O encontro de negócios que a Shell promove nesta terça-feira-feira (18), no auditório da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), não é um evento isolado. Faz parte do projeto da empresa anglo-holandesa, segunda maior produtora de petróleo no País, para dominar o setor, relacionado com a proposta de compra de quatro refinarias colocadas à venda pelo governo federal.
O tema veio à tona na greve dos petroleiros, que entrou no 15º dia neste sábado, com a expectativa de que comece a afetar a oferta de combustíveis a partir da próxima semana, caso a paralisação continue, gerando desabastecimento. Apesar da resistência de seu corpo interno, através da Associação de Engenheiros (Aepet), a Petrobras segue o roteiro traçado e continua incentivando a venda de suas refinarias. Neste sábado, houve manifestação no antigo aeroporto de Vitória
“O presidente da Petrobras mente descaradamente ao informar à sua imprensa cativa que a empresa não perdeu um barril sequer da produção”, comenta o economista aposentado da Petrobras, Cláudio Oliveira, de Guarapari, para quem logo o problema virá à tona, pois muitas plataformas estão paralisadas.
O economista é especialista em petróleo e aponta a Shell como uma das que mais lucram no negócio, com a política de paridade de preços adotada pelo governo.
“Na verdade a empresa adota o PPI [Preço de Paridade Internacional] que para ser calculado considera o preço internacional no exterior, soma o custo do frete até o Brasil, soma os gastos com internação no Brasil dos combustíveis (gastos portuários e alfandegários), acrescenta um seguro para cobrir eventuais oscilações do câmbio e do preço do produto durante o período da importação e atribui uma margem de lucro. É um verdadeiro absurdo”, esclarece Cláudio.
Publicação chancelada pela Associação dos Engenheiros da Petrobras no Espírito Santo (Aepet) informa que a gestora de fundos Global Infrastructure Partners planeja apresentar, no próximo mês de março, uma oferta de compra conjunta com a Raízen, joint venture entre a Shell e a produtora de etanol Cosan, pelas refinarias colocadas à venda pela Petrobras.
A Raízen controla sete mil postos de gasolina no Brasil e na Argentina e tem cerca de três mil empresas como clientes. Apesar de controlar uma refinaria na Argentina, ainda não tem presença em refino no Brasil.
A programação do encontro na Findes constará de uma rodada de palestras pela manhã, incluindo a participação do presidente da Shell Brasil, André Araújo, do governador Renato Casagrande, e do presidente da Findes, Léo de Castro. A partir de 14h30, haverá um momento para networking, com a presença de profissionais da Shell e das empresas SBM, TechnipFMC e Halliburton.
As refinarias que estão sendo negociadas são a Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, no Rio Grande do Sul; Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, no Paraná; Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca, em Pernambuco; e a Landulpho Alves (Rlam), em Mataripe, na Bahia.
Refinarias
A venda de refinarias da Petrobras, a partir do segundo semestre, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), deve agravar o problema dos preços dos combustíveis.
Estão sendo colocadas à venda 13 refinarias, nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Em 2018, a capacidade de refino – somando todas elas – era de aproximadamente 2,2 milhões de barris por dia, e metade dessa capacidade será comprometida com a privatização. Com base neste cálculo, em um ano, o Brasil deixaria de arrecadar aproximadamente US$ 28 bilhões com a venda das refinarias.