A Frente Unificada de Valorização Salarial da Polícia Militar, Polícia Civil e Bombeiros Militar divulgou uma nota nesta quinta-feira (2), direcionada à sociedade e à opinião pública, em que contesta dados de redução de homicídios divulgados pelo governo do Estado.
De acordo com a nota, “a festejada redução dos índices de homicídios decorre de uma tendência de decréscimo que advém desde 2010 em decorrência de vários fatores, dentre os quais maior encarceramento de homicidas contumazes em decorrência de ações policiais focalizadas; menor crescimento demográfico e vegetativo da faixa etária mais vulnerável, situada entre 15 e 29 anos; maior acomodação de gangues de traficantes em disputas de territórios; não contabilização de ocorrências de ‘encontro de cadáver’ ou ossadas nas estatísticas, até posterior confirmação de consumação de um homicídio”, explicam no documento.
Além disso, segundo a Frente de Policiais, de acordo com estudos do Fórum Nacional de Segurança pública, o ano de 2019 fechou com o menor número de homicídios desde 2010 no Brasil, dentro de uma tendência que se verifica a partir de 2015. Para os agentes da segurança público estadual, “o fenômeno de redução foi nacional e não local”.
E completam: “A redução dos índices de homicídios desde 2010 no Espírito Santo decorre fundamentalmente do esforço imensurável, dedicação e superação dos profissionais integrantes das distintas carreiras da Polícia Civil e Militar do Espírito Santo, não em função de projetos políticos de Governo mais voltados à retórica e à propaganda, dentre os quais citamos o que até hoje não mostraram nenhuma melhoria para os profissionais da segurança pública em suas remunerações, condições de trabalho, qualificação continuada, estrutura física e técnica das unidades policiais”.
A Frente ressalta que o Espírito Santo é o décimo em renda per capita e o 17° em gasto per capita com segurança pública. “Mais uma vez destacamos que o discurso de tentar nivelar salários de um segmento de uma ou outra carreira da segurança pública à propalada ’média nacional' não irá atender à justiça salarial esperada por todas as categorias de policiais militares, civis e bombeiros militares, pois não são apenas soldados ou Delegados de Polícia em início de carreira que estão com salários defasados, mas todas as categorias e suas respectivas classes, postos e patentes. É inaceitável o Governo continuar ignorando nossa reivindicação de índice unificado para todas as categorias integrantes da Frente unificada sem distinção, em uma visível tentativa de fragmentação que irá ocasionar ainda mais crise”.
Vídeo
No final do ano passado, no dia 23 de dezembro, a Frente lançou um vídeo em que elevou o tom de críticas em relação ao governo Renato Casagrande (PSB). Para os agentes de segurança, o governador tem demorado em cumprir promessas que fez durante sua campanha eleitoral, em 2018, época em que afirmou que valorizaria os profissionais da segurança pública com reajuste salarial e melhor estrutura de trabalho. Depois de um ano de mandato, as categorias alegam que continuam sem respostas sobre uma recomposição para as carreiras.
No vídeo, que tem duração de pouco mais de quatro minutos, agentes de segurança das três forças, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros Militar, incluindo lideranças das associações representativas das categorias, expuseram um cenário de dificuldades em que policiais da ativa e aposentados não têm conseguido manter suas famílias com as piores remunerações do País. No caso de soldados e cabos, representantes da associação relatam que, diariamente, recebem militares em busca de assistência alimentícia para conseguir manter suas famílias.
A produção traz ainda relatos de bombeiros e policiais militares que, depois de 30 anos de serviços prestados à segurança pública, se vêm passando dificuldades financeiras. Várias das falas ressaltam que os agentes de segurança aguardam o cumprimento das promessas de campanha de Casagrande e que, caso isso não ocorra, haverá reação.
Um dos integrantes da Frente explicou que “o vídeo é um último alerta ao Governo e à sociedade sobre o grave cenário de insatisfação generalizada que permeia praticamente todos o efetivo das polícias civil, militar e bombeiro militar. Cada vez que o governador vem com discurso de tentar cooptar um segmento das carreiras que integram a Frente, como tem anunciado em relação à categoria de soldado, gera ainda mais revolta e recrudesce nosso movimento, pois já deixamos claro que queremos recomposição salarial em índice unificado, conforme proposta já apresentada por três vezes e até hoje não respondida”.
Ainda no mês de dezembro de 2019, representantes da Frente reagiram a declarações do governador Renato Casagrande concedidas a profissionais do jornal A Gazeta. Os dois principais pontos de divergências são o fato de Casagrande ter declarado que já se reuniu com a frente, o que os agentes de segurança dizem que não ocorreu ainda, e a intenção do governador de dar um reajuste maior para a base da Polícia Militar, formada por soldados e cabos, o que exclui os oficiais e outras carreiras da segurança pública.
Na ocasião, a presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Espírito Santo, Ana Cecília Mangaravite, afirmou que nunca houve um encontro com o governador Renato Casagrande para negociações mais concretas de recomposição salarial. “A Frente foi criada em meados de maio. Quando constituída, enviamos um ofício ao governador informando que as associações e sindicatos da segurança pública haviam se unido na Frente, que passava a ser o fórum adequado para negociações, mas nunca fomos atendidos. O governador nunca fez uma reunião conosco”, explicou.
Ana Cecília Mangaravite ressaltou ainda que um possível aumento pontual apenas para soldados e cabos não será bem recebido, uma vez que as baixas remunerações atingem todos os cargos da segurança pública estadual. “Todos estão com patamar ruim, até por isso constituímos a Frente, para pleitear reajuste para todas as carreiras. Aumento pontual, para um e outro cargo, não resolve. Ao contrário, vai acirrar os ânimos e indica uma tentativa do governo de fragmentar o movimento. O governador disse que é necessário valorizar os policiais, mas, até então, não existe uma medida concreta para implementar essa valorização que ele prega, apenas ações protelatórias”.