Manifestação única do norte do Espírito Santo, o Ticumbi ganhou uma cartilha explicativa que vai ser difundida em escolas do Estado. O material chamado Cultura Popular Quilombola: O Baile de Congo de São Benedito de Conceição da Barra foi elaborado por Michele Schiffler, professora do Departamento de Letras e Línguas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), contando com o apoio de Jonas Balbino, integrante do grupo, e as fotografias de Aline Meireles. A obra ainda ganha a beleza das ilustrações de Thiago Balbino, artista plástico neto do Mestre Terto, uma das figuras mais emblemáticas do Ticumbi.
Em 50 páginas, o livreto traz um pouco da história e contextualização sobre a população negra, sua relação com a África, o processo da formação dos quilombos e as manifestações culturais surgidas a partir deles na região, como o Jongo e os Reis de Bois.
O grupo do Baile de Congo de São Benedito de Conceição da Barra, que teve Tertolino Balbino (Terto) como mestre por mais de seis décadas, é o destaque da obra, que apresenta relatos e fotografias de diferentes pessoas e momentos da celebração, além de fragmentos em textos das falas recitadas pelos participantes das apresentações.
Um dos objetivos do material é contribuir com o cumprimento das leis 10.639 e 11.645, que versam sobre a inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena no ensino e nos materiais didáticos nas escolas.
Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), foi elaborado o material e também feita uma tiragem de 500 exemplares, que será distribuída para as bibliotecas em escolas do território do Sapê do Norte, onde se encontram os quilombos em Conceição da Barra e São Mateus, e também uma parte para colégios da Grande Vitória e outras instituições afins como o Museu Capixaba do Negro (Mucane), Biblioteca Pública Estadual e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O material também foi disponibilizado pela internet.
Pesquisadora da literatura oral e performance cultural, Michele Schiffler começou a acompanhar o Ticumbi quando chegou ao Espírito Santo para fazer um doutorado em 2010, seguido de um pós-doutorado em 2015.
“Investiguei um pouco do Ticumbi no sentido das interfaces com as culturas de matrizes africanas. Meu projeto de pós-doutorado era sobre como trabalhar as identidades de forma articulada com as leis 10.639 e 11.645, pensar como a linguística poderia contribuir para questões culturais, políticas e identitárias”, explica a professora da Ufes e idealizadora da cartilha.
“Foi uma maneira de dar uma devolutiva para as comunidades e poder trazer essa cultura e sabedoria para o ambiente da sala de aula, contribuindo para que a lei seja implementada de fato e não fiquei apenas no papel”.