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The Windows quer viver mais que Jim Morrison

Se fosse vivo, Jim Morrison, vocalista do The Doors, estaria completando 75 anos de nascimento. Mas como outros astros do rock, não passou dos 27, idade que também acometeu Jimmy Hendrix, Janis Joplin e Kurt Cobain. Mas sua memória segue viva e suas músicas soando. Um dos responsáveis por manter essa chama viva é o The Windows, grupo capixaba que talvez seja a mais longeva banda cover dos Doors no país, completando 25 anos em 2019.

A ideia da banda surgiu a partir dos amigos Alessandro Chakal (vocal) e Ricardo Dente (teclado), após assistirem ao filme de Oliver Stone que retrata a história da banda. Eram garotos metaleiros que passavam longe de sons como The Doors ou Led Zeppelin. “O menos pesado que ouvíamos era Metallica”, diz Alessandro Chakal. Queriam montar uma banda de rock pesado que se chamaria Cova Rasa, mas o projeto foi enterrado. Juntaram-se aos dois, André Bayer (guitarra), Carlos Bayard (baixo) e Leandro Batista (bateria). Todos eram estudantes de primário e secundário e o primeiro ensaio aconteceu em 1994 na varanda de um edifício da capital. O The Doors ampliou o leque musical dos garotos para o blues e o rock dos anos 60 e 70.

Foto: Divulgação

Com perdão do trocadilho, mas conhecer o The Doors também abriu portas para os jovens no mundo das artes em geral. Foi por meio da banda e das influências de Jim Morrison que conheceram filósofos, poetas e outros artistas de renome mundial como Friedrich Nietzsche, Bertold Brecht, Charles Baudelaire, Bakunin, William Blake, Dostoiévski, Rimbaud e Andy Warhol.

“Foi a partir destas influências sobre nossa visão da arte e de mundo, decidimos que não seríamos uma banda de mero entretenimento, mas que procuraríamos incomodar, fazer pensar e agir, e nos posicionar politicamente segundo os valores de liberdade, consciência democrática, contra o fascismo onde ele estivesse, e contra a violência das guerras – e para isto, as letras, sonoridades e atitude do The Doors eram a escolha perfeita, e ainda poderíamos incluir nos shows novas performances, poemas e falas originais (ou citações) em português para retratar o Brasil e o Espírito Santo da atualidade onde estávamos”, explica o vocalista, indicando como o grupo consegue se manter atual, local e buscar sempre shows catárticos.

O início, claro, não foi fácil. O primeiro show foi marcado para um bar em Vila Velha. “Foi quando tivemos de decidir qual seria o nome da banda porque o dono perguntou”.  Assim resolveram assumir a alcunha The Windows, que era uma brincadeira interna que além de jogar com as palavras “portas” e “janelas” em inglês também fazia alusão ao programa da Microsoft que era uma novidade na época. Tinham apenas três músicas preparadas mas não tocaram nenhuma. “Nossa sorte foi que dias antes do show, o bar fechou e foi demolido”, lembra Chakal com risos.

Veio então o Esmola Rock, evento com várias bandas na Universidade Federal do Estado (Ufes) em prol da salvação da Rádio Universitária. Outra vez, fracasso. Minutos antes da apresentação, os integrantes souberam que o carro que trazia instrumentos foi arrombado no estacionamento e o teclado foi roubado. “Até que finalmente conseguimos fazer o primeiro show no antigo bar da rua da lama: INPS. Onde tocamos na calçada, inclusive na chuva, mas onde juntou um público ótimo de roqueiros deste refúgio do rock na cidade”.

De lá pra cá, Chakal estima que já devem ter sido cerca de 200 shows, em locais que vão desde inferninhos como o Bar do Mãozinha, na Rua da Lama, casas de rock de médio porte como o Correria Music Bar, até grandes palcos como do Vitória Rock Festival e pubs de municípios do interior como Linhares e Cachoeiro de Itapemirim. O grupo também busca tocar em eventos culturais ou políticos em apoio a causas ambientais e de esquerda.

Atualmente, o grupo busca manter um ritmo de ao menos uma ou duas apresentações por mês, mas isso depende da disponibilidade de agenda dos músicos, que também possuem projetos paralelos. Embora a maioria dos integrantes tenham se mantido no grupo por muitos anos, sofreu alterações e contou com a participação de cerca de 20 músicos, muitos deles que seguem atuando em suas carreiras. A formação atual conta com  Leonardo Schuller “Condor” (guitarra), Flávio Coutinho (teclado), Rato Vieira (bateria) e Léo Machado (baixo), além de Chakal no vocal. Se no início eram todos estudantes primários, hoje em paralelo às atividades da banda e de outros projetos musical, os integrantes têm profissões como geógrafo, filósofo, biólogo e até analista de Tecnologia da Informação.

Foto: Denise Rocha

“O profissionalismo que desenvolvemos com a experiência na estrada, e aperfeiçoamentos técnicos e artísticos, acredito que melhoramos bastante desde a parte musical até as performances, e a escolha de textos (citações ou originais) para utilizar nos shows – sempre respeitando a proposta artística e política do The Doors e inovando dentro desta perspectiva”, conta Chakal. Uma das parcerias que incrementam as apresentações e extrapolam a banda cover como mera imitação foi feita há mais de 20 anos com a professora de dança do ventre Bianca Campagnoli, que agrega com sua arte no meio das apresentações. “Sempre queremos transformar os shows e performances da banda em um espetáculo psicodélico transcendental de dança, música e poesia, numa catarse teatral para todos os sentidos”.

Alessandro Chakal considera que o The Windows acabou servindo como uma “Escola de The Doors”, onde podem se inspirar, aprender e experimentar ao longo dos anos. “Mas estamos longe de ter esgotado o estudo da riqueza das composições do The Doors”. Considera que a obra do grupo tem como base o blues, mesmo em sonoridades mais complexas. Destaca também a capacidade de inovação e utilização da influência de elementos de outros ritmos como flamenco, jazz, rock e até mesmo bossa nova, com um tremendo poder de provocar catarses coletivas.

Foto: Denise Rocha

Ele define Jim Morrison, líder do grupo que faria 75 anos como um artista sério, um intelectual sensível e inteligente. “Apesar do excesso de drogas e de algumas atitudes contraditórias (nada contra polêmicas). Recusou de várias formas diferentes a alcunha de simples 'símbolo sexual', queria ser reconhecido como poeta e se esforçou para isso”.

Se Morrison não passou dos 27, os meninos que fundaram o The Windows já romperam essa barreira há muito tempo. A banda cover cumpre 25 anos em 2019. Sobreviverá também à fatídica idade? “Acredito que também a banda The Windows vai conseguir ultrapassar os 27 anos de estrada. Ao menos eu me esforçarei para continuar sempre tocando The Doors, pois é bom demais! E também atualmente é muito prazeroso quando jovens muito novos passam a conhecer o The Doors através da gente, e podemos curtir esta descoberta através deles”, relata Chakal.

O grupo ainda está fechando shows para a época de Natal de ano novo, além da agenda para o primeiro semestre do próximo ano. Para quem gosta de rock, blues, psicodelia, performanes e poesis e que ama The Doors, o grupo sugere curtir a fan page The Windows 24 anos

“Prometemos continuar exaltando as concepções artísticas originais do The Doors, e sempre em busca da melhor catarse coletiva da “Grande Alegria” da tragédia grega conforme Nietzsche ensinou. Até lá, obrigado pela atenção, saudações psicodélicas a todos, e Viv'La Re-Evolución!”, se despede Alessandro Chakal.

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