Vitória é uma das quatro cidades brasileiras que recebe a temporada de circulação da Cia Truks, de São Paulo, reconhecida por seu trabalho com o teatro de objetos e bonecos. O grupo estará na capital capixaba entre 5 e 7 de outubro, quando realiza espetáculos, oficina, lançamento de livro e bate-papo com público e grupos de teatro, todos eventos gratuitos. Além de Vitória, a temporada também passa por Muriaé (MG), Cataguases (MG) e Aparecida de Goiânia (GO).
O grupo é um dos principais expoentes do teatro para crianças no Brasil e já recebeu prêmios importantes de entidades como o Ministério da Cultura e a Associação Paulista de Críticos de Arte. O Teatro de Objetos é um jogo teatral que permite a criação de cenas criativas e inusitadas. Os objetos ganham vida e se transformam a partir da imaginação, em presente diálogo com o público.
“Um maço de cigarros pode ser o esconderijo de perigosos bandidos, um grampeador de papéis pode ser um jacaré feroz, um borrifador de água pode ser um camelo prestes a atravessar um grande deserto, algodões podem ser pintinhos, um chapéu preto pode simbolizar a morte, e assim por diante”, sugere o grupo em seu site.
É essa dinâmica que o Truks traz na Oficina Teatros de Objetos, com inscrições abertas até o dia 30 de setembro (domingo). A oficina será ministrada nas manhãs dos dias 6 e 7 de outubro no Palácio Sônia Cabral, Centro de Vitória. Na sexta-feira (5) e no sábado (6), às 19h, o grupo apresenta o espetáculo Sonhatório no Colégio América (Mata da Praia, Vitória) e no Palácio Sônia Cabral, respectivamente, com entrada gratuita. Após a apresentação, haverá bate-papo com o público.
Foto: Alberto Greiber
Henrique Sitchin, diretor da obra, conta que o Teatro de Objetos é uma prática teatral relativamente nova, tendo em conta que o teatro existe desde a Grécia Antiga. Remonta ao final dos anos 70 do século XX, a partir de artistas europeus. Em seu caso, conta que o trabalho com essa técnica começou não a partir dos estudos, mas sim de um fato inusitado ocorrido em plena prática teatral, ao apresentar um espetáculo de fantoche em que induzia as crianças a “apresentarem” os personagens.
“Quando falava do Rei da Floresta, um animal forte, que esperava e as crianças deveriam dizer ‘leão’, um disse ‘jacaré’. Tentei dar uma ludibriada, dizer que o jacaré dormia, que não veio, pois não tinha fantoche de jacaré. Mas o menino insistia. Estava numa sala de aula e outro menino levantou, foi até a mesa da professora, pegou o grampeador de papéis e disse: ‘toma o jacaré’. Foi muito bonito, A partir desse dia troquei os bonecos por objetos”, conta.
Ele enxerga que assim estimula o pensamento subjetivo e poético, utilizando os objetos como metáforas da realidade, como a poesia faz com as palavras. “É um jeito de fazer teatro ao mesmo tempo muito poético, muito cômico, a gente transfere os personagens para os objetos”. Em Sonhatório, três supostos loucos se encontram no refeitório de um manicômio na hora do almoço, mas não há comida. Começam, então, a brincar e imaginar histórias. Uma colher de pau representa uma cozinheira, garrafas térmicas viram pinguins, sacolas de lixo são águas vivas. “É um espetáculo muito divertido e uma técnica que agrada em cheio a pais e filhos. Aos filhos pela questão simbólica, porque as crianças fazem isso com tudo, e aos pais pela criatividade, são coisas bem inusitadas, diferentes e muito interessantes”.
A peça aborda o sonho e a loucura. Com final surpreendente, o espectador verá que os loucos não são exatamente loucos. “Com a peça a gente indaga: quem são os loucos do mundo atual? Os loucos são os sonhadores? Achamos que não, que sonhar é uma atitude que nos mantém saudável. A peça diz que louco é quem não sabe sonhar”, explica o diretor.
Para quem quiser aprofundar mais sobre a experiência do grupo com o trabalho de teatro para crianças, haverá também um bate-papo com grupos de teatro no dia 7, às 14h, juntamente com apresentação do livro Teatro para crianças: problemáticas e solucio-lunáticas, lançado pelo grupo em 2015. Na obra, busca-se como elemento de fundo uma crítica aos rumos do teatro infantil no país, que Henrique considera que tem se tornado cada vez mais uma ferramenta utilitária, que precise ter lições, ensinar coisas ou vender produtos.
“A gente acredita que a função do teatro não é essa. É trazer as crianças para a poesia, estar em conjunção com o universo poético delas. As crianças são poetas incríveis”. O livro fala da experiência do grupo com as crianças, como reagem aos espetáculos, entre outros. “A gente combate a ideia de que a criança é uma página em branco em que os adultos vão escrever suas regras. Temos que olhar bem para as crianças, entendê-las melhor, valorizar seus sonhos. Elas têm angústias e desejos”.
AGENDA CULTURAL
Apresentação do espetáculo “Sonhatório” – Cia Truks (SP)
Dia 05 (sexta-feira), 19h, no Colégio América – Rua João Nunes Coelho, 150, Mata da Praia.
Dia 06 (sábado), 19h, no Palácio da Cultura Sônia Cabral – Praça João Clímaco, s/n, Centro (ao lado do Palácio Anchieta).
Entrada gratuita (os ingressos serão distribuídos uma hora antes das apresentações).
Classificação: Livre
Bate-papo com grupos locais e divulgação do livro Teatro para crianças: problemáticas e solucio-lunáticas
Dia 07 de outubro (domingo), às 14h
Palácio da Cultura Sônia Cabral (Centro)
Entrada gratuita
Oficina Teatro de Objetos
Dias 6 e 7 de outubro de 8h às 12h no Palácio da Cultura Sônia Cabral
Inscrições até 30 de setembro no site Cena Escola de Atores: https://cenaescoladeatores.com.