Serviço especializado, o Centro de Referência em DST/AIDS de Vitória, localizado no Parque Moscoso, encontra-se sem médico infectologista para o atendimento dos pacientes. A situação dura desde dezembro do ano passado, com as férias seguidas de aposentadoria da única profissional especializada. Segundo a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+), seriam necessários ao menos quatro infectologista para atender a demanda de atendimento de mais de duas mil pacientes do Centro de Referência.
Soropositivo diagnosticado há cinco anos, um paciente que preferiu não se identificar manifestou preocupação com a falta de acompanhamento de seu tratamento, já que a consulta semestral já está atrasada e o local não tem nenhuma previsão de quando poderá ser feito. Há apenas uma ginencologista contratada, que vem auxiliando na emissão das receitas médicas para que os pacientes possam ter acesso aos remédios necessários para seu tratamento.
“Mas isso não é o suficiente, já que os pacientes precisam de acompanhamento, análise de exames e outros procedimentos. Se algum caso se agravar ou alguém vier a falecer pro falta de atendimento, quem vai assumir essa responsabilidade?”, questiona Sidney Parreiras de Oliveira, representante da RNP+ em Vitória e no Espírito Santo.
A entidade acompanha a questão há cerca de um ano e vem cobrando e avisando à Prefeitura de Vitória sobre o déficit no atendimento do Centro de Referência. Um concurso foi feito no final do ano passado, mas a perspectiva de contratação devido aos trâmites necessários é apenas para abril deste ano. Enquanto isso, os atendidos esperam sem uma resposta efetiva sobre o retorno do serviço, ainda que seja com uma alternativa provisória.
A Defensoria Pública e o Ministério Público já foram acionados para cobrar juridicamente o poder público sobre essa responsabilidade. Sidney lembra que o Centro de Referência de Vitória, criado há 27 anos, foi um exemplo para o Espírito Santo, e o movimento cobra que possa ter condições de dar um atendimento adequado a todos atendidos. Segundo ele, há dificuldade de contratar médicos por conta do salário oferecido, considerado baixo para a carreira médica e, além da dificuldade de mantê-los no posto por conta da sobrecarga de trabalho. Ele não vê nas autoridades uma real intenção de resolver essas questões com a urgência necessária, por se tratar de uma situação que envolve vidas humanas.
O paciente que não quis se identificar lembra da boa qualidade da atenção no local, mas nota mudanças nos últimos tempos. “Já houve equipe de três médicos. De um ano para cá não consigo mais marcar consultas, tinha que ir pela manhã e esperar ser atendido no horário que dava. E agora nem infectologista temos mais”, reclama ele, que só conseguiu marcar uma consulta no posto de saúde de seu bairro para o mês de março, para só então esperar ser indicado a um especialista.
Sidney Parreiras também reclama da falta de profissionais preparados no Espírito Santo para aplicar o PREP, Profilaxia Pré-Exposição, uma medida de prevenção de HIV/AIDS por meio do uso contínuo de antiretrovirais.
A RNP+ vem acompanhando as diversas dificuldades com a atenção de saúde a pessoas portadoras de HIV no país, e emitiu recentemente uma nota em repúdio às declarações do presidente da República Jair Bolsonaro (PSL), que afirmou que “uma pessoa com HIV, além do problema sério para ela, é uma despesa para todos no Brasil”. Leia aqui.