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Expansão de eucaliptos sobre APPs é aprovada na Assembleia

Sob a alcunha de Política Estadual de Incentivo à Cadeia Produtiva de Base Florestal do Espírito Santo, o Projeto de Lei nº 186/2018, do Executivo, foi aprovado na última semana pela Assembleia Legislativa, com apenas três votos contrários: dos deputados Euclério Sampaio (PSD) e Bruno Lamas e Sergio Majeski, ambos do PSB.

“O (Programa) Reflorestar deveria beneficiar apenas floresta nativa, mas este projeto visa, em grande parte, beneficiar a expansão de florestas exóticas, como eucalipto e pinus, sem nenhum cuidado que os favorecidos tenham que obedecer. Eles deveriam pelo menos ter exigências para as áreas de nascentes, de produção de água”, justificou Majeski, ao votar contrariamente à matéria.

De fato, o texto do PL afirma que o objetivo é fomentar o desenvolvimento sustentável na expansão de áreas com florestas produtivas e que “a proposta visa complementar e potencializar as ações do Programa Reflorestar, organizando e integrando em todo o Estado, os diferentes programas de silvicultura”.

“Eu vejo como um projeto perigoso introduzir nessas áreas especiais de APP [Área de Preservação Permanente] o eucalipto, mesmo consorciado com outras culturas. Por quê? Porque ele é predominante, ele se sobrepõe, ele é mais agressivo. Então certamente as outras culturas plantadas ao mesmo tempo terão mais dificuldade de sair”, pondera Valmir Noventa, da coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Mesmo reconhecendo a importância da produção madeireira dentro das propriedades familiares, demanda aliás reivindicada pelo Movimento há muito tempo, Valmir questiona o foco no eucalipto.

“Acho que o Estado, pelas condições climáticas e econômicas que enfrentamos e vários outros fatores, tinha que suprimir definitivamente nas áreas de APP qualquer espécie exótica, especialmente o eucalipto. Por conhecer a sua história, seu maleficio ambiental no Espírito Santo e no Brasil como um todo”, argumenta.

“Por que não incentivar o plantio de bambu?”, provoca o camponês. “Uma planta extremamente produtiva, tanto pra madeiramento como para lenha, tem infinitas utilidades, talvez até mais que o eucalipto, uma produção enorme por hectare comparando com o eucalipto e do ponto de vista ambiental muito mais adequado”, defende.

Grande incentivador do plantio de bambu no estado, Daiju Sam, abade do Mosteiro Zen Budista Morro da Vargem, em Ibiraçu, no norte capixaba, reclama uma política pública de incentivo ao bambu sul-americano, como acontece na vizinha Colômbia. “Tem técnicos na Seag [Secretaria de Estado de Agricultura, Aquicultura, Abastecimento e Pesca] que conhecem o bambu. E tem exemplos de países ao nosso lado”,

Mais produtivo, versátil e ecológico

Em 2017, Daiju Sam realizou uma grande mobilização em prol do bambu no norte do Estado, envolvendo prefeitos, técnicos de órgãos públicos, pequenos agricultores e outras lideranças religiosas em visitas técnicas a São Paulo e à Colômbia, para conhecer melhor as possibilidades econômicas e ecológicas do bambu Guadua.

“Nós estamos atrasados, porque o bambu está na frente do eucalipto, inclusive pra produção de polpa de celulose, ele produz mais em menor tempo, não degrada o solo. Por metro quadrado ele produz muito mais que o eucalipto”, informa.

O bambu já tem uma cadeia industrial toda estabelecida, alega Daiju Sam. “Piso, janela, porta, divisória, com muito mais elegância e durabilidade”, afirma. O problema, explica, é que o bambu ainda tem um aspecto rude primitivo, com o que se faz apenas improvisações e pequenas obras rústicas e provisórias, como “galinheirinhos, curralzinhos, chiqueirinhos”.

Bem diferente da Colômbia, conta, onde já existem grandes construções, com mais de 200 anos. “O bambu que a gente tem é de baixa qualidade”, diz, defendendo o plantio de espécimes da Família Guadua, originária da Amazônia, inclusive brasileira, e muito bem adaptada à Mata Atlântica.

“Não precisa trazer bambu da China ou do Japão, tão exótico. Mas na América do Sul nós temos um bambu que na Colômbia é plantado nas áreas íngremes e consorciado com café. A recuperação de matas ciliares é toda com bambu”, entusiasma-se.

As árvores nativas da Mata Atlântica, esclarece, não possuem o mesmo potencial de recuperação de mata ciliar que o Guadua. “Elas [árvores da Mata Atlântica] não têm, na raiz, o mesmo ‘amarrado’ que o bambu tem. O bambu trança tudo e é a maior proteção pra margem de rio”, explica.

“O problema dos homens púbicos é não pensar à frente”, critica. “O homem público tem que ser visionário, não pode pensar só no presente. A gente está vendo trinta, quarenta anos na frente, até sofrendo”, compara. “Quando a gente plantava árvores, aqui no Morro da Vargem, reflorestando a área do Mosteiro, o ‘chique’ era arrancar árvore. Olha que equivocado! E a gente fazia o contrário, plantava. Hoje se vê que civilizado é plantar”.

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