segunda-feira, novembro 25, 2024
19.4 C
Vitória
segunda-feira, novembro 25, 2024
segunda-feira, novembro 25, 2024

Leia Também:

Entidades lembrarão 30 anos do assassinato de Padre Gabriel

Quem conviveu com o padre Gabriel Maire lembra de seu compromisso com as diversas lutas sociais que afligiam o povo. Nascido na França, ele viveu por nove anos no Espírito Santo, participando ativamente das celebrações religiosas e também de diversos momentos de organização popular. Foi esse envolvimento que, suspeita-se, deu origem ao seu assassinato, em 23 de dezembro de 1989.

No marco dos 30 anos desta data completados esse ano, diversas organizações civis e religiosas organizam atividades para lembrar a memória de Padre Gabriel. As primeira acontecem no início de agosto, em referência à data de aniversário do mártir. 

Foto: Divulgação

Jovanir Poleze, do grupo Ecos de Gabi, responsável pela memória do padre, lembra do religioso como uma pessoa que, por seguir o evangelho e o exemplo de Jesus Cristo, optou sempre por atuar em prol da igualdade social. “A gente sabe que a igualdade social é uma utopia, mas foi essa utopia que animou Padre Gabriel a agir. Jesus falou de igualdade, de fraternidade, e Padre Gabriel via que precisava denunciar a situação de desigualdade em que se vivia “, aponta.

Apoiou pastorais sociais, grupos de mulheres, associações de moradores, movimentos de luta por terra e moradia e estudantes, numa época de reabertura democrática e grande efervescência dos movimentos sociais. Foi pároco em Porto de Santana, Cariacica, mas apoiou esses processos em vários municípios, especialmente na Grande Vitória. “Ele era um grande articulador. Se não estava envolvido na organização das atividades, estava motivando o povo, comunicando, engajando nessas causas”, conta Marlene Lopes, da Associação Padre Gabriel Maire em Defesa da Vida, que também está envolvida na organização de atividades relacionadas com o trigésimo aniversário de morte do líder religioso.

Essa atuação de Padre Gabriel incomodou grupos políticos e econômicos poderosos na época. O crime ocorrido em 1989, inicialmente, foi tratado como latrocínio, roubo seguido de morte, mas essa versão nunca convenceu as pessoas mais próximas, já que nos meses anteriores o padre recebera ameaças por telefones e cartas. Dois homens chegaram a ser presos no início dos anos 90 por latrocínio, mas o processo foi reaberto em 2007 diante da suspeita de crime de mando, e prescreveu sem encontrar solução.

Para lembrar do padre, será realizada uma missa especial no dia 1 de agosto, dia de seu aniversário. Será às 18h, na Catedral de Vitória, celebrada pelo arcebispo Dom Dario Campos, o que marca um posicionamento importante da Igreja a partir do novo arcebispado, já que guardiões da memória de Padre Gabriel consideravam que seu martírio era pouco reconhecido pelo comando do catolicismo nos últimos anos.

Foto: Divulgação

No dia 3 de agosto, de 8h às 16h, o Centro de Estudos Bíblicos (Cebi) realizará uma roda de conversa com o tema Bíblia e Martírio, buscando interpretar passagens do livro sagrado e relacionar com o caso de Gabriel e outros mártires. No dia seguinte, às 7h, haverá uma confraternização no bairro Cobi de Cima, em Vila Velha, onde o corpo do padre foi encontrado sem vida 30 anos atrás. “Para nós, Padre Gabriel é um símbolo de resistência. A gente perdeu um grande parceiro, companheiro de batalhas, mas essa luta precisa continuar. A memória não pode se perder. Celebrar para nós é uma forma de manter viva a memória”, considera 

Nos meses seguintes, várias atividades em diversos bairros continuarão acontecendo a partir de iniciativas e parcerias de organizações sociais e religiosas, culminando nas atividades de 23 de dezembro. “A importância de celebrar esse momento é manter viva essa memória de Padre Gabriel, no sentido de que as lutas com as quais ele se comprometeu também estejam vivas em nossa memória, para que possamos nos comprometer cada vez mais”, afirma Marlene, lembrando que muitas pessoas já não se lembram do exemplo e atuação do padre, especialmente os mais jovens. “Ele acreditava em um projeto de libertação e isso é importante como um sinal de esperança para os dias de hoje”, conclui.

Mais Lidas