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Laginha do Pancas prepara sua maior festa pomerana

Fotos: Eduarda Spamer

A 10ª Pomerfest será a maior festa pomerana já ocorrida na comunidade Laginha do Pancas, na região centro-oeste do Estado. A programação terá início na sexta (12) à noite, se encerrando apenas no final do domingo (14).

Realizada pela Associação Pomerana de Pancas (Apop), com apoio do município, do comércio e dos moradores, a festa tem cumprido, ao longo desses dez anos, seu objetivo de divulgar e valorizar as tradições culturais da comunidade, em favor de sua segurança territorial.

No ano em que se comemoram 160 anos da imigração pomerana no Espírito Santo, a décima edição da Pomerfest será “um salto gigantesco em relação ao crescimento da festa registrado nos anos anteriores”, avalia o presidente da Apop, Helmar Spamer, citando as apresentações de danças tradicionais, de concertinistas (tocadores de concertina, instrumento típico pomerano) e acordeonistas, exposição e venda de artesanatos e produtos locais, na feira de saberes e sabores, e o tradicional desfile cultural de sábado à noite, que este ano terá como tema “o sal da terra”.

A expressão, eternizada numa canção religiosa tradicional da comunidade – “nós somos o sal da terra, nós somos fermento na massa” – sintetiza a concepção pomerana para a relação de interdependência vital entre um povo e seu território e se apresenta em versão semelhante no lema da Apop: “Ous Lüur, Ous Land” – “Nossa Gente (ou nosso povo), nossa terra”.

Helmar lembra que a Apop surgiu num contexto de disputa territorial quando, em 2002, foi criado o Parque Nacional (Parna) do Pontões Capixabas na região que, posteriormente, após muita luta da comunidade local, foi recategorizado para Monumento Natural (Mona), permitindo que as famílias pomeranas pudessem permanecer em seu território historicamente constituído.

“Hoje, a Apop é símbolo de resistência do povo e da cultura pomerana”, afirma o presidente. “Foi devido a esse movimento de fortalecimento identitário e mobilização na organização comunitária com a criação da Associação Pomerana que se conquistou o reconhecimento do povo pomerano na Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, o PNPCT”, conta.

Atualmente, a Apop ocupa o posto de instituição titular que representa o Povo Pomerano no Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT) e no Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir/ES).

Observando essa última década na história da comunidade, Helmar afirma que, sim, certamente há muito o que se comemorar, “mas também ainda há muito que se fazer em prol dos pomeranos no Estado e no país”. No caso de Laginha, a segurança territorial é a pauta mais importante.

Porque, se com a criação do Parna as famílias se viram ameaçadas de expulsão de seu território tradicional, o Mona lhes permite a permanência, mas com uma série de limitações no uso da terra. Limitações que não estão regulamentadas, pois o Mona não possui Plano de Manejo ou conselho gestor e sequer o estudo étnico-biológico foi feito.“Em que situação jurídica estão as famílias? Há um certo entendimento no senso comum que a questão está resolvida, mas na verdade não está”, adverte. Há contexto de incerteza. Pode ser que haja avanços, mas também pode ser que conquistas sejam revogadas, que haja retrocessos”, pondera.

Incertezas à parte, o fato é que a cada nova edição do Pomerfest, as raízes culturais dos pomeranos de Pancas se fortalecem e, com elas, também se torna mais robusta sua luta territorial. Laginha mostra, de forma inconteste a interdependência entre identidade cultural e território, ou seja, como a identidade de um povo é construída a partir do seu território e como esse território tradicional é moldado a partir da identidade cultural de sua gente (o sal da terra), herdada e vivenciada.

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