Parecer contrário ao projeto da Vale em antecipar em quase 10 anos o contrato de exploração da ferrovia Vitória-Minas, divulgado nessa segunda feira (5) no jornal Valor Econômico, é mais um capítulo no moroso processo de expansão da ferrovia até o município de Anchieta e de lá a Presidente Kennedy e Rio de Janeiro, de interesse do Espírito Santo, mas que foge à estratégia da mineradora.
Os planos da empresa nessa área, costumeiramente, não se desenvolvem junto aos interesses dos capixabas, assim mostra a história e pode ser observado no sucateamento da malha ferroviária capixaba, fruto do comodismo da gigante da mineração. Um dos exemplos é o transporte de passageiros até a capital mineira, que só há pouco tempo recebeu melhorias.
Com a antecipação nos contratos de renovação da concessão ferroviária, como pretendido pela Vale, a empresa deixaria de desembolsar pelo menos R$ 3,1 bilhões referentes a recursos investidos pela União. No entanto, a Secretaria de Promoção e Defesa da Concorrência (Seprac), do Ministério da Fazenda, justifica seu parecer contrário afirmando ser mais apropriado aguardar o final do contrato de concessão, em 2027, garantindo a liquidação da dívida e, a partir daí, abrir novo processo de licitação.
Esses contratos integram o programa de Parceria Público Privada de Investimentos (PPI) para ampliação da malha ferroviária do País, abandonada por décadas, havendo uma concentração do que existe sob o controle da Vale, dentro de um programa voltado, principalmente, ao transporte de minério.
O poder das grandes mineradoras, no Brasil, é ilimitado, situação decorrente de uma economia ancorada excessivamente na indústria extrativista, em especial nas grandes corporações, como a Vale, nas quais o poder público busca sustentação financeira e logística para vários de seus projetos.
Esse relacionamento gera fortes elementos que acobertam cenários negativos na sociedade, não somente quando se trata de ferrovias ou outros ativos econômicos. Seja pela falta de novos investimentos nessa e em outras áreas, entre elas a medição efetiva de impactos ambientais, a fim de reduzir prejuízos à população.
Os parâmetros adotados pela empresa levam em conta, primeiramente, o alcance de resultados financeiros e econômicos, desprezando necessidades fora desse eixo, com aplausos de gestores públicos que acobertam esse desinteresse em troca de projetos bancados pela empresa que possam render dividendos eleitorais.
Somente assim se pode entender a manutenção de uma matriz econômica ancorada na indústria extrativista, sem considerar fortes sinais de esgotamento, como forma de gerar um Produto Interno Bruto (PIB) sem uma base segura, que poderá apresentar queda repentinamente.
A expansão da ferrovia até o sul do Estado e ao Rio de Janeiro é uma necessidade urgente para a economia capixaba e representa uma contrapartida da Vale para uma região tão atingida negativamente por sua atuação de décadas.