Em pleno período eleitoral, o senador Magno Malta (PR) intermediou um acordo de paz entre o pai do juiz Alexandre Martins Filho, assassinado em 2003, e o juiz Antonio Leopoldo, acusado de mandante do crime, único ainda não julgado, passados 15 anos do assassinato.
O próprio Leopoldo contou como ocorreu a aproximação, que teria sido iniciada no gabinete do senador na última terça-feira (21) e selada publicamente na igreja evangélica Assembleia de Deus da Praia da Costa, em Vila Velha, nesse domingo (26). Nesta segunda-feira (27), Alexandre Martins de Castro, que é candidato a deputado estadual, fez uma publicação em grupo do Facebook dizendo que não irá mais atacar Leopoldo, que não guarda mais rancor do juiz aposentado, e que caberá às autoridades competentes definir o destino do magistrado.
Segundo Leopoldo, Alexandre Martins de Castro foi ao gabinete do senador Magno Malta para pedir apoio para a campanha eleitoral, quando o senador teria alertado que possui uma amizade de anos e ligações estreitas com o juiz Leopoldo. O senador ouviu, então, do pai do juiz assassinado que “depois muito pesquisar, estudar e investir, acreditava que o Leopoldo poderia ser inocente do crime”. Alexandre Martins de Castro (PRB) e Magno Malta são da mesma coligação nesta eleição.
Encontro foi registrado em “selfie” do pastor Marinelshington da Silva
Na mesma hora, Magno não hesitou e ligou para o juiz Leopoldo, que também se dirigiu para o gabinete do senador, onde se encontrou com Alexandre Martins de Castro. “Fui com minha esposa, conversamos muito, fizemos uma oração e choramos. Doutor Alexandre pai foi meu professor na pós-graduação e, nesses 15 anos, fiquei em silêncio e sempre respeitei a dor dele. O que aconteceu não tem nada a ver com a política, foi mesmo um encontro espiritual. Porque Dr. Alexandre também se converteu e mudou muito nesses anos”, disse Leopoldo.
Depois do encontro privado, ficou combinado que todos iriam para a igreja Assembleia de Deus da Praia da Costa no domingo (26), quando Alexandre de Castro recebeu uma oportunidade para discursar aos fieis. Com a presença de Leopoldo e sua esposa, houve o encontro público, que foi registrado em vídeo e circulou pelas redes sociais. No púlpito, Alexandre Martins chamou Leopoldo para um abraço e reafirmou que não o atacaria mais.
Julgamento
O juiz Antonio Leopoldo não soube afirmar se a declaração pública do pai do juiz assassinato o ajudará no processo. “Estou deixando tudo na mão de Deus, se ele fez isso acontecer [aproximação com o pai de Alexandre Martins], pode fazer com que o STF [Supremo Tribunal Federal] faça justiça, pois sou inocente”.
Antônio Leopoldo está cada vez mais próximo de ir a Júri Popular pelo crime. Os recursos da defesa do magistrado estão se esgotando no Supremo. Em julho deste ano, a ministra Rosa Weber havia negado novo recurso extraordinário à defesa do juiz aposentado, que continua pleiteando a nulidade do processo.
No dia 15 de abril deste ano, o Tribunal de Justiça (STJ) havia remetido o processo para análise final do Supremo, mantendo a sentença de pronúncia (proferida em primeiro grau e mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado – TJES) que pode levar Leopoldo a Júri Popular como um dos mandantes do crime. No entanto, reconheceu que existem erros no julgamento de primeiro grau, que deveriam ser avaliados pelo STF.
No julgamento do caso do juiz assassinado, o coronel reformado da Polícia Militar, Walter Gomes Ferreira, e o ex-policial civil e hoje empresário, Cláudio Luiz Andrade Batista (Calú), sentaram-se no banco dos réus. Após mais de cem horas, o Conselho de Sentença absolveu Calú e condenou o Coronel Ferreira por margem apertada (quatro votos contra três). O militar foi sentenciado a 23 anos de prisão, mas recorre do resultado.
Na denúncia, o Ministério Público afirma que o trio teria articulado a morte do juiz Alexandre. A tese de mando, no entanto, perdeu força com o resultado do júri popular de Calú e Coronel Ferreira, com os depoimentos de testemunhas que defenderam que ele foi vítima de um latrocínio, roubo seguido de morte.
Também foram condenados os assassinos confessos Odessi Martins da Silva Filho, o Lumbrigão, e Giliarde Ferreira de Souza, e os intermediários do crime, Leandro Celestino, o Pardal, que teria emprestado a arma do crime; André Luiz Tavares, o Yoxito, que emprestou a moto usada pelos executores; os ex-policiais militares Heber Valêncio e Ranílson Alves de Souza, acusados de investigar a rotina do juiz; e o traficante Fernando Reis, o Fernando Cabeção, cujo nome surgiu no bojo das escutas telefônicas.
Todos eles foram beneficiados com a progressão da pena e estão em regime aberto, com exceção de Lumbrigão, que já tem direito à progressão do regime, e Fernando Cabeção, que responde a outros crimes.
O juiz Alexandre Martins foi morto na manhã do dia 24 de abril de 2003, quando chegava a uma academia de ginástica na Praia da Itapoã, em Vila Velha. Ele tinha acabado de estacionar o carro e foi baleado na rua. Na época, o magistrado integrava uma missão especial federal que, desde julho de 2002, investigava as ações do crime organizado no Espírito Santo.