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‘Feminismo Classista e Popular’ é tema de bate-papo com a youtuber Sabrina Fernandes

Muito além da igualdade de direitos com os homens, o “feminismo classista e popular” luta pela emancipação da mulher, propondo mesmo uma nova ordem político-econômica em contraposição ao capitalismo, este, mais um aspecto do machismo.

Esse é um dos alicerces da discussão que Sabrina Fernandes levará para o bate-papo promovido pela Coletiva de Formação do Fórum de Mulheres do Espírito Santo (Fomes) nesta sexta-feira (8), a partir das 18h, no Salão Rosa do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) do campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Doutora em Sociologia e mestra em Economia Política, Sabrina é militante ecossocialista e feminista, professora da Universidade de Brasília (Unb) e youtuber no canal Tese Onze.

No canal – que completa um ano no próximo dia 15, já com 23 mil inscritos – a militante explica que “tem seguido uma linha de pesquisa de resgate de certos conceitos do feminismo, que foram abandonados pelo feminismo padrão da televisão e internet”. Nesses espaços midiáticos padrão, ocorre uma “apropriação de pauta”, em que são retirados elementos importantes da essência de uma luta, para torna-lá “mais palatável”.

“O feminismo não é só igualdade entre homens e mulheres. Isso é uma simplificação, que exclui boa parte dos debates”, explana, defendendo um feminismo mais abrangente, que promova a emancipação da mulher. “E emancipação não só é alcançar um patamar igual ao dos homens. Emancipar a mulher é pode agir além do gênero, não ser aprisionada no gênero, e não ser explorada através de outras organizações e estruturas da sociedade, como o capitalismo”, compara.

Como exemplo, cita o fenômeno das mulheres que chegam à presidência de grandes corporações empresariais, mantendo, com isso, a exploração das outras mulheres em nível hierárquico inferior ao dela. “É um feminismo liberal, individualista. É o avanço de uma mulher à custa de outras mulheres”, diz.

Feminização da pobreza

“O feminismo que a gente quer alcançar é o classista e popular. Olha para os interesses distintos de classes que existem na sociedade e, a partir desse olhar, verifica que pra haver uma emancipação da maioria das mulheres, por isso popular. É necessário trabalhar os interesses de classe a partir do interesse da maioria das mulheres”, argumenta, mencionando também a “feminização da pobreza”, ou seja, a redução dos salários e direitos de funções ocupadas majoritariamente por mulheres, em contraposição a cargos semelhantes em que há mais homens, como costureiras x designers e cozinheiras x grandes chefs.

Outro conceito relacionado é o de reprodução social, que aborda o fato de que o trabalho não remunerado de mulheres sustenta a capacidade do capitalismo de transformar tudo em mercadoria e de extrair lucro do trabalho de mulheres e homens. “Isso inclui o trabalho doméstico, afetivo, ambiental e de saúde”, diz, que são realizados fundamentalmente por mulheres e criam as jornadas dupla, tripla e quádrupla de mulheres de todas os níveis sociais e etnias, mas que ainda subjugam muito mais as mulheres pobres e negras. “No Brasil, que tem uma raiz escravocrata ainda muito forte, muitas mulheres brancas entram no mercado de trabalho porque exploram a mão de obra de mulheres negras, que criam seus filhos e cuidam de suas casas”, critica. 

No bate-papo promovido pelo Fomes, Sabrina diz esperar “um momento de construção coletiva”. “Porque são muitos ataques e a gente precisa se organizar”, convoca, citando a cultura do estupro, a violência doméstica, o feminicídio, a negação dos direitos reprodutivos. “E a cada crise econômica, as mulheres são as mais penalizadas, com jornadas maiores de trabalho, falta de creche, de oportunidade de lazer com seus filhos”. “O feminismo é muito mais amplo do que igualdade de direitos”, reafirma.

A roda de conversa encerra uma série de atividades da militante em Vitória, que contou com um debate sobre Veganismo e Ecossocialismo com os estudantes de Ciências Sociais na quarta-feira (6), e, na quinta (7), uma mesa sobre Feminismo Marxista no Encontro Nacional de Política Social, realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Educação (Capes/CNPq-MEC).

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