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Do lixo à horta

Nos morros da Fonte Grande e Piedade, no Centro de Vitória, estão as bordas do Parque Municipal da Fonte Grande. Subindo ruas e vielas, a realidade permite visualizar árvores frutíferas, pequenas hortas, mas também pontos em que o lixo se acumula, devido às deficiências da coleta. Foi nesse contexto que surgiu o Projeto Morro Vivo – Agricultura Urbana Também é Cultura. Em atividade desde setembro, o projeto realiza neste sábado (1) um mutirão para criar jardins e canteiros em locais que se tornaram pontos viciados de lixo.

Os moradores e visitantes serão recebidos a partir das 7h30 com um grande café da manhã comunitário, garantindo a energia necessária para a manhã de trabalho. Os locais onde o lixo se acumulava foram limpos e o grupo presente sairá do Centro Comunitário da Fonte Grande para plantar mudas de plantas como hortaliças, temperos e ervas medicinais em quatro locais entre 5 e 16 metros quadrados. Carqueja, tomilho, manjericão, alecrim, coentro e hortelã são algumas das espécies que devem ser plantadas para cuidado e colheita comunitários.

“Está sendo muito bom para a comunidade. Com a redução do número de garis pela prefeitura e a alteração de alguns locais que eram depósito de lixo, foram surgindo esses pontos viciados dentro da comunidade. A proposta da horta ajuda a resolver, mas também estamos criando alternativas dando opções de onde depositar o lixo”, diz Peterson Moura, líder comunitário da Fonte Grande.

O Projeto Morro Vivo, que conta com apoio do Fundo Casa (Caixa Econômica Federal), é gerido pelo Grupo Árvore Casa das Artes, voltado para o teatro, que tem sua sede nos arredores das comunidades. A coordenadora do projeto é Vanessa Darmani, que considera que o efeito do mesmo tem sido a maior articulação das comunidades, o diálogo entre elas e com o poder público.

“A horta é uma ação inicial que permite mobilizar outras relações sociais. Viemos falando muito dos trabalhos coletivos, mostrando que não é preciso esperar que alguém fale como se deve fazer se nós mesmos podemos fazer. Vai para além de fazer horta ou dar educação ambiental, é gerar o empoderamento da comunidade e cobrar os serviços públicos que falham”, diz.

Ela considera, porém, que o projeto não tem objetivo nem função de eximir o poder público de suas responsabilidade, muito pelo contrário. As articulações envolvem posto de saúde, órgãos da prefeitura e outras instituições. “Queremos que as instituições subam os morros, principalmente depois de tudo que tem acontecido, que se posicionem mais como instituições num lugar que sofre com o abandono dos serviços públicos. Tentamos conscientizar a comunidade a mudar de hábitos, mas o estado tem obrigação de criar estratégias”, explica.

Esse abandono contribui para baixar a autoestima da comunidade, também afetada pela cobertura midiática que só ressalta os aspectos negativos dos bairros populares, dificilmente mostrando as iniciativas e atividades positivas que acontecem na região.

Além dos canteiros que serão construídos neste sábado na Fonte Grande, o bairro da Piedade vai ganhar uma horta comunitária que faz parte do projeto Morro Vivo. As articulações também têm servido para aproximar as duas comunidades vizinhas, que por vezes também encontram atritos. Há três meses, o projeto vem realizando oficinas e outras atividades de educação ambiental com escolas da região, em parceria com o coletivo Mãos à Horta.

As crianças dos centros de educação infantil estão construindo pequenas hortas em caixas que podem levar para ser cultivadas em suas casas. Outra iniciativa que está sendo realizada é o mapeamento dos pés de frutas existentes na comunidade, com a intenção de estimular seu consumo, venda e troca dentro e fora dos bairros.

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