No ar
A Rádio Tribuna FM entrou no ar depois de muitos encontros e desencontros. Muitos fatos ocorreram antes disso. Transmissor com defeito de fabrica, cartucheiras problemáticas, torcida contra dos concorrentes. Mas colocamos no ar no prazo estabelecido, virando noites, com toda equipe presente dia após dia.
Até o pessoal que veio montar a torre se envolveu, principalmente quando ouviram o técnico da Gazeta, vizinha da Tribuna na Fonte Grande, perguntar a eles qual seria a frequência para sintonizar, desdenhando. Ele não acreditava que iríamos entrar no ar no tempo estabelecido pelo ministério.
Um dos instaladores da torre (pessoal do sul do país) ouviu o desdenho da pessoa citada. Ele desceu e perguntou: “Quem é esse senhor e o que é aquela casa?”. Dissemos que era técnico da Gazeta e que aquilo era a casa dele e dos transmissores. Ele retrucou: “Pois diga àquele senhor que, se depender de nós, a sua rádio vai entrar no tempo certo”, e subiu rapidamente, furioso. E a aprontaram dois dias antes. Um deles caiu da torre e viu a rádio ser inaugurada na cama do hospital aqui em Vitória. Não esqueço essa gente!
A galera da rádio, reunida no estúdio no dia de entrar no ar, ficou emocionada quando ouviu a primeira gravação, voz de Eliakim Araújo, com o tema Rocky II de fundo. Fui ver esse filme no Rio e comprei o LP importado. No filme, Rocky Balboa não desistia nunca e, como estávamos em momentos parecidos, na ânsia de ir em frente, quis colocar sua música na abertura oficial da emissora como uma lembrança.
Baseado no filme e em nossa dificuldade, fiz um quadro com a figura de Sylvester Stallone com os punhos cerrados e virados para cima e embaixo os seguintes dizeres: “Persistência: a razão da vitória”. Esse quadro foi colocado na minha sala. Era o que a gente sempre teve: persistência!
O ‘case’ Asas
Trouxe dos Estados Unidos um folder de uma rádio que tinha uma asa aberta como mote. Pegamos aquilo, a criamos “Tribuna – A Força do ar”. Confeccionamos plásticos com essa asa, nas cores preta e prateada, e distribuimos nos Pit Stops. Muitos carros em Vitória usavam esse adesivo no vidro.
Rick Wakeman
Não me recordo quem o trouxe a Vitória. O musico do Yes talvez tenha sido uma das primeiras aparições internacionais famosas por essas bandas. A Rádio Tribuna conseguiu ser a promotora do show e fizemos uma entrevista com ele, tendo à frente Edu Henning, que era nosso entrevistador oficial.
Woops
O conjunto musical Woops fazia muito sucesso no Estado. Era de Vila Velha, sob o comando de Paulinho e seu irmão. Pedimos que eles colocassem voz na introdução de algumas músicas escolhidas por nós. Eles gravaram no próprio estúdio e ficou sensacional. Eles imitavam o Bee Gees, e bem! Transformamos essa ideia em vinhetas para a rádio, elas foram ao ar, e marcaram os ouvintes.
Estágio fora
João Santos ficou feliz com sua rádio em Vitória. Ele tinha me avisado que não queria ser envergonhado com uma coisa pífia. A rádio era a sensação do momento, modéstia à parte. Ele então me chama ao Rio novamente, desta feita junto de Monica, minha mulher.
Em seu apê de luxo em Ipanema, ele fala comigo, como se fosse um segredo. “Quero que você vá para os Estados Uniudos se aperfeiçoar em rádio e televisão, pois voce será um dos que ficarão à frente dessa rede que pretendo montar no Espírito Santo”.
Fui e fiquei 40 dias em rádio e televisão. Foi tudo facilitado, já que a Bonneville Media Communication, na figura de Douglas Borba, abriu as portas de seus complexos de rádio e TV em Nova York, Salt Lake City, Seatlle e depois Los Angeles. Aprendi muito.
Douglas Borba rodava sua gravação de curiosidades no programa Jairo Maia e levou anos rodando ali. Quem não se lembra do “permita-me um momento”? Era um dos programas da Bonneville.
A fatalidade
Tinha voltado dos Estados Unidos já fazia um mês, João Santos entrou na minha sala (coisa difícil dele fazer) e diz “…estou muito satisfeito com seu trabalho. Vamos em frente…” e saiu.
Dois dias depois ele embarcava para o Paraguai, em avião particular onde estava escolhendo terras para montar uma fábrica de cimento no país vizinho. Mas o avião sofreu um acidente, morrendo ele, um politico que o acompanhava e o piloto.
Muitas coisas aconteceram em seguida que não merecem serem totalmente descritas. Para concluir, arrumaram um jeito de me dispensar da Nassau sem mais nem menos. Fui parar no olho da rua. Eu e Geraldo Sobroza. Ou seja, fiquei órfão profissionalmente, injustamente. Mas Deus sabe o que faz e castigou alguns envolvidos…
Inábeis
João Santos Filho havia colocado na direção da empresa quem não tinha nada a ver com comunicação. Um coronel do Exército da reserva, um administrador sem noção para o negócio, e uns jornalistas que se bastavam. Mas havia um boato interno que João Santos iria mudar tudo isso quando voltasse de viagem fatídica.
O momento
Passado uns dias, fui comunicado que seria demitido. O motivo não ficou claro para mim até hoje. Saimos eu e o sr. Geraldo. Mesmo assim fui chamado a Recife para conversar com os diretores de lá, membros da família. Perguntaram por que eu não seguia as normas impostas pela nova direção. Respondi que simplesmente não as entendia e que era difícil segui-las. Disse também que elas eram equivocadas para os padrões da empresa. “Por isso que você foi demitido, por não seguir as normas da nova diretoria em Vitória”, disseram eles.
Cemitério
Já que estava em Recife, pedi para ir ao cemitério me despedi de João Santos Filho, que foi enterrado no jazigo da família, ao lado do filho dele mais novo, morto em acidente de carro. Disse que queria fazer isso, pois o pessoal de Vitória (os inábeis) não me chamou para embarcar no avião fretado para o enterro. Foram todos, menos eu.
Eles sabiam da pretensão de João Santos comigo e me igonoraram de propósito. Em Recife colocaram um motorista à minha disposição. Visitei o túmulo, me despedi dele, entrei no carro e fui para o aeroporto. Estava consumada minha saída do Grupo João Santos. Mas depois eu voltaria. Caprichos do destino.
O grupo em Recife nomeou seu irmão mais velho para assumir a Nassau. Com ele vieram umas pessoas esquisitas, que aqui ficaram. O pessoal da rádio começou a fazer corpo mole.
A luta dos meninos
Aqueles que acompanharam a luta da instalação da Tribuna FM ficaram revoltados com a maneira com que sai da empresa. E principalmente chateados com o substituto, um sujeito que nada tinha a ver com rádio e foi denominado de “Paquinha”, diminuitivo de paca.
Vendo que o Sindicato dos Radialistas não se pronunciava a respeito deste ato, Miguel Roldan, Guarnadir Silva e Luis Carlos Coelho resolveram entrar para a entidade, se tornaram diretores e lá fizeram uma “revolução”. Pelo menos serviu de consolo para mim, fora a dinâmica sindical que deram ao órgão representante da classe.
Próximo capítulo o de número 10 – Fase pós Tribuna até governo Gerson Camata.