Apresentar um Brasil unido não pelas características políticas e geográficas, mas pelas marcas culturais. Essa é uma das propostas do espetáculo Andora Sem Fronteiras, que a Companhia de Dança Andora apresenta gratuitamente, no Teatro Universitário, em Vitória.
Nessa “nova cartografia da cultura popular”, como diz o coordenador do grupo, o professor da Universidade Federal do Estado (Ufes), Antônio Carlos Moraes, uma mistura de manifestações de diferentes lugares do Brasil que guardam semelhanças entre si será apresentada em três atos no espetáculo, que conta com 25 dançarinos.
Foto: Márcio Martins
Na primeira parte, danças ligadas a terreiros, como o jongo ou caxambu do Sudeste, o tambor de crioula do Maranhão e o Lundu paraense. “Como ponto de partida para visualizar semelhanças temos a presença das mulheres com suas saias rodadas, o atabaque no terreiro, as pessoas dançando”, aponta o professor.
Em outro bloco, o Andora apresenta danças ligadas à celebrações de reisado. “Envolvem várias regiões do Brasil, trazem influência portuguesa mas com manutenção do elemento negro, faz analogia com os reis, que estavam presentes em Portugal mas também na cultura africana com suas monarquias. É uma apropriação que o africano faz da cultura portuguesa e toca do jeito deles”. Dentro dessa tradição o grupo apresenta as danças do catopê de Minas Gerais, o maracatu de Pernambuco e o Ticumbi do norte capixaba.
O terceiro ato da companhia trata de um ritmo só em suas diversas vertentes: o samba, abordado no terreiro, no salão e na avenida. Todo espetáculo é acompanhado por música ao vivo tocada pela banda de seis integrantes da companhia.
As danças e elementos da cultura popular abordados são parte da pesquisa do grupo que funciona há quase 11 anos na Ufes. Além da pesquisa acadêmica, o Andora também costuma participar de diversos festivais no Brasil e no mundo, o que permite uma troca direta com grupos e artistas de outras localidades para construir a apresentação que reflete a diversidade cultural brasileira.
Foto: Juliana Lima
“O cortador de cana que sai do Nordeste e vai para São Paulo, o vendedor de charque que sai do Rio Grande do Sul, o mineiro que viaja pelo trem, todos levam seus elementos culturais e vão espalhando pelo Brasil. A ideia do Andora Sem Fronteiras é mostrar que a cultura transcende as fronteiras geográficas e constrói a cultura brasileira”, afirma Antônio Carlos.
De acordo com ele, a proposta é que os espectadores levem do espetáculo o questionamento sobre quem somos, até onde vamos e o que somos. “Temos a visão de que a cultura popular é fruto da sobrevivência do ser humano. Onde há circulação de trabalhadores, de pessoas se deslocando, imigrantes, circulam danças, costumes alimentares, orações, tudo vai nas nossas maletas físicas ou mentais”.
É a identidade que segura a onda nos momento de crise, que permite ter onde e em quem buscar apoio. Não falamos de uma identidade estática, mas dinâmica. Se somos todos refugiados, como sugere o professor, de onde viemos e para onde vamos? O que nos acompanha quando nos refugiamos?
São algumas questões para pensar o Brasil e nossas vidas, que o Andora Sem Fronteiras busca trazer em forma de música e dança.
AGENDA CULTURAL
Espetáculo de dança Andora Sem Fronteiras
Quando: Quarta-feira (7/8), 19h30
Onde: Teatro Universitário – Avenida Fernando Ferrari, Campus da Ufes em Goiabeiras – Vitória/ES.