições do novo livro em ônibus da Grande Vitória. Afinal, um livro de poesia pode ser – por quê não? – um bom passatempo para os momentos de viagem dos passageiros pela metrópole nesses tempos de smartphones.

Um fato importante para falar de Janio é que ele é um dos cofundadores do coletivo Literatura MarginalES, que reúne jovens escritores das periferias da Grande Vitória. Do coletivo surgiu o Sarau Quebrando o Silêncio, que existe desde 2013 buscando criar um espaço alternativo para compartilhar essas produções.

“A literatura periféria nos coloca como protagonistas da nossa história. Temos contato direto com o público. Diferente de escritores privilegiados, não conseguimos publicar por uma grande editora, nem colocar nossas obras na prateleira de frente. No contato com as pessoas descobrimos que muitas otras pessoas escrevem e não têm oportunidade de compartilhar, por isso, vem acontecendo todo um movimento especialmente dos jovens para divulgar suas produções. Espero que esses movimentos possam cada vez mais sair das regiões centrais e ocupar as periferias das cidades”.

A obra de Janio não pode ser entendida fora desse contexto da literatura marginal, que muitas vezes se faz conhecer mais pela oralidade dos saraus, slams e raps, ou pela impressão artesanal dos fanzines, do que pelos cânones e formalidades da literatura tradicional e suas publicações.

“Há várias publicações de fanzine para fazer circular os textos. Os escritores não conseguem participar de eventos de literatura pois muitos exigem obras publicadas e esse material dificilmente é reconhecido como obra. A oralidade também não é reconhecida como literatura. A maioria das pessoas que trabalha com literatura no Espírito Santo não consegue viver dela”, afirma o poeta.

A publicação do livro conta com o apoio do Conselho Municipal de Cultura da Serra, Banestes e MB Produção Cultural, tendo patrocínio da Lei de Incentivo à Cultura Chico Prego.

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