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Associação de cabos e soldados registra mais um suicídio na tropa

Em meio ao conturbado relacionamento entre a tropa da Polícia Militar e a gestão do governador Renato Casagrande (PSB), mais um caso de suicídio foi registrado nesta semana. Segundo informações divulgadas pela Associação de Cabos e Soldados do Espírito Santo (ACS-ES), o cabo Fernando Alvarenga Sancca, lotado no 1º BPM, tirou a própria vida na noite dessa segunda-feira (6). 

“Essa fatalidade se torna mais atroz por se tratar de um suicídio. Mais um herói teve sua vida ceifada pela depressão e pelo descaso que torna nossa profissão de alto risco e estresse, agravados pela mais baixa remuneração do país e pouco investimento. A Cabos e Soldados externa suas condolências aos familiares e amigos do policial militar e roga a Deus, em sua infinita misericórdia, que console a família neste momento de extrema dor”, foi o texto divulgado pela entidade em suas redes sociais.

Dados do 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em setembro de 2019, indicaram que 104 agentes tiraram a própria vida no País em 2018, taxa que é 42,5% maior que a do ano anterior, uma média de dois policiais mortos a cada semana, e que é superior aos que morreram em confrontos no mesmo ano: 87 no total.  

O Espírito Santo não é exceção e tem um agravante: os casos de suicídio de policiais militares, especificamente, cresceram após fevereiro de 2017, quando houve o movimento paredista de 21 dias da categoria. As estimativas são de 70 tentativas nos últimos dois anos, de acordo com dados da ACS.

Após a greve, o próprio governo do Estado, na figura do ex-governador Paulo Hartung, iniciou uma série de punições e desligamentos que instauraram um clima de terror na tropa. Ainda no ano de 2017, há informações extraoficiais que indicam, pelo menos, cinco suicídios, que, por sua vez, não constam no Anuário por não terem sido notificados pelo Estado. 

Pesquisa constata uma tropa doente 

No ano passado, a Associação realizou uma pesquisa inédita sobre a saúde mental dos policiais e bombeiros capixabas; estudo de campo realizado com 550 PMs em 120 batalhões e companhias sediadas no Estado com o objetivo de mostrar a realidade dos profissionais de segurança pública ligados à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros Militar. O estudo constatou que 68,18% dos PMs disseram que o seu trabalho causou conflitos de ordem familiar; 26% já recorreram a remédios controlados para reduzir o estresse do trabalho, 40,18% apresentam problemas de saúde; e 93,64% afirmaram que, por causa da profissão, têm maior probabilidade em adquirir problemas de saúde mental. 

Frente 

As forças policiais que compõem a segurança pública estadual se uniram, no ano passado, na Frente Unificada de Valorização Salarial dos Policiais Civis e Militares e Bombeiros Militares. Criada em maio, desde então, a entidade realizou uma série de protestos e articulações para buscar apoio da população e da sociedade civil organizada, como a Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB-ES), e dos poderes instituídos como o Tribunal de Justiça do Estado (TJES), Assembleia Legislativa (Ales), Tribunal de Contas (TCE) e Ministério Público (MPES) para ver efetivada uma pauta de valorização para as carreiras no Estado. 

Os representantes das associações e sindicatos alegam que o Governo do Espírito Santo, apesar de boa saúde financeira, se nega a realizar o reajuste das perdas acumuladas ao longo dos anos, equiparando os salários à média nacional. Policiais civis, militares e bombeiros alegam que recebem as piores remunerações do País. A Frente Unificada realizou encontros com o presidente da OAB-ES, José Carlos Rizk Filho, o presidente da Comissão Especial de Segurança da Ordem, Henrique Herkenhoff, que, inclusive, já foi secretário da área na primeira gestão do governador Renato Casagrande (PSB). No entanto, um esperado encontro com o governador ainda não se efetivou, apenas com secretários de governo.

De acordo com dados divulgados pela Frente, nos últimos anos (2014/2019), enquanto a inflação acumula um índice de 35,53%, os salários dos policiais tiveram reajuste de apenas em 4,5%, tornando praticamente impossível arcar com compromissos básicos sem recorrer a endividamento constante que compromete até a integridade dos policiais no exercício de suas atribuições.

 

Além de encontros com apoiadores, os atores da Frente realizaram passeatas, instalaram outdoors na Grande Vitória e utilizaram as redes sociais em sua campanha por valorização. Entre os atos públicos, em agosto, houve uma caminhada que percorreu as vias principais da Capital, como avenidas Vitória e Beira-Mar, com destino ao Palácio Anchieta. Os policiais também participaram da manifestação integrada dos servidores estaduais em outubro, quando foi realizada uma assembleia geral unificada em frente ao Tribunal de Justiça. 

Mais recentemente, protestos foram realizados em frente ao Palácio Anchieta e nas galerias da Assembleia Legislativa. Em dezembro, na véspera do Natal, um vídeo endureceu o discurso com depoimentos de civis, militares e bombeiros da ativa e aposentados. 

 

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