Em meio ao cenário de desespero e apreensão sobre o futuro das mais de 12 mil pessoas vitimadas pelas últimas chuvas no Espírito Santo, que deixaram um extenso rastro de destruição em vários municípios, é chegado momento de avaliar os prejuízos e partir para a reconstrução.
Um processo demorado, com razoáveis perspectivas de êxito no que se refere aos danos materiais, mas, de outro lado, desalentador quando se trata de olhar para as nove pessoas mortas, entre elas duas crianças, e o que isso representa na estrutura familiar.
Dois aspectos que devem merecer o olhar mais atento dos gestores públicos, porque eles estão diretamente ligados ao que pode ser feito para prevenir os danos gerados por esses acontecimentos. A ausência de uma organização eficiente de ocupação do solo, com seus vários critérios para a construção civil, certamente está na base da tragédia, mesmo que se queira pensar não ser esse o momento apropriado para se apontar o dedo. Porque na verdade é sim o momento.
Em meio a medidas urgentes de socorro às vítimas, deve-se tomar também, agora, decisões relacionadas a obras, reformas e reconstrução dos municípios que objetivem evitar futuras tragédias tantas vezes anunciadas. Afinal, deve ser considerado que os danos poderiam ter sido ao menos minimizados, caso medidas de prevenção fizessem parte das ações do poder público, identificando áreas de risco e exercendo medidas proibitivas para impedir construções nesses locais.
Atualmente, podem ser observados sem muito esforço, diariamente, construções em regiões impróprias, onde o poder público, após invasões muitas vezes estimuladas, realiza obras de melhoramento, como pavimentação de vias, entre outras. Essa prática, além de contribuir para ampliar a ocupação ilegal, expõe essas populações a um permanente risco, como ocorreu agora em vários municípios capixabas.
O Serviço Geológico do Brasil, órgão do governo federal, que realiza mapeamento em párea de risco, vem alertando desde 2011 que mais de 13 mil moradores estavam em locais impróprios, ocupando 2.591 imóveis em municípios mais atingidos pelas chuvas, principalmente Iconha, Vargem Alta e Alfredo Chaves.
A hora é de reconstrução, mas é extremamente necessário que as ações que serão colocadas em prática levem em conta esses e outros dados disponíveis em organismos especializados, a fim de que as tragédias como essa sejam evitadas. São práticas que precisam ser priorizadas, inclusive com campanhas de conscientização junto às populações, visando alertar para o perigo.
Os fenômenos da natureza são inevitáveis, mas os danos por eles causados podem ser minimizados ou até mesmo evitados. O começo pode ser agora.