Tudo começou em 2012 quando a artista plástica Yvana Belchior decidiu começar a expor suas obras na parede externa de sua casa, no bairro Santo Antônio, em Vitória. “Depois de superlotar a casa com quadros, comecei a colocá-los ali”. Não demorou muito para que os amigos artistas começassem a pedir para expor seus trabalhos também ali, ao ar livre. Um pé de bouganville, com suas flores coloridas e tronco retorcido subindo até o segundo andar da casa formam uma arte natural e complementar ao muro.
Assim surgia o Emparede Contemporânea. “Passamos por vários artistas e vertentes, com quadros, pinturas na parede, objetos, esculturas, performance, instalações. Já tivemos objetos valiosos de artistas de renome nacional e nunca tivemos problemas de furto ou danificação”.
Aos poucos outras oportunidades foram “invadindo” a casa e incorporando novos espaços e temas, expandido o conceito para além da galeria, como um centro cultural e ambiental. Ao ganhar uma doação de cadeiras antigas de cinema, a sala de entrada da casa foi transformada em sala de cinema, onde funciona um cineclube. Em seguida, uma sala um pouco menor virou uma galeria de arte interna, contando com iluminação, um pouco mais próxima de que seria uma galeria tradicional, mas com as possíveis intervenções de uma casa normal, como cachorro transitando ou o cheiro de comida no ar.
Seguindo adiante, o último espaço “tomado” foi o quintal nos fundos da casa, onde a própria curiosidade dos visitantes levavam a querer conhecer o projeto desenvolvido por Rogério Caldeira, marido de Yvana, de cultivo de abelhas nativas sem ferrão, que cumprem um papel fundamental para a vida no planeta e alimentação da humanidade. Saraus e eventos musicais também acontecem no local. Assim, o local estabeleceu as identidade que traz hoje: artes em geral, o cinema em específico e o meio ambiente, abordado por meio das abelhas.
De acordo com Yvana, hoje o público que visita o espaço é equilibrado, incluindo tanto pessoas de fora como do bairro, com destaque para os grupos que vão desde escolas de ensino infantil e fundamental até cursos de ensino superior de áreas como Nutrição e Medicina Veterinária.
Do interesse pelas abelhas sempre vinha a pergunta sobre mel, se havia para provar ou vender e, assim, o Emparede passou a oferecer o produto por meio de parceria com produtores capixabas, uma forma também de contribuir com recursos para a manutenção do centro cultural, que tem poucos apoios financeiros. A produção cerveja artesanal, hobby de Rogério e produzida no próprio quintal da casa, também pode ser adquirida no local.
“Diria que é mais ou menos assim: algumas pessoas vêm com intenção de ver arte e cultura e acaba vendo as abelhas e já acabam recebendo uma abordagem da questão ambiental. Por outro lado, pessoas vêm com intenção de conhecer as abelhas e ter uma aprendizagem ambiental e acabam vendo também arte e cultura, com exposições e cinema. As coisas se somam”, explica Rogério.
Mas como é viver dentro de um espaço ecocultural? Ou melhor, como é viver numa casa que também é um centro cultural e ambiental?
“Isso já virou parte da nossa realidade. Ao abrir o espaço da casa, temos o entendimento muito claro que é um espaço que conseguimos ofertar para a comunidade”, responde Rogério, lembrando que muita gente tem medo ou receio de abrir suas casas para outras pessoas.
“O mais interessante é a reação das pessoas quando entram, se perguntam se é uma galeria ou uma casa. Estamos sempre juntos fazendo a mediação para dizer que é uma espaço singular que carrega as duas coisas, é de cultura e arte, tem um meliponário, mas também exige uma rotina de casa, de pessoas que dormem, vivem e convivem ali, algo que é difícil de encontrar em outros espaços culturais”, explica.
Para Rogério, a grande vantagem de ter uma espaço cultural e ambiental que também é casa, é a forma de receber e acolher, muito diferente do padrão tradicional de um museu, por exemplo, estabelecendo uma relação muito próxima com o visitante, com um diálogo mais leve.
Yvana considera que, ao abrir a casa, ampliaram os contatos e descobriram outras pessoas com perfis e interesses próximos que não conheciam, ajudando a aproximar artistas e vizinhos. “É fantástico poder oferecer uma pouquinho dessa realidade da cultura, que às vezes transborda na gente, mas não consegue alcançar outras pessoas na comunidade”, diz a artista, alertando para a pouca oferta cultural e de atividades ecológicas não só na região de Santo Antônio, um bairro periférico, como de maneira geral no Espírito Santo e no Brasil.
“Quem dera se outras pessoas também conseguissem transformar suas casas em espaços culturais. Todo mundo tem coisas para transmitir, vivências para dividir, mesmo que de forma sutil. Se estiverem organizadas, as pessoas podem transmitir ensinamentos um para o outro”, reflete Rogério.
Quem dera. E tomara. Tomara que o Emparede possa servir de inspiração.
INFORMAÇÕES
Emparede Arte Contemporânea e Meliponário Emparede
Localização: Rua Albuquerque Tovar, 41, Santo Antônio – Vitória/ES
Página no Facebook: www.facebook.com/pg/EmparedeGaleriaDeArte
Contato: (27) 99983-3068