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Documentário reúne depoimentos do ex-delegado Cláudio Guerra

A primeira noite do Festival de Cinema de Vitória contou com o lançamento em Vitória do documentário Pastor Cláudio, de Beth Formaggini, que compete na 8ª Mostra Competitiva Nacional de Longas. O filme reúne depoimentos do ex-delegado Cláudio Guerra, um dos poucos militares que revelaram as atrocidades do período da ditadura militar entre 1964 e 1985.

Já exibido em festivais de cinema, cineclubes e outros eventos em lugares com Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Santa Maria (RS) e também em festivais em outros países como França e Equador, o filme surgiu como desenrolar do trabalho de Beth como diretora de Memória para uso diário (2007), sobre os desaparecidos políticos da ditadura. 

Em 2012 foi lançado o livro Memórias de Uma Guerra Suja, em que Rogério Medeiros e Marcelo Netto reuniram depoimentos do ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), considerado um dos órgãos de repressão da ditadura, depois que ele deixou a prisão, já convertido e como pastor da igreja evangélica Assembleia de Deus. 

A partir das informações destes depoimentos, Beth conseguiu respostas para alguns dos casos que permaneciam sem esclarecimento da Operação Radar, que executou 19 integrantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no anos 70, como o caso de Itair José Veloso e Nestor Vera, cuja autoria do extermínio e da ocultação de cadáver foram assumidas pelo ex-delegado.  

Foi então que Beth veio a Vitória para entrevistar Cláudio Guerra, em companhia de Eduardo Passos, um psicólogo ligado ao movimento de direitos humanos que trabalha no atendimento de vítimas da ditadura. “O Cláudio sabia que nós não concordamos com as ações e crimes cometidos por ele, que estamos praticamente do outro lado. Ele sabia que estava falando com pessoas que foram contra a ditadura e a violação dos direitos humanos”, conta a diretora. 

Entretanto, Eduardo não aparece como antagonista, mas sim como entrevistador por meio de uma conversa cujo objetivo é esclarecer os fatos ocorridos. “Não é um filme panfletário. O que nos interessa é conhecer a história”, afirma. Assim, as perguntas e a condução da narrativa focam mais no aspecto histórico do que na curiosa biografia do terrível delegado que virou pastor.

A intenção não é ser neutro, pois o documentário deixa claro que não concorda com a interpretação da Lei de Anistia que deixa na impunidade diversos crimes cometidos por Cláudio Guerra e outros policiais e militares. “Você tem que escutar não só um lado, tem que ouvir as pessoas que participaram da história de todos os lados. O filme traz essa luz, revelações de uma pessoa que participou dessa engrenagem, desse mecanismo de repressão policial e que fala com o olhar de dentro”.

A obra cinematográfica caminha até hoje, mostrando que Guerra continuou como delegado e cometeu outros crimes mesmo depois da ditadura, indicando também a continuidade da política de extermínio no país.

“O Brasil não conhece, não sabe dos crimes que ocorreram na época da ditadura. Esses jovens que saem às ruas para defender a volta da ditadura fazem isso por ignorância, porque essa informação não circula. Colocaram panos quentes numa coisa recente”, destaca Beth. Para ela, o filme poderia ser usado nas salas de aulas nas escolas, contribuindo para entender alguns pontos e ajudando a sociedade a conhecer melhor a história.

Por enquanto, Pastor Cláudio circula por festivais e também é exibido em alguns cineclubes. A estreia no circuito nacional de cinema deve acontecer em fevereiro de 2019. É possível saber das novidades e andamentos da circulação do filme por meio da fanpage no Facebook

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