Em 38 edições do Miss Brasil Gay, as representantes do Espírito Santo venceram oito, chegando também em finais em diversas outras ocasiões. Os outros estados com mais conquistas não passaram de quatro títulos da competição que teve início em 1977.
O significado desses concursos para a visibilidade da comunidade gay no Espírito Santo será abordado em bate-papo no próximo dia 23 de julho, às 19h, no Ponto de Memória LGBTI Aquenda as Indacas, no Centro de Vitória. Os convidados são Sérgio Herzog, organizador do Miss ES Gay desde suas primeiras edições, e Flávia Ferraz, Miss ES Gay 2019, que representa o Estado na competição nacional em 17 de agosto.
“Foi a primeira abertura que se teve no meio gay, havia uma repressão muito grande, não se podia fazer eventos, não havia lugar para se reunir. O Miss Brasil Gay foi a primeira paleta do leque aberta, antes a gente fazia festas e reuniões muito escondidas, em guetos, lugares afastados”, conta Sérgio Herzog. Eram tempos de ditadura, e essa brecha podia representar muito para quem vivia à margem por ser como era. “A gente resolveu dar as mão e batalhar por isso”, diz.
No concurso que acontece tradicionalmente em Juiz de Fora (MG), as candidatas devem ser do sexo masculino, não sendo permitidas travestis ou transexuais, e sendo proibidas intervenções cirúrgicas estéticas. Quando o Espírito Santo organizou seu primeiro concurso estadual para disputar a etapa nacional, em 1978, já conquistou o título de Miss Brasil Gay, o que se repetiu dois anos depois. As etapas estaduais aconteceram em quadras de escolas de samba, clubes e mais recentemente em cerimoniais.
Os cabelereiros, que tinham mais contato com a alta sociedade, foram importantes para fazer a ponte e logo o evento foi abraçado também por mulheres, que eram convidadas para estar no júri, levando seus maridos para acompanhar, o que coibia ações policiais. “Começou a reunir todo tipo de público, mostrando o que era um concurso gay, uma festa gay, em que os gays podiam estar juntos sem nenhum tipo de problema, com convívio natural, como sempre deveria ter sido”, conta o organizador.
Ele atribui que a boa organização do concurso estadual foi importante para que o Espírito Santo tivesse destaque nacional, focando na qualidade da equipe de cabelereiros, maquiadores e na seleção do júri, no qual considera que a presença de mulheres fortalece, pois têm boa percepção, já que a Miss Gay deve se transformar numa mulher que tenha aspectos como beleza, charme e elegância.
Para o organizador, os concursos ajudaram a tirar a invisibilidade e o estigma sobre as pessoas LGBTI+, antes associadas à marginalidade. Muitos conseguiram ser reconhecidos em suas profissões e na sociedade em geral. É certo que ainda falta muito para podermos falar em igualdade social, mas também é preciso olhar para os avanços que aconteceram nas últimas décadas. Essa é a proposta do Ponto de Memória criado pela Associação Gold: recordar as memórias, conquistas e dificuldades do movimento LGBTI+ no Espírito Santo e no Brasil em suas diversas formas de expressão.
O endereço da Associação, onde funciona o Ponto de Memória e acontece a atividade do dia 23, é a Avenida Florentino Avidos, 502, sala 904, Centro de Vitória.