O Espírito Santo quase triplicou sua potência instalada de energia solar em 2019, ultrapassando estimativas de empreendedores do setor. Hoje, no ranking nacional de geração fotovoltaica distribuída (placas fotovoltaicas instaladas em residências, prédios comerciais e industriais e propriedades rurais), o Estado ocupa o 14º lugar, com 36,9 MW, segundo dados da Associação Brasil de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o que corresponde a 1,9% do total no país.
O ranking é liderado por Minas Gerais, com 362,7MW (18,8%); Rio Grande do Sul, com 252,4 (13,1%); São Paulo, com 229,5 MW (11,9%); e Paraná, com 205,6 MW (10,7%).
Em maio último, quando a potência instalada no Espírito Santo era de 13,1MW, as expectativas eram de fechar o ano de 2019 com um aumento de 250% na capacidade instalada. Desde então, o parque instalado subiu para 36,9MW, um crescimento de 281%. A tendência é de seguir crescendo, acompanhando a evolução do setor em todo o país.
“Nos últimos quatro anos, a energia solar tem crescido muito. A produção de placas e equipamentos aumentou, o custo de produção diminuiu, há mais empresas investindo, mais conhecimento acumulado e hoje está num ponto que o crescimento é exponencial. A previsão é que continue assim, pois a gente não chegou nem a fazer cócegas no potencial de geração distribuída do país”, avalia Rafael Castro, integrante do projeto de extensão universitária Solares, desenvolvido por estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
De fato, no início de janeiro deste ano, o Brasil atingiu a marca de dois gigawatts (GW) em geração distribuída fotovoltaica. Apesar do avanço, o presidente da Absolar afirma que o número é pequeno para as características do Brasil. Em nota, Rodrigo Sauaia ressaltou a necessidade de um marco regulatório que dê mais segurança ao investidor e “desfaça a insegurança jurídica que paira sobre o mercado”.
A fala se refere, especialmente, à polêmica em torno da intenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de “taxar o sol”, ou seja, alterar as regras vigentes – estabelecidas na Resolução Normativa 482/2012 da Aneel – aumentado as taxas cobradas sobre os produtores de energia fotovoltaica ligados ao sistema público centralizado.
Atualmente, quem produz energia fotovoltaica joga na rede centralizada o que não consome imediatamente, numa espécie de empréstimo dos megawatts não consumidos. E, quando precisa pega-los de volta, paga taxas reduzidas, apenas relacionados ao uso do sistema da concessionária que opera na região. A proposta da Aneel seria aumentar as taxas cobradas sobre o consumo da energia retornada ao produtor individual, o que ainda é alvo de discussão.
Além dos 2GW de geração distribuída, o Brasil conta com 2,4GW de geração centralizada (em grandes usinas), totalizando mais de 4,4 GW de potência fotovoltaica, dobrando sua capacidade em 2019. No anterior, o crescimento foi ainda maior, com o país quadruplicando sua geração fotovoltaica.
O crescimento extraordinário tem se dado substancialmente na geração distribuída, como é o caso do Espírito Santo, onde a energia solar está presente, exclusivamente, nessas unidades individualizadas.
Mais barata e mais ecológica
A expansão dessa forma de energia tem fundo econômico e contribui sobremaneira para a conservação ambiental. Rafael Castro ressalta que a energia solar fotovoltaica tem custo de manutenção e operação muito baixo em relação à energia hidroelétrica e mesmo eólica.
Ambas, explica, possuem partes girante, com motor e gerador, cuja manutenção é mais custosa. No caso dos módulos fotovoltaicos, a manutenção inclui apertar parafusos, fazer medição, operações muito mais simples.
A emissão de poluentes, por sua vez, é mínima. “Eu diria que é zero. Você só tem emissão na hora de produzir os módulos, os equipamentos. Mas no funcionamento, a emissão é praticamente zero”.
Outro aspecto que tem impulsionado o crescimento da energia solar é a redução dos custos dos equipamentos, devido à maior demanda, o que leva as indústrias a elevaram a produção, reduzindo os preços que chegam ao consumidor final.
Barco campeão
Foto: Divulgação Projeto Solares
Nesta terça-feira (28), o Solares participa de mais uma edição do Desafio Solar Brasil, uma competição nacional de barcos movidos a energia solar. O catamarã capixaba tem 2,4m de largura e 6m de comprimento e foi campeão em 2018.
A tecnologia usada no barco está evoluindo e se for continuada, com uma veia empreendedora, conseguirá colocar produtos no mercado nos próximos anos, conta Rafael Castro, um dos integrantes do Solares. “Depende de investimento, de ter linha de pesquisa direcionada pra isso. Hoje a pesquisa é puramente pra construir o barco e fazê-lo competir. Mas tem tecnologia e conhecimento possível de fomentar pesquisas de desenvolvimento de produtos, como carregamento de bateria mais eficiente, por exemplo”, diz.
O projeto desenvolve também o Solares Social, que faz ações em escolas públicas, de ensino médio e fundamental, em parceria com ONG's como o Projeto Tamar, que leva a energia solar de forma lúdica e educativa para crianças e jovens de escolas públicas.
Outro ícone do Solares é o pergolado construído no Centro de Vivência da universidade com espaço para as pessoas sentarem nos bancos e carregarem seu celular por meio de energia solar. A ideia, conta Rafael, é inspirar prefeituras e empresas a instalarem quiosques semelhantes em outros lugares da cidade.
Rafael cita também o Solares On, um aplicativo onde a pessoa pode obter várias informações, como a quantidade de módulos fotovoltaicos para atender à sua necessidade e a economia financeira que ela pode obter com a mudança.
O Solares ainda contribuiu para a contratação de energia solar em dezenas de prédios da Ufes, atendendo a uma emenda parlamentar destinada a economizar gastos da Universidade e está elaborando um sistema de aquecimento de água para o restaurante universitário.
Leilão
No último dia 21 de janeiro, a Aneel divulgou o resultado da homologação do Leilão A-6 de outubro de 2019, destinado à contratação de novos empreendimentos de geração de energia a partir de fontes diversas, cujo início do suprimento de energia está previsto para 1º de janeiro de 2025.
Dos 91 empreendimentos contratados, 58 atenderam aos requisitos estipulados no edital. No total, foram contratados 27 empreendimentos hídricos, dos quais 19 são pequenas centrais hidrelétricas e seis centrais geradoras hidrelétricas. Também foram contratadas 44 usinas eólicas, 11 usinas solares fotovoltaicas e nove usinas térmicas, sendo seis movidas a biomassa e três a gás natural, somando 1.155 megawatts (MW) de energia contratada.
O leilão negociou contratos de energia de 91 novos projetos de geração, com investimento previsto de R$ 11 bilhões. O certame teve preço médio de venda de energia de R$ 171,85 por megawatt-hora e deságio médio de 33,73%.