Ainda faltam 10 meses, mas desde meados do ano passado os gestores públicos estão com os olhares voltados para as eleições de outubro, quando serão escolhidos prefeitos e vereadores, alterando perfil de toda a estrutura político-administrativa do Estado, bem como do País. Por essa via, caso nenhuma anormalidade institucional ocorra, será formado o contexto para a sucessão presidencial em 2022.
Para tanto, a pauta de obras tem que ser ampliada, pois é chegada a hora de mostrar serviço ao eleitor, colocar as coisas nos seus devidos lugares, acertar a máquina da comunicação, reduzir os índices negativos. Entre os esforços para atingir os objetivos, vale pegar a velha “carona” eleitoral, como fez o prefeito de Vitória, Luciano Rezende (Cidadania) na inauguração da avenida Leitão da Silva, uma das poucas entregas registradas durante o seu segundo mandato.
A história se repete em outros municípios e chega, também, ao governo do Estado, mais precisamente na área de segurança pública. Não fosse desse modo, a redução do número de homicídios, festejada pelo governo, não teria sido contestada pela Frente Unificada de Valorização Salarial da Polícia Militar, Polícia Civil e Bombeiros Militar.
Ao contrário do que afirmam as autoridades de segurança pública no Estado e segundo os dados oficiais, o número de homicídios caiu em decorrência de fatores distintos daqueles apresentados pelo governo. Dentre eles, o maior encarceramento de homicidas contumazes em decorrência de ações policiais focalizadas; menor crescimento demográfico e vegetativo da faixa etária mais vulnerável, situada entre 15 e 29 anos; maior acomodação de gangues de traficantes em disputas de territórios; e não contabilização de ocorrências de “encontro de cadáver” ou ossadas nas estatísticas, até posterior confirmação de consumação de um homicídio”.
De acordo com o Fórum Nacional de Segurança pública, 2019 fechou com o menor número de homicídios desde 2010 no Brasil, dentro de uma tendência que se verifica a partir de 2015, sendo essa uma realidade nacional e não apenas local.
Os dados apresentados tocam de pronto na ferida aberta em 2017, e ainda não cicatrizada, quando ocorreu a paralisação da Polícia Militar e trouxe ao público a situação de calamidade do setor, agravada durante a gestão do então governador Paulo Hartung. Salários defasados, falta de equipamentos de trabalho e questões relacionadas à valorização profissional ainda não foram totalmente superados, precarizando as relações e criando um cenário de permanente tensão entre as partes envolvidas.
O tom das críticas dos servidores da área de segurança tem subido e alcançam um nível preocupante para a sociedade, principalmente quando sente na carne o impacto negativo provocado pela criminalidade, sempre ascendente. Assim, é inaceitável comemorar a redução do nível de casos de homicídios com números ainda tão elevados e assustadores.