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Morre ‘Seu Manoelzinho’, herói do cinema de bordas

Mantenópolis (noroeste do Estado) acordou de luto com a perda de um de seus habitantes mais ilustres. Manoel Loreno, o “Seu Manoelzinho”, cineasta independente que produziu dezenas de filmes, faleceu às 5h deste sábado (10) na cidade em que reside.

Realizador de mais de 40 obras, sendo duas dezenas delas de longa-metragem, o cineasta ganhou projeção nacional após uma reportagem em 2004 feita pelo programa Mais Você, capitaneado por Ana Maria Braga na TV Globo, chamando atenção de outras mídias e estudiosos do cinema.

“Servente de pedreiro, ele ganhou fama com os seus trabalhos, colocando a Mantenópolis no Mapa Cultura do Espírito Santo do Brasil”, escreveu em nota a Organização Capixaba de Cineclubes (Occa).

Neste mês de novembro, “Seu Manoelzinho” seria homenageado no Encontro Estadual de Cineclubes, que vai acontecer de 23 a 25 em Mantenópolis. “Era uma pessoa simples, um senhor de baixa estatura, e sempre com um simpático sorrido no rosto, ele fez de sua simplicidade uma riqueza de imensurável valor. O seu sonho e amor pelo cinema, uma vida de poesia com as imagens, mais que um artista, ele foi um ser humano incrível, pioneiro e visionário”, diz o texto da Occa

A organização lembra que com uma velha câmera de VHS, “Seu Manoelzinho” fez filmes como Loreno, o Gatilho Mais Rápido do Oeste, A vingança de Loreno e Amor Proibido, utilizando atores amadores e cenários improvisados. Sua principal inspiração eram as obras de faroeste.

“De tanto frequentar cinema, na minha cidade tinha um cinema em 1966, desde aquela época ficava ajudando a mexer com filme, eu trabalhava no cinema e fui apaixonando por cinema até hoje gostando de filme. Então eu falei assim: 'você quer saber uma coisa? Vou reunir um pessoal aqui e vou fazer um filme também, imitar aqueles faroeste que passavam”, disse em entrevista ao jornalista Claudiney Ferreira no programa Jogo de Ideias. Analfabeto, ele dizia que costumava filmar suas obras em apenas dois dias. “Manoelzinho riscava no chão, utilizando gravetos, as cenas que ia imaginando, com um processo criativo debaixo de uma árvore que ele elegera como local de inspiração”, lembra a Occa.

“Seu Manoelzinho” era considerado um dos principais expoentes do cinema de bordas, conceito trabalhado pela pesquisadora e professora Bernadette Lyra. Esse tipo de cinema é realizado por cineastas autodidatas, moradores de cidades pequenas ou arredores de grandes capitais. “Os filmes periféricos têm um público específico e apresentam características alternativas que estão voltadas para o entretenimento. Esses filmes são produtos adaptados às regiões, ao modo de vida e ao imaginário popular e massivo das comunidades envolvidas no processo de sua produção”, escreveu Bernadette em estudo.

A Occa afirmou que o movimento cultural, o cinema, a arte, estão de luto com a partida do cineasta. “Fica o legado de sua obra, as lembranças, o aprendizado com a sua coragem e ousadia, e a nossa gratidão ao Sr. Manoelzinho, por cada imagem, sensação, ensinamento, através de sua arte”.

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