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‘Pipa’ com agrotóxicos tomba sobre trabalhadora em fazenda de coco

A trabalhadora rural Marcilene Conceição está internada em estado grave no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus (norte do Estado), recuperando-se de duas cirurgias para restabelecimento de seu fígado, que foi esmagado durante acidente sofrido na fazenda de coco onde trabalha, localizada em Água Preta, no interior do município.

Na última quinta-feira (29), a “pipa” que armazena o agrotóxico que ela e outro colega aplicavam sobre os coqueirais, tombou sobre ela, que ficou sob ferragens do trator que era conduzido por um terceiro trabalhador. Desde então, Marcilene já passou por duas cirurgias e está sedada.

Adelso Rocha Lima, da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conta que casos como o de Marcilene são mais comuns do que imagina a população que consome os alimentos produzidos.

“Esses acidentes fazem parte do cotidiano do modelo do agronegócio hegemônico vigente no país atualmente. E são resultados de uma precarização do trabalho que predomina no agronegócio”, afirma. “Não é opção, é a condição de trabalho que resta para as famílias agricultoras”, lamenta, ressaltando que a hegemonia do agronegócio quase impede a adoção de outros modelos de produção.

Recentemente, na mesma região norte, Adelso conta ter testemunhado dois casos de intoxicação: um em um hospital em Pedro Canário, há cerca de quatro meses, quando um jovem de dezessete anos se intoxicou ao pulverizar uma plantação com bomba costal, de onde o agrotóxico vazou sobre suas costas. No mesmo hospital, internado na mesma época,  havia outro jovem, de aproximadamente 20 anos, oriundo da Vila de Taquaras, que se intoxicou ao tentar suicídio por ingestão de agrotóxicos.

Os casos que conseguem ser relatados à sociedade, acrescenta o líder camponês, representam uma pequena parcela do que realmente ocorre no cotidiano. A própria confirmação de intoxicação por agrotóxicos, dentro dos hospitais, não costuma ser feita, seja por resistência das famílias ou dos médicos, como foi o caso do jovem Ângelo Henrique Camata, de 29 anos, que faleceu em Marilândia em julho de 2017, com amplas suspeitas de intoxicação por round up, mas cuja confirmação não foi feita pelo médico, que é tio da vítima, e assinou seu atestado de óbito.

“O MST tem isso como desafio, trabalhar essa conscientização e a produção de alimentos saudáveis nas áreas de acampamento e assentamento da Reforma Agrária”, anuncia. 

Adelso informa que o distrito de Água Preta fica está ao lado da Fazenda São Joaquim, que está sob risco de ser arrendada pela Suzano Papel e Celulose, que pretende ali instalar uma monocultura de eucaliptos, o que pode acirrar o volume de acidentes em campo e também de intoxicações por agrotóxicos, seja em terra, como o de Marcilene, seja por meio de pulverizações aérea. 

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