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Espero Tua (Re)Volta’, de Eliza Capai, entrará em cartaz no Cine Metrópolis

Em fevereiro, em meio às incertezas sobre as questões políticas e ao futuro do cinema com o recém-empossado governo Jair Bolsonaro, 'Espero Tua (Re)Volta' elevou o nome do Brasil no exterior – e o fez mostrando o lado da resistência. O documentário da cineasta Eliza Capai levou dois prêmios no Festival de Berlim (Berlinale), um dos mais importantes do cinema mundial (Prêmio da Paz e Prêmio Anistia Internacional). A obra teve pré-estreia no Cine Metrópolis nesse sábado (17).

Obra de Eliza Capai recebeu prêmio da Anistia Internacional na 69ª edição do Festival de Berlim. Foto: Divulgação

No dia 20, no mesmo cinema, o filme terá duas sessões especiais seguidas de debates para o público de estudantes, com preço simbólico. A obra entra em cartaz a partir do dia 22 de agosto no Cine Metrópolis, que foi o local onde Eliza revelou ter iniciado sua paixão pela sétima arte em sua adolescência em Vitória. Em paralelo, o filme realiza sua distribuição social por meio da plataforma Taturana, a partir da qual poderá ser exibido gratuitamente por cineclubes, movimentos sociais e outros grupos sem fins de lucro. Já são 28 sessões agendadas nesse modelo em nove estados brasileiro. No mesmo dia 17, o filme será exibido às 18h pelo Cineclube El Caracol, durante a realização do Festival Serra Maestra, no Centro Cultural Eliziário Rangel, na Serra.

Em Espero Tua (Re)Volta, a narrativa é conduzida por três dos estudantes que participaram das ocupações das escolas em 2015 na luta contra a reorganização escolar proposta pelo então governador Geraldo Alckmin e também de outras lutas. São perfis diferentes: Nayara Souza é uma líder estudantil da União da Juventude Socialista (UJS) ligada às entidades que organizam e representam os estudantes. Lucas Penteado, mais conhecido como Koka, é um jovem artista, que participa de slams em que recita poesias sobre a realidade dos negros e das periferias, além de ser ativo nas manifestações. Marcela Jesus é uma jovem negra que milita numa linha mais autonomista, à parte dos partidos e entidades. Ao mesmo tempo em que constroem juntos uma narrativa, também discordam ou apresentam ressalvas em alguns momentos.

As vozes juvenis, na maioria do tempo em off, se intercalam cobertas por fortes imagens registradas por Eliza Capai e equipe, Caio Castor e outros cinegrafistas que trazem um ponto de vista de dentro do movimento protagonizado pelos jovens. 

Os estudantes Marcela Jesus, Nayara Souza e Lucas “Koka” são os protagonistas do filme. Foto: Divulgação

Um registro histórico que mostra a potência despertada a partir das ocupações: momentos de alegria, companheirismo, brincadeiras e composições musicais para ser usadas nos protestos. Mas também muitas tensões e enfrentamentos: com professores e pais, com representantes da Secretaria de Educação e, principalmente com a Polícia Militar, nas escolas e nas ações de fechamento das ruas, gerando traumas em jovens como Marcela. O tensionamento psicológico como estratégia institucional, as agressões físicas a adolescentes, as declarações burocráticas de quem não quer dialogar mas acusa os estudantes de antidemocráticos.

À parte da institucionalidade, é nas escolas politicamente ocupadas que se discute a importância da educação, machismo, racismo, homofobia, que pouco aparecem no currículo mas que afetam cotidianamente os estudantes. Não só se discute como se busca fazer diferente, transforma em ações práticas, como por exemplo, colocar os meninos para cozinhar.

O processo de luta estudantil não é apenas político. É também pedagógico. Transforma profundamente os estudantes que em não muito tempo ocuparão outro lugar na sociedade como adultos.

O filme demarca um tempo que é crucial para pensar o Brasil de hoje. Lembra das manifestações de 2013 e se estende até a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do país (foi finalizado em dezembro do ano passado, às vésperas da posse). Isso é importante pois não começa nem termina na ocupação das escolas, embora estas sejam o tempo-espaço central da obra.

 

Foto: Divulgação

Mas os jovens mostram a plena consciência que a derrubada do projeto de reorganização escolar merece comemoração, mas não representa um fim. Logo vem o escândalo do desvio de recursos das merendas, a PEC do teto de gastos que congela investimentos em educação, e os secundarista tentam se reorganizar. As coisas pareciam estar indo mal, porém, foram vendo que podiam piorar. Agora o País tem um presidente de extrema-direita no poder e se observa, cotidianamente, a graça e a desgraça de ser governados por despreparados (ou não seriam muito bem preparados para o que se propõem?).

“Caralho, como vai ser esse futuro?”, pergunta uma das jovens no documentário, seguida de muitas outras perguntas que instigam a juventude e deveriam preocupar a todos nós. 

Assim, Espero Tua (Re)Volta traz um memorial de um passado muito próximo e potente. A memória, dizem, é um espaço de disputa política. É uma arma que se bem usada aponta para o futuro.

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