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Poluição do ar mata 600 mil crianças por ano no mundo

Os mais novos dados sobre poluição do ar no mundo, divulgados nessa segunda-feira (29) pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – “Air pollution and child health: prescribing clean air” –, dão conta de que 600 mil crianças morreram em 2016 em todo mundo, em consequência da má qualidade do ar onde vivem. E reacendem a necessidade de reivindicar informações e controle ambiental mais eficientes no Espírito Santo, onde as maiores poluidoras do ar operam, há mais de uma década, com licenças ambientais vencidas.   

A região metropolitana da Grande Vitória é um dos poucos lugares no planeta onde o maior conglomerado demográfico de uma unidade federativa abriga um de seus maiores complexos industriais. A Ponta de Tubarão abriga duas das maiores unidades da maior mineradora do mundo e do maior grupo siderúrgico do planeta, a Vale e a ArcelorMittal Tubarão, respectivamente. 

Os dados reais sobre a poluição do ar produzida pelas duas gigantes, no entanto, são desconhecidos da população e, quiçá, pelos próprios órgãos ambientais oficiais. Diante da grandiosidade das estruturas industriais, o controle ambiental feito pelo Estado é um nanico. O monitoramento é frágil – com importantes lacunas de informação ao longo da série histórica – a fiscalização é insuficiente e os estudos científicos, incipientes. 

Sobre o déficit de dados, um bom indicativo é o trabalho de prospecção de informações feitos pela ONG Juntos SOS ES Ambiental, que protocola, continuamente, requerimentos de informações sobre o assunto no Instituto Estadual de Meio e Recursos Hídricos (Iema). 

O último foi feito há poucos dias da divulgação do novo estudo da OMS, quando a entidade reiterou seu pedido de esclarecimentos, que, como tantos outros feitos ao longo dos anos, continua sem resposta. Nestes, são questionados os números de diversos poluentes – dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono – emitidos em cada unidade da Vale e a da ArcelorMittal. 

A fiscalização também deixa a desejar e um emblemático caso que comprova a leniência dos órgãos licenciadores e o comodismo das indústrias foi a operação da Polícia Federal que culminou com a interdição das operações da Vale e da ArcelorMittal no mês de janeiro de 2016. 

“A Polícia Federal foi no porto e viu a poluição, os vereadores foram no porto e viram. Por que o Iema não vê também e toma as providências?”, questiona, indignado, o presidente da Juntos SOS, Eraylton Moreschi Junior. 

As graves lacunas de conhecimento científico sobre o assunto também já foram denunciadas pela ONG, em especial, durante uma das edições do Ciclo de Palestras em Qualidade do Ar em Ambiente Urbanos – Ciência e Tecnologia & Sociedade, promovido como parte de um projeto de extensão universitária da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em parceria com a entidade. 

Em maio último, a palestrante foi a professora Maria de Fátima Andrade, do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), que ressaltou, como uma das particularidades capixabas, a proximidade da população com as principais fontes poluidoras – Vale e ArcelorMittal – e a dificuldade em se identificar o quantitativo e origem dos poluentes, se das indústrias ou outras fontes urbanas.

Outro ponto que a pesquisadora destacou foi a importância do monitoramento da poeira sedimentável, que inclui o famoso pó preto, a urgência de se implementar tecnologias já existentes que permitem identificar a composição, e a origem das partículas que formam o famigerado pó.

“Todo os estudos que já foram feitos pra tentar elucidar essa dúvida não identificam completamente, mas já existem tecnologias que podem ser aplicadas pra ajudar nessa identificação”, recomendou.

Tais estudos, explicou, levam muito tempo e precisam ser permanentes e ágeis. Atualmente, ao contrário, os levantamentos são demorados e a divulgação, mais ainda, o que só favorece a impunidade dos poluidores. “Na prática, o que eles querem é ganhar tempo”, alertou.

Ar poluído atinge 93% das crianças

Em seu novo relatório, a OMS afirma que, todos os dias, aproximadamente 93% das crianças do mundo com menos de 15 anos (1,8 bilhão) respiram ar tão poluído que têm sua saúde e desenvolvimento expostos a graves riscos. Tragicamente, informa a Organização, muitas delas morrem: “em 2016, 600 mil crianças perderam a vida devido a infecções respiratórias agudas causadas por ar poluído”, afirma.

O documento foi lançado à véspera da primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde e revela que, quando mulheres grávidas são expostas ao ar poluído, têm mais propensão a dar à luz prematuramente e ter filhos pequenos, com baixo peso ao nascer. 

A poluição do ar também afeta o neurodesenvolvimento e a capacidade cognitiva e pode desencadear asma e câncer infantil. As crianças que foram expostas a altos níveis de poluição do ar podem estar em maior risco de desenvolver doenças crônicas no futuro, como as cardiovasculares.

“O ar poluído está envenenando milhões de crianças e arruinando suas vidas”, diz Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em notícia publicada no portal da OMS. “Isso é imperdoável. Toda criança deve ser capaz de respirar ar puro para que possa crescer e realizar todo o seu potencial”, complementa.

Uma das razões pelas quais as crianças estão particularmente vulneráveis aos efeitos da poluição do ar se deve ao fato de elas respiram mais rapidamente que os adultos, absorvendo assim mais poluentes. Elas também vivem mais perto do solo, onde alguns poluentes atingem picos de concentração – no momento em que seus cérebros e corpos ainda estão em desenvolvimento.

Recém-nascidos e crianças pequenas também são mais suscetíveis à poluição do ar em residências que usam regularmente combustíveis poluentes e tecnologias para cozinhar, aquecer e iluminar.

A noticia destaca as principais conclusões do relatório: A poluição afeta o neurodesenvolvimento, levando a resultados cognitivos mais baixos, afetando negativamente o desenvolvimento mental e motor; prejudica a função pulmonar das crianças, mesmo em níveis mais baixos de exposição; e, globalmente, 93% das crianças do mundo com menos de 15 anos estão expostas a níveis de material particulado fino (PM2.5) acima das diretrizes de qualidade do ar da OMS. São 630 milhões de crianças menores de cinco anos e 1,8 bilhão de crianças menores de 15 anos.

Além disso, aponta que, em países de baixa e média renda em todo o mundo, 98% de todas as crianças menores de cinco anos estão expostas a níveis de PM2,5 acima das diretrizes de qualidade do ar da OMS. Em comparação, em países de alta renda, 52% das crianças menores de cinco anos estão expostas a níveis acima das diretrizes de qualidade do ar da OMS; mais de 40% da população mundial – que inclui 1 bilhão de crianças menores de 15 anos – está exposta a altos níveis de poluição do ar no domicílio, principalmente com tecnologias e combustíveis poluentes; e cerca de 600 mil mortes entre crianças menores de 15 anos foram atribuídas aos efeitos conjuntos da poluição do ar exterior e interior em 2016.

Juntos, ainda segundo o relatório, a poluição do ar por cozimento nos domicílios e a poluição do ar exterior causam mais de 50% das infecções respiratórias agudas em crianças menores de cinco anos em países de baixa e média renda, bem como é uma das principais ameaças à saúde infantil, sendo responsável por quase uma em 10 mortes entre crianças menores de cinco anos de idade.

A Primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde teve início em Genebra nesta terça-feira (30), e objetiva proporcionar a oportunidade para os líderes mundiais; ministros da saúde, energia e meio ambiente; prefeitos; chefes de organizações intergovernamentais; cientistas; e outros a se comprometerem a agir contra essa grave ameaça à saúde, que encurta a vida de cerca de sete milhões de pessoas a cada ano. 

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