Ivan Granovisky, diretor de Los Territorios, teve preguiça de estudar História e se graduou em Cinema, embora no fundo talvez sonhasse em ser correspondente de guerra. Fanático pela geografia, mapas, jornais, repassa com seu pai o nome das capitais e aeroportos dos mais remotos países do mundo.
O pai é Martín Granovisky, reconhecido jornalista sobre temas internacionais do Página 12, tradicional meio argentino comprometido com uma visão crítica do país e do mundo. Acaba virando em parte personagem e colaborador da obra, estendendo sua rede de contatos ao filho e contando com o apoio dele ao produzir um documentário sobre os dez anos da derrubada do projeto da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), no qual ambos entrevistam vários presidentes da América Latina.
O talento do pai para entrevistas parece não ter sido herdado pelo filho, que se mostra incompetente para a tarefa. Iván trabalha como produtor. Como diretor, acabou fracassando em algumas tentativas de retratar conflitos armados estrangeiros de modo ficcional em território argentino, abortados por ficarem algo inverossímil.
Mas ele tem um trunfo. Conta que como viaja muito por vários países, quando chega no exterior pensam que é bem-sucedido e, por tabela, quando volta para a Argentina, como viaja muito, também pensam que é muito bem sucedido. Conveniente mentira.
Assim, o filme se desenha como radiografia de um fracassado. O que não o faz menos interessante. Na verdade aí reside a força e a graça da obra, trazendo inúmeros momentos de humor que seriam inimagináveis para quem quer abordar temáticas tão sérias da geopolítica internacional.
Iván viaja com o dinheiro da mãe, aparentemente muito bem financeiramente, e se aproveita de contatos do pai, construindo um filme que alterna cidades do mundo, zonas de conflito, fotos de bandeiras de países e cópias de e-mails e mensagens trocadas com os pais e amigos. O diretor do filme sai então em busca da linha de conflito, do local onde desatam, embora quase sempre chegue atrasado.
Los Territorios parece uma mistura entre um making off e um road movie atrapalhado e, por vezes, inverossímil. Em alguns momentos o espectador pode pensar: “estou assistindo a um documentário ou uma ficção?”. E talvez essa sensação possa durar todo o filme, entre imagens indubitavelmente documentais com presidentes de nações, lutas nas ruas e a intimidade da saga estabanada de Iván, com pouco sucesso tanto em suas entrevistas como no amor, com as “crushs” que encontra no caminho entre diversos países.
Se o início parte de uma vontade de Iván de construir um filme sobre conflitos internacionais, num acesso de realismo, acaba enfocando para um documentário sobre os jornalistas que cobrem os conflitos internacionais, mas termina como um documentário sobre o próprio diretor, suas angústias, perrengues, trajetos, que se passam tendo como pano de fundo locais como Israel e Palestina, País Basco, a França pós-atentado ao Charlie Hebdo, e a ilha grega de Lesbos, epicentro da crise de migrantes e refugiados no Mar Mediterrâneo, trazendo um retrato de parte da geopolítica mundial seja nas imagens ou nas entrevistas feitas.
Na verdade, o diretor parece não levar o filme tão a sério ou ser tão pretensioso como geralmente são os cineastas. Ou talvez isso seja apenas a impressão que ele quer passar sobre o filme, brincando com quem o assiste. Como revela em uma entrevista, o que Iván faz é tentar rir de si mesmo, trazendo assim críticas também ao “progressismo” em geral, ou como se vêem os progressistas como ele, que talvez se pensem mais ativistas do que de fato são. Seu pai, por exemplo, jornalista internacional, rodou o mundo mas quase sempre cercado de engravatados, próximos a presidentes e nunca perto de um conflito como ele imaginava quando se despedia desde pequeno no aeroporto. O mais próximo de uma zona de conflito que o jornalista Martín esteve foi na ocupação fracassada de um quartel por um pequeno grupos de militares na Argentina, uma curiosa história que o filme também tenta remontar.
Nessa busca, o frívolo Iván ainda pode surpreender o espectador no final.
O filme está em cartaz no Cine Metrópolis, na Ufes, e no Cine Sesc Glória, no Centro de Vitória.
AGENDA CULTURAL
Los Territórios, de Iván Granovsky
Drama, Brasil, Argentina, 2017,101’, Cor, Legendado
No Cine Metrópolis: 11, 12 e 13 de junho, às 19h45 (sessão inclui também o curta-metragem The Beast)
Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5 (meia)
No CineSesc Glória: 12 e 13 de junho, às 18h30.
Ingressos: R$ 6 (inteira), R$ 3 (meia-entrada e comerciários) e R$ 3,60 (conveniados e comerciantes).