Segundo noticiado na imprensa corporativa estadual, a catarse palaciana aconteceu em coletiva de imprensa realizada nesse domingo (8), quando Paulo Hartung afirmou que a mudança de planos “é uma coisa extremamente injusta”.
Afirmando que “o impacto da presença da Vale é no Espírito Santo, e não é pequeno”, Hartung reclamou que a destinação dos recursos para a ferrovia capixaba seria a grande “possibilidade de a Vale deixar um legado para o Espírito Santo, depois desses anos todos de escoamento de produção pelo nosso território”.
Pra bom entendedor, é possível facilmente ler a condição de “traído” a que Paulo Hartung se expôs. O volume de facilidades concedidas à poluidora, em todos os seus mandatos, tangencia (ou é atravessado por) a imoralidade.
Licenças de Operação (LOs) vencidas há mais de uma década; Termos de Compromisso Ambientais (TCAs) inócuos; fiscalização pífia contra o pó preto e demais poluentes ambientais; sucateamento (depois da tentativa de extinção fracassada) forçado do órgão ambiental licenciador e fiscalizador; desrespeito aos representantes da sociedade civil nos conselhos de meio ambiente, ausência absoluta de transparência e diálogo com a população e o movimento ambientalista – ações e inações fartamente documentadas em requerimentos e denúncias feitas aos órgãos oficiais, muitas delas noticiadas neste Século Diário.
Repercutindo a fala do governador nas redes sociais, a ONG Juntos SOS ES Ambiental criticou a prática hartunguista de “negociar saúde e qualidade de vida a troco de uma ferrovia”. Ferrovia essa “que com certeza poderia ser paga pelo Estado se não fossem tantos incentivos fiscais destinados a esta poluidora e a omissão do Estado em cobrar os prejuízos causados ao SUS [Sistema Único de Saúde] com o tratamento das doenças respiratórias e cardiovasculares”.
O noticiário corporativo capixaba mencionou também as queixas de Paulo Hartung contra os empresários locais e o secretário de Coordenação de Projetos do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Tarcísio de Freitas, que defende a posição do governo federal no caso.
O governador anunciou ainda que irá acionar a Justiça Federal, ainda esta semana, alegando ilegalidade na operação de investir recursos de renovação de uma malha ferroviária em outra.
A concessão da EFVM está sendo antecipada em nove anos, pois venceria apenas em 2027. Em ano eleitoral com disputas acirradas, Michel Temer tratou de garantir mais uma grande obra nos últimos instantes de seu mandato e partilhá-lo com o time do agronegócio do Centro-Oeste brasileiro, com quem “tem batido uma boa bola” na aprovação de medidas que favorecem o consumo de agrotóxicos e a ampliação da fronteira agrícola e das monoculturas de commodities.