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Sexualidade e identidade percorrem exposição Studio Butterfly

Artista visual e educadora, a baiana Virgínia de Medeiros já realizou cerca de 60 exposições nacionais e internacionais. A última delas, Studio Butterfly e Outras Fábulas, reúne quatro instalações realizadas pela artista e está em cartaz até dia 6 de janeiro na Casa Porto das Artes Plástica, no Centro de Vitória. Com curadoria de Moacir dos Anjos, a exposição tem apoio da Fundação Nacional de Artes (Funarte).

Sexualidade e identidade são duas marcas da exposição, baseada em videoinstalações e fotografias em que a artista busca uma aproximação e trocas que permitam a expressão de corpos insurgentes que são invisibilizados ou marginalizados na sociedade.

A mais antiga obra, Studio Butterfly (2006), que protagoniza o nome da exposição, se dá no contato de Virgínia com prostitutas no Centro de Salvador. Durante um ano e meio, ela instalou um estúdio fotográfico numa pequena sala comercial, pensado como um ponto de encontro com as travestis. “No Studio Buttrefly, as travestis me traziam suas fotos antigas e recentes, junto a familiares, amigos, amores, e, sentadas na poltrona dos afetos”, me contavam algumas histórias de vida, que eu registrava em vídeo. Em troca, fazia com elas um ensaio fotográfico, e ao final lhes dava um book”, conta a artista.

As fotos antigas, algumas antes de iniciarem uma ruptura mais radical entre as fronteiras de gênero, se juntam com novos clicks feitos por Virgínia numa entre-sala que vai dar acesso ao vídeo produzido com seus relatos abordando questões como sexualidade, trabalho, amores e família. A obra foi selecionada pelo Programa Rumos Itaú Cultural e participou da 27ª Bienal de São Paulo.

Outra instalação, a que abre a exposição na Casa Porto, é a impactante Sérgio Simone (2009). Quando conheceu Simone, uma travesti que morava numa zona degradada de Salvador, Virgínia começou a filmar com ela. Usuária de drogas e praticante de religião de matriz africana, ela cuidava voluntariamente de uma fonte que havia na região, que tratava como um santuário para culto dos orixás. Uma personagem cativante e carismática, porém, uma surpresa mudaria os rumos dessa obra.

“Cerca de um mês depois da primeira filmagem, Simone entra em convulsão por causa de uma overdose de crack, seguida de um delírio místico, no qual acredita ter se encontrado com Deus, um encontro que a teria feito escapar da morte. A partir desse episódio Simone abandona a sua condição de travesti, volta para casa dos pais, retoma o seu nome de batismo Sérgio e, num surto de fanatismo, se considera uma das últimas pessoas enviadas por Deus para salvar a humanidade”.

As imagens se projetam simultaneamente, lado a lado, na parede. As contradições de sexualidade e espiritualidade são explícitas e impressionam por habitarem um mesmo corpo. A Simone feminina com seus orixás e o Sérgio masculino e seu fervor evangélico. Curiosamente, as imagens captadas por Virgínia de Medeiros se tornam parte da propaganda utilizada por Sérgio para fazer propaganda de sua Igreja, na condição de ex-homossexual que encontrou o caminho de Deus.

O universo da prostituição também figura a videoinstalação Manilas Bar – Casa da Marinalva, que inclui também quatro fotografias. Instalado nas proximidades da região portuária de Salvador, o bar é a locação para o relato de vida de sua dona, contando desde sua experiência na Europa, sua passagem pelas Filipinas até a instalação na Cidade Alta, na qual o bar é espaço de trânsito para marinheiros e prostitutas. Tudo sobre o relato e protagonismo de Marinalva, despido de julgamentos morais.

A última e mais recentes das obras é Cais do Corpo, que registra as prostitutas que atuavam nas proximidades Praça Mauá, região portuária do Rio de Janeiro que sofre processo de gentrificação, no qual foi instalado entre outras intervenções o grandioso Museu do Amanhã. O amanhã das profissionais do sexo parece incerto, já que sua presença passa a ser indesejada neste lugar que habitaram e transitavam por décadas. Como nas outras obras, corpo e fala fazem parte de uma mesma narrativa, na qual denunciam os processos explícitos e velados de expulsão e também lembram sua condição e significado dentro da sociedade atual.

AGENDA CULTURAL

Exposição Studio Butterfly e Outras Fábulas, de Virgínia de Medeiros

Quando: até 6 de janeiro de 2019

Onde: Casa Porto das Artes Plásticas – Praça Manuel Silvino Martins, 66, Centro de Vitória/ES

Horários de visitação: de terça a sexta-feira, de 13h às 19h; sábados de 10h às 14h.

Informações e agendamentos: (27) 3132-5295 / [email protected]

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