“Entendemos como um momento de conquista pelo direito de manter viva nossa história”, diz Rosemberg Caitano, integrante do Fórum Chico Prego. Foram duas décadas de luta do movimento negro para que as Ruínas da Igreja de São José de Queimado na Serra fosse restaurada e transformada num local de visitação como instrumento de memória da luta do povo negro contra a escravidão no Espírito Santo. A reinauguração do local está prevista para o dia 19 de março, dentro de uma programação que deve incluir seminário, celebração, caminhada, shows e outras atividades.
O sítio histórico, por muitos anos esquecido pelo poder público, foi palco da Revolta do Queimado em 1849, quando um grupo de negros escravizados se rebelou após não receber a alforria prometida pelo trabalho de construção da Igreja. Pertencente a particulares, a área foi doada em 2015 para o município da Serra. Após muita luta, foi feito um projeto para transformar o local em um ponto de visita, como um museu a céu aberto, incluindo a história do local e artefatos encontrados após escavações arqueológicas realizadas no entorno.
Rosemberg lembra que antes não era possível adentrar as ruínas, por conta do risco de acidentes. O teto havia desabado e pedaços das paredes do templo também. Parte da estrutura da Igreja foi reconstituída por especialistas e agora o interior da construção será o centro de visitações.
O ativista do movimento negro lembra que o primeiro passo da luta foi para dar visibilidade ao local, que estava caindo no esquecimento. Depois, foi necessário brigar pela restauração das ruínas, feitas a partir de convênio da Prefeitura da Serra e Instituto Sincades, com acompanhamento de entidades da sociedade civil como o Conegro e o Fórum Chico Prego. “Sai do anonimato a história do povo negro e ganha status de local de visitação”, diz Rosemberg Caitano, que considera que o espaço possa servir também para atividades do movimento negro, como já acontece com a Caminhada Noturna dos Zumbis Contemporâneos, que acontece de Serra Sede até São José de Queimado.
Segundo o representante do Conegro, ainda falta o poder público e sociedade civil discutirem para definir alguns pontos importantes como a sustentabilidade do espaço, os horários de visitas, a vigilância e cuidado do patrimônio. Porém, a maior parte da conquista já vem se consolidando. “A perspectiva é de celebração. Este ano estamos retornando ao nosso local de origem”, aponta Rosemberg.
História
A Insurreição de São José do Queimado é considerada por especialistas como o principal movimento contra a escravidão ocorrido no Espírito Santo. O fato aconteceu em 19 de março de 1849, quando houve a revolta, segundo pesquisadores, por conta de uma promessa não concretizada de liberdade, feita pelo frei italiano Gregório José Maria de Bene aos escravos da localidade de São José do Queimado, hoje distrito da Serra.
Mais de 300 homens, mulheres e até crianças participaram desta rebelião que foi liderada por Chico Prego, João da Viúva, Elisiário e muitos outros líderes que articularam seu povo para tomar a liberdade com as próprias mãos. Os rebelados foram presos e julgados, cinco deles condenados à morte. Um dos líderes da Revolta, Elisiário, escapou da cadeia e refugiou-se nas matas do Morro do Mestre Álvaro e nunca mais foi recapturado. Chico Prego foi capturado e enforcado, em 11 de janeiro de 1850.