Após 11 dias de ocupação do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Governador Valadares (MG), que também atende às aldeias do Estado, e sem respostas às reivindicações, caciques dos dois estados realizaram um protesto nesta quarta-feira (7), ateando fogo em um carro da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) em frente ao local. Eles aguardam até hoje a chegada do secretário geral da Sesai, Marcos Antônio Toccolini, de Brasília, para as devidas negociações.
“Só vamos sair daqui quando ele vier com sua equipe aqui em Valadares e assinarmos um Termo de Compromisso, com intermediação do Ministério Público Federal”, afirmou Pydobussu, o Cacique Toninho, da Aldeia Comboios, de Aracruz, norte do Estado.
Mas, segundo os índios, o secretário se nega a ir ao Distrito, enquanto perdurar a ocupação. Insatisfeitos com a postura de Toccolini, os caciques responsáveis pela ocupação prometem radicalizar ainda mais as ações. Três ônibus com índios Tupiniquim e Guarani do Estado chegaram nessa quarta-feira (6) a Governador Valadares, para reforçar o movimento.
A Comissão de Caciques capixaba reúne os líderes de onze aldeias de Aracruz, sendo sete Tupinikim – Caieiras Velha, Pau Brasil, Irajá, Comboios, Córrego do Ouro, Areal e Amarelos – e quatro Guarani – Boa Esperança, Três Palmeiras, Piraquê-açú e Olho d´Água –, onde vivem cerca de quatro mil indígenas.
Entre as reivindicações, estão a troca da frota de carros que atendem à saúde indígena em Aracruz; aumento da cota para aquisição de combustível para os veículos; convênio com hospitais e oficinas mecânicas; contratação de convênio para barqueiros, para locomoção de moradores de localidades de difícil acesso por estradas; compra de motor e barco pra atender à saúde; reforma e ampliação dos postos de saúde das aldeias; ampliação e construção das estações de tratamento de água; respeito às tradições indígenas de cuidados com a saúde, incluindo o uso de ervas medicinais e pajelanças; nomeação de um coordenador do DSEI local que conheça a realidade dos povos indígenas de Minas Gerais e Espírito Santo.
Vilson Tupiniquim, o Jaguareté, chefe da coordenação técnica local da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Aracruz, e que está em Minas ajudando na ocupação, conta que ainda não houve nenhum resultado concreto, mas a expectativa é que isso ocorra o mais breve possível.
Paulo Tupinikim, líder da aldeia de Caieiras Velhas, disse que o secretário conhece as demandas dos povos indígenas, mas a situação se agravou muito nos últimos meses. “Aldeias que necessitam de barqueiros, por exemplo, para a travessia de pacientes, já estão há seis meses sem profissionais para atender a comunidade”, afirmou.
Na última segunda-feira (4), um grupo de índios guaranis da aldeia de Boa Esperança fizeram um protesto na ES-010 e interditaram a rodovia por cerca de uma hora em apoio ao grupo que está em Governador Valadares. Os indígenas bloquearam as duas pistas da rodovia e a passagem de carros com madeiras.