Rogério Medeiros
Fiquei algum tempo descansando após me “dispensarem” da Tribuna. Uma vez, com Zach e Ranuze, ainda pequenos, na frente do prédio onde morávamos, parou um fusca e dele saiu um sujeito de cabelos grisalhos e me disse¨ Você que é o Mignone? Te sacanearam lá na Tribuna? Pois saiba que estamos de olho naqueles caras. Esta é minha solidariedade a este seu momento”.
Atônito, vi que era Rogério Medeiros, então presidente do Sindicato dos Jornalistas, naquela ocasião em acordo salarial com a Tribuna. Impetuoso, soube depois que Rogério endureceria o acordo coletivo, principalmente com o senhor Helio Esteves, então na administração geral.
Antário Filho e a Tropical FM
Momentaneamente fora do rádio, fui procurado pelo jovem Antário Filho. Veio e disse que estava montando uma FM e que gostaria que eu o ajudasse. Ele já conhecia a fama da Tribuna FM como rádio de ímpeto no mercado. Eu e ele fomos até o local onde estava sendo montada a rádio, embaixo de um dos prédios do colégio deles (Faesa), em Itaquarí, Cariacica.
Fiquei impressionado com a falta de tudo. Aí resolvi ajudar aquele rapaz. Dei uns ajustes nos estúdios, pedi para mudar os equipamentos, que já haviam adquiridos, mas que não serviam, ajudei na seleção do pessoal (muita história) e consegui um feito inédito para que a rádio tivesse discoteca. Naquela época, era impossivel. Hoje, com o advento da internet, pode qualquer coisa.
Na época, nenhuma rádio podia ir ao ar sem muitos discos. A Tropical não tinha NENHUM. Através do saudoso Marcos Jose Lima, o Marcão, que era representante da famosa CBS, foi feito uma parceria, tida como inédita pela gravadora, com envio de caixas e mais caixas de LPs variados. Eram quase todos os discos que haviam sidos lançados nos últimos dez anos.
Entrou no ar com especiais de 1 hora de Roberto Carlos, Julio Iglesias, Ray Conniff e por aí afora. Um mês depois, chega em Vitória a figura máxima da CBS no Brasil na época, Roberto Augusto, com um disco de ouro para a emissora. Foi a única rádio do país a ganhar um disco de ouro com menos de 90 dias no ar.
Uma turma boa começava na Tropical, com muita garra: Kazinho, Fabio Pirajá, Juninho Megahertz, Toninho Hulk, Roni técnico, Tobias, Nivaldo Passamai. Depois vieram os outros.
Lembro que levei aquele quadro do Rocky II para lá, pois a rádio iria precisar de muita “persistência” para ficar no ar e ter sucesso, como teve a Tribuna. Coloquei na parede onde seria o estúdio, pois estava ainda em construção. Era o retrato de Rocky, com os punhos levantados e os dizeres; “Persistência – A Razão da Vitoria”.
Antário Filho nunca mais deixou ninguém mexer naquele quadro, até ser morto naquela noite fatídica. Antarinho era um cara entusiasta, educado e honesto, bom caráter. O quadro ficou lá, respeitado por todos, até um dia eu voltar a trabalhar na Tropical e tirar o quadro. Mais isso é outra história…
Gerson Camata e a campanha
Camata entrava em campanha para o governo do Estado. Sabendo que eu tinha saído da Tribuna, me convidou para seu escritório de campanha política chefiado por José Moraes. Remunerado, fiquei lá até ele se eleger governador. O escritório era na Gama Rosa, no Centro. Ali foi meu primeiro contato com as nuances da política e com os políticos.
Lembro-me da peregrinação de pessoas naquele lugar. Na realidade, o artífice de toda campanha foi Zé Moraes.
Lembro-me, também, que cheguei a esboçar um livro de memórias (não tão como agora), em que constavam apenas lugares e nomes. Mas não foi em frente.
Andanças políticas
Certo dia, em campanha, eu e Gerson fomos almoçar na casa dele. Ele estava morando em Vila Velha. Lá estava Rita preparando o almoço. Após a refeição, Camata fala assim comigo: “Olha, tenho uns encontros esta tarde e quero que você faça uma coisa, toda vez que eu estiver demorando na conversa com alguém, você chega perto e fala, ‘Camata, estamos atrasados’! Só isso e se afasta”, disse ele.
No primeiro encontro, eu vendo que ele estava demorando muito em uma conversa, apliquei o que ele queria, cheguei e disse que ele estava atrasado. A resposta: ‘pode deixar, nunca estou atrasado!’.
Nunca mais eu disse que ele estava atrasado. No fim, Camata também era um grande gozador, zoador!
Na época que ainda era deputado, lembro-me de um episódio dele em uma viagem para Brasília. Estávamos eu e Monica, indo para Brasília, após o casamento, no qual ele foi padrinho, mas não compareceu. Se redimiu, proporcionando uma semana em Brasília em seu apê funcional…com ele lá.
Naquela época, além de fartura de comestíveis a bordo, as xícaras de cafezinho e os talheres tinham a logomarca de cada empresa aérea.
Após a gente ter tomado o café, ele pegou a sua xícara e a minha, enxugou num guardanapo e falou: “Toma, guarda aí no bôlso”!
No próoximo capítulo do livro, o décimo-primeiro: Rádio ES.