Nesta segunda-feira (10), os moradores de Domingos Martins (região serrana) lembram um ano da tragédia que matou 11 pessoas da comunidade e deixou nove feridos. No domingo, fizeram ato público e passeata pedindo justiça.
Cartazes pediam a punição dos responsáveis: “Não foi acidente. Queremos justiça” e “Que a justiça seja feita”, entre outros.
Os moradores pedem a condenação de Wesley Rainha Cardoso, que conduzia a carreta com pedras e causou o acidente, e do empresário Marcelo José de Souza, proprietário do veículo. Até agora, o motorista teve apenas sua carteira suspensa.
Eles foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPES) como responsáveis pelo acidente, mas ainda não foram julgados. O juiz do caso, de Mimoso do Sul, ainda ouve testemunhas.
O acidente
O acidente que matou os membros da comunidade de Domingos Martins comoveu o país. Várias das vítimas eram membros do grupo de dança Bergfreunde, tradicional na cidade.
O acidente ocorreu em Mimoso do Sul, na altura do km 450 da BR 101. Envolveu dois caminhões, um carro de passeio e o micro-ônibus que transportava o grupo.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o caminhão carregado de placas de granito foi o causador do acidente. O veículo fazia ultrapassagem no sentido Rio de Janeiro, quando perdeu o controle, invadiu a contramão e colidiu com o micro-ônibus, que vinha em sentido contrário.
O micro-ônibus, após ser atingido, invadiu a contramão e bateu na carreta com cerveja. Os dois veículos pegaram fogo. O Ford Ka, em seguida, colidiu com os pedaços de granito espalhados na via.
Guarapari
Uma outra tragédia no Estado ocorreu em Guarapari, em acidente que envolveu um ônibus da Viação Águia Branca, da linha São Paulo – Vitória: morreram 23 pessoas. O acidente envolveu ainda duas ambulâncias e a carreta que transportava rocha, no dia 22 de junho de 2017. Além das vítimas fatais, 20 pessoas ficaram feridas, sendo 12 levados para hospitais.
Nos dois casos, imagens feitas na ocasião dos acidentes mostram que um dos lados da pista era com uma única faixa, duas no outro lado. Não havia, portanto, possibilidade de manobra para escapar do acidente.
A responsabilidade da ECO 101 nestas e em outras tragédias vem sendo negligenciada. Isto porque a empresa tem a responsabilidade de duplicar a rodovia e não cumpriu sua obrigação.
Desta forma, a BR 101 se tornou uma das rodovias mais perigosas do país, particularmente pelo grande fluxo de veículos, e principalmente pelo transporte do granito, e do eucalipto da Aracruz Celulose (Fibria) e da Suzano. As empresas desta área utilizam carretas com até 30 metros de comprimento, que não raro formam comboios.
Existem denúncias de que foi para fugir de suas responsabilidades, que as empresas do consórcio capixaba Centaurus Participações S/A, que detinham 27,50% das ações, e ainda o consórcio gaúcho Grant Concessões, que tinha 14,5% das ações, deixaram o consórcio EcoRodovias Concessões e Serviços S.A. (ECS).
As empresas capixabas da Centaurus Participações S/A eram de seis grupos empresarias: Coimex, Águia Branca, A. Madeira, Urbesa/Arariboia, Tervap, Contek.
A mudança do quadro acionário na ECO 101 gerou muito desconfiança na sociedade. A empresa é de alta lucratividade, majora os preços de suas tarifas como quer, e não faz as obras necessárias.
Os dois acidentes maiores, particularmente dramáticos, além de centenas de outros com vítimas fatais duramente a concessão à ECO 101, ocorrem claramente em função da falta de duplicação da via.
Em editorial, Século Diário observou à época: “Ora, a Eco 101 sabe desde o primeiro dia de sua gestão quais são os trechos da rodovia mais vulneráveis a acidentes. Esses trechos que mais matam deveriam ser os primeiros a receber obras de melhorias. Isso se o compromisso do grupo fosse com as vidas e não com o caixa da empresa”.
A Eco101 é responsável por administrar 458,4 quilômetros do trecho capixaba da BR-101, que vai do trevo de acesso à cidade de Mucuri, no Sul da Bahia, até a divisa com o Rio de Janeiro. A área concedida corta 25 municípios do Espírito Santo, onde está maior parte da concessão. Os outros 17,5 quilômetros dos 475,9 da concessão estão dentro dos limites do estado da Bahia, informa a empresa em seu site.
A BR 101 deveria contar com mais 230 quilômetros duplicados até maio de 2019, como foi determinado no contrato original assinado em 2013, mas o consorcio EcoRodovias Concessões e Serviços S.A. (ECS) quer alterar o contrato, fazendo maquiagens, para se livrar de suas responsabilidades.
Enquanto empresários fogem às responsabilidades na administração da rodovia, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 187 mortos em 2017 nas rodovias federais do Estado. No ranking nacional, o Espírito Santo ocupou o 11º lugar com mais acidentes.