Ator, professor, escritor, articulador cultural, o baiano Hamilton Borges é uma figura de destaque no movimento negro e integrante do “Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto”, um dos mais importantes na denúncia do genocídio do povo negro no Brasil. É nesta linha que vai sua nova obra literária: O Livro Preto de Ariel. Depois de um livro de poesia e outro de crônicas, Hamilton apostou em seu primeiro romance, que será lançado em Vitória no próximo sábado (10), no Museu Capixaba do Negro (Mucane), no Centro, em evento que ainda terá debate e declamação de poesias.
“Para nós, pretos, há uma dificuldade muito grande em escrever romances por vários motivos, pelo tempo e dedicação que exige, e o dinheiro que não corre em nossas comunidades. Então me dei essa tarefa, que é coletiva da editora, que faz parte de uma organização preta radical”, diz Hamilton. A editora Reaja, projeto autônomo, também contribui com parte das vendas para o movimento social.
O autor define a história como uma fabulação de situações reais que aconteceram em Salvador a respeito da segurança pública e encarceramento em massa do povo negro na Bahia, “O start da obra é situação da invasão de um aglomerado de favelas em 2011 pela polícia, que teve muitas prisões e várias mortes”. Desse momento resulta a prisão de Ariel, personagem principal, um jovem negro como tantos das quebradas do Brasil.
Criado por uma tia, uma mulher negra forte, teve dificuldade com a leitura na adolescência, mas depois encontrou nos livros uma importante companhia. “Ariel é uma herói comunitário”, define o escritor. Sua trajetória no sistema prisional, tanto na cadeia pública como na prisão privada será parte importante do livro.
Hamilton Borges demarca sua literatura como preta, quilombista e de combate, buscando se diferenciar dos conceitos como literatura marginal, que considera feita majoritariamente por pessoas de pele clara, e literatura periférica. “Não fazemos literatura marginal nem periférica, porque somos o centro do problema. Nós fazemos literatura preta”, afirma. “A importância dessa literatura preta é que os homens pretos e mulheres pretas possam fazer uma narrativa sobre sua própria história, contar sua própria história e também fazer disso um negócio. É muito importante para todos nós”.
A agenda de lançamentos do Livro Preto de Ariel em agosto passa ainda por Belo Horizonte, São Paulo e Salvador. Depois segue pelo interior da Bahia e outros estados do Nordeste, antes de embarcar para o Sul do Brasil.
Sobre a situação do país, Hamilton considera que a situação sempre foi delicada para o povo negro em todas conjunturas, mesmo diante dos governos de esquerda. “Estamos numa situação de vulnerabilidade que nos exige uma unidade que seja real, que se paute por um projeto que seja nosso, um projeto de libertação nacional, porque não dá para conviver com esses índices de mortes, encarceramento e adoecimento e achar que com a pauta do outro, de uma esquerda branca que não sabe da vivência que temos, vamos nos livrar disso”.
AGENDA CULTURAL
Lançamento do Livro Preto de Ariel, de Hamilton Borges
Quando: Sábado (10), 15h
Onde: Museu Capixaba do Negro – Verônica da Pas (Mucane)- Avenida República, 121, Centro de Vitória/ES.