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Atravessou o samba

O presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), cresceu e apareceu na passarela da G.R.E.S Espírito Santo no ano passado, ocupando espaços de destaque na avenida do samba capixaba. Mas tropeçou nas próprias pernas ao tentar atropelar a escola do governador Renato Casagrande, o dono da chave do Carnaval, e encerrou 2019 com o brilho ofuscado e alvo de vaias da arquibancada, formada por setores do governo, da sociedade civil e da Justiça. Após ameaças de Casagrande de rebaixá-lo para o grupo de acesso, Erick fez o recuo, deixou a poeira baixar, e começou 2020 no sapatinho, ensaiando seu retorno em grande estilo. Mas em ano de eleição, com o sambódromo disputadíssimo, terá que provar que seu enredo não atravessa o governador nem agora, nem no desfile de 2022. Haja ritmo e samba no pé.

Samba-enredo

Embora o atual governo de Casagrande tenha entrado na avenida com proposta de diálogo e valorização do funcionalismo público, o samba-enredo arranhou em diversas alas. Algumas conseguiram recuperar os pontos perdidos após sintonia com as propostas de reajuste da gestão estadual, outras insistiram em só repetir notas no mesmo tom. Sem o ajuste do conjunto, não levantou a arquibancada, prejudicando o bom desempenho da escola.

Abre-alas

Assim como na primeira gestão da pomba socialista no governo, Casagrande voltou a apostar no programa Estado Presente, voltado à redução da criminalidade, como destaque do seu carro abre-alas. Despertou elogios dos jurados de um lado, críticas do outro, mas não deve tirá-lo tão cedo dos desfiles da G.R.E.S Espírito Santo.

Ala dos Baianos

O ex-deputado federal Carlos Manato volta ao desfile deste ano, mas não como mestre-sala. Ele agora é especialista em rodar. Tudo começou quando abriu mão da reeleição para erguer o palanque local do PSL, mas foi derrotado. Rodou. Depois assumiu um cargo no governo federal, durou pouco. Rodou. Aí se concentrou em fortalecer o partido no Estado, armando as candidaturas de 2020. No meio do caminho, Bolsonaro deixou a sigla. Mais uma rodada, saiu atrás para criar a Aliança pelo Brasil. Com um currículo desse, virou destaque da ala.

Fantasia

Eleito como representante da Polícia Militar, Capitão Assumção (PSL) lançou moda no plenário da Assembleia ao comparecer exatamente todos os dias fardado. A iniciativa não agradou ao público, gerou constrangimento ao comando da corporação, e muita polêmica pela junção da roupa com os discursos de incitação ao crime e violência. No quesito de Carnaval em que conta a alegria, originalidade, modernidade e muita cor, a escola não disse a que veio.

Comissão de Frente 

A ala da escola Casagrande escalada para defendê-lo de qualquer desgaste, principalmente vindo do Rei do Samba anterior, Paulo Hartung, é comandada pelo secretário-chefe da Casa Civil, Tyago Hoffmann, pelo presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Luiz Paulo Vellozo Lucas, e pela economista-chefe do Banestes, Eduarda La Roque. Seja na mídia ou internamente, não aceitam mais o samba-enredo ecoado por anos nos desfiles passados, do Estado falido e incompetência de gestão. Apesar das inúmeras investidas, conseguiram a atenção de alguns jurados.

Velha Guarda

Conhecido por seus discursos contundentes, o deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD) brilhou nesta ala durante todo o ano, resultado de sua atuação como líder do Governo na Assembleia. Mas ao chegar perto da dispersão, já no final do desfile, desagradou os integrantes da escola ao flertar com os interesses de Erick Musso. O agora ex-líder reagiu e, antes de começar os novos ensaios, já demonstra fidelidade à escola. Até agora, um integrante indispensável para Casagrande, o atual Rei do Samba.

Bateria 

Depois de iniciar os ensaios do ano passado integrados à escola, a harmonia do grupo desandou, ameaçando – e muito – o resultado positivo na avenida. Integrantes da frente unificada de militares, civis e bombeiros fazem muito barulho de um lado, outras entidades do outro, atrapalhando o comando do Mestre de Bateria. O “coração da escola” perdeu o ritmo de vez.

Harmonia 

Eleitos na “onda Bolsonaro”, os quatro deputados da bancada do PSL, a maior da Assembleia, viraram três. O descompasso deixou buracos na avenida, tirando muitos pontos da escola. Enquanto Capitão Assumção, Torino Marques e Danilo Bahiense atuam em coro e fazem oposição ao governo, o coronel Alexandre Quintino caminha na contramão, no posto de aliado da primeira fileira do governador. Faltou combinar.

Mestre-sala e porta-bandeira

Únicos deputados do PT no Estado, Helder Salomão (federal) e Iriny Lopes (estadual) atuam em total sintonia com pautas esquecidas e rejeitadas pela classe política, principalmente nos tempos sombrios atuais, e também nas articulações internas do partido, eternamente dividido no Estado. Com movimentos tão parecidos, marcaram uma estreia diferente de casal mestre-sala e porta-bandeira na G.R.E.S Espírito Santo, que nos últimos anos escolheu nomes de extrema direita e representantes do conservadorismo.

Conjunto

Problema iniciado ainda no desfile do ano passado, a falta de conjunto dos integrantes da base aliada de Casagrande, incluindo do próprio PSB, continua causando prejuízos à escola. A pomba socialista garante que tem candidato à prefeitura, o vice-prefeito Sérgio Sá, agora rompido com Luciano Rezende (Cidadania) que, por sua vez, faz das tripas coração para consolidar o palanque do deputado estadual Fabrício Gandini. Paralelamente, o PSB “barra” o deputado Sérgio Majeski, campeão de votos em 2018, cobiçado a ser destaque em várias escolas concorrentes.

Evolução

Primeiro deputado federal cego do País, o jovem Felipe Rigoni (PSB) chegou à avenida do samba mostrando samba no pé, com um discurso de posse que rodou o País. É figura repetida na imprensa nacional e no plenário, atuando em diferentes frentes, sabe defender suas pautas, e bateu de frente com o PSB na questão da reforma da Previdência, recebendo apoio da escola de Casagrande. Já cotado como integrante essencial desta ala, conquistou seu espaço de vez com o contundente pedido de impeachment contra o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Empolgou a arquibancada e os jurados.

PENSAMENTO:

“Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”. Mangueira

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